O crítico de música americano Alex Ross escreveu em seu livro "Escuta Só" (Cia. das Letras) que nada pode ser pior para uma obra clássica do que ter esse rótulo.
"Clássico", disse ele, "quase sempre lembra coisas velhas e cansativas, afastando o público em potencial".
Para muitos jovens é isso que a palavra significa, principalmente quando ligada à literatura. E piora quando, obrigados pela escola, esses jovens têm de dividir a atenção que dão a jogos, à TV e à internet com romances escritos há cem, 200 anos.
Mas uma onda recente de adaptações de clássicos para quadrinhos --e videogames-- tem mudado o panorama.
Hoje é possível ler "Dom Casmurro", escrito por Machado de Assis em 1899, como uma boa HQ.
Machado, considerado o maior escritor brasileiro, por exemplo, deu trabalho à estudante gaúcha Lidiane Lasta, 16, de Campo Bom (a 46 km de Porto Alegre).
"Achei prolixo, várias páginas para dizer apenas uma coisa", conta a estudante. "Fica perfeito em quadrinhos, sem tantos detalhes que atrapalham a leitura."
Para o roteirista de quadrinhos Raphael Fernandes, 28, a novidade não são as adaptações de literatura para esse formato, mas a sua boa qualidade. "Em geral, elas eram bem ruins, pois tinham texto demais e pouca fluência na linguagem de HQ."
Foi por causa dessa qualidade que o estudante paulista Paulo Fernandes, 20, se apaixonou pela obra de Edgar Allan Poe, mestre do suspense, e se iniciou nos títulos de espionagem de Arthur Conan Doyle, criador do personagem Sherlock Holmes.
"Agora eu queria que fizessem adaptações do José Saramago. Eu gosto dele, mas esse negócio de separar as falas de dois personagens só com uma vírgula me ferve a cabeça", reclama.
NA SALA DE AULA
Aos poucos, essas adaptações têm chegado às salas de aula, inclusive por meio de projetos de leitura patrocinados pelo Ministério da Educação.
Fabricio Waltrick, editor de quadrinhos, acha que "ao tratar o clássico com uma outra linguagem você não está reduzindo a obra, e, sim, ampliando a experiência da leitura dela".
"A meta não é substituir: é reler e chamar para ler. Tem de haver perfeita harmonia entre quem faz o texto e quem faz a arte", explica ele, que tem entre suas adaptações prediletas o quadrinho "O Ateneu", baseado no romance de Raul Pompeia e desenhado pelo quadrinista Marcello Quintanilha.
Além de autores brasileiros, o mercado nacional tem abastecido a demanda de jovens e adolescentes interessados em escritores mais universais.
"Robinson Crusoé", de Daniel Defoe, e "Frankenstein", de Mary Shelley, são alguns dos quadrinhos de maior aceitação pelo público.
Títulos como esses ajudaram o estudante paulistano Leandro Lima, 13, a gostar de livros pelos quais, até conhecer a versão em quadrinhos, tinha uma espécie de "medo". Medo de não entender, de ser difícil de ler ou enfadonho e longe do seu universo cheio de cultura pop.
Mas, tome-se o exemplo de "A Divina Comédia de Dante - Inferno, Purgatório, Paraíso", do americano Seymor Chwast. Publicado no Brasil em 2011, a história é narrada de modo não apenas bem-humorado como, em alguns trechos, como um filme de ação.
Dourando, assim, ainda mais a pílula para quem está acostumado a histórias de super-heróis mais do que a tijolões de mil páginas. Difícil inventar desculpas para não ler clássicos tão fáceis.
Comments
Clássicos nos Quadrinhos!
Muito interessante, que legal unir duas coisas tão boas!
Galera, vocês ficaram mais atraídos pela leitura, não é?
As ilustrações aguçam nossa imaginação e nos encantam?
A linguagem é mais leve e dá pra entender melhor?
Vamos lá, comentem depois de experimentar esta delícia de HQ!!!!!!!!!!!!!