O Departamento de Educação da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, publicou nesta semana um guia de orientação a professores nas redes sociais, chamado Social Media Guidelines. Pelo documento, os docentes não podem se comunicar com os alunos em blogs e sites como Facebook, Twitter, YouTube, Google+ e Flickr.
Caso queiram utilizar sites de relacionamento para fins pedagógicos, devem criar um perfil profissional. A conta deve ser desvinculada do perfil pessoal, inclusive com uso de e-mail alternativo. Qualquer pedido de amizade por parte de alunos na conta pessoal deve ser rejeitado.
Para interagir on-line com estudantes é preciso ainda obter autorização da escola - que deve manter uma lista com as contas de todos os profissionais. O Social Media Guidelines estabelece que as escolas orientem os pais sobre quais atividades os estudantes serão convidados a participar e por que, além de instruí-los a procurar a instituição de ensino caso tenham dúvidas ou reclamações.
O Departamento de Educação diz que o objetivo do guia é assegurar que as redes sociais sejam utilizadas por professores de forma “segura e responsável”. “As redes devem ser como uma sala de aula. Os mesmos padrões esperados no ambiente profissional devem ser também adotados nos sites”, diz o guia.
Outro ponto ressaltado é que os educadores não devem esperar qualquer tipo de privacidade em suas contas profissionais. Isso porque o Departamento de Educação irá monitorá-las para “para proteger a comunidade escolar”.
Comments
E no Brasil
Interessante a iniciativa das escolas de Nova York. E aqui no Brasil, será que essa onda pega? E aí, alunos do ensino médio, você mantém contato com seu professor pelas redes sociais? o que acha disso?
A escola que não educa, mas controla...
Penso que essa medida afasta ainda mais os professores dos educandos...
Além de ter uma interferência na liberdade de escolha dos indivíduos que seram monitorados...
Como sempre "tudo em nome da segurança do coletivo".
Controle dos relacionamentos entre educadores e alunos
Oi, Francielle! Esta matéria que o Lucas trouxe para o portal é muito interessante. Fiquei achando que poderia estar ocorrendo alguma deturpação na noticia - tenho de confessar minha má vontade com a revista "V". Mas, busquei na internet e encontrei o documento original do Departamento de Educação de Nova York. Deixo ao final o link para quem quiser se aprofundar neste diálogo.
O que vejo de positivo no regulamento das redes sociais é a preocupação do Departamento de Educação de N.Y. com o uso responsável das redes para fins educacionais. Neste sentido, eles procuram evidenciar o que são redes sociais e sites de relacionamento e também e o que deve ser entendido como perfil de uso pessoal e perfil de uso profissional e educativo. Os relacionamentos através de redes sociais da internet ainda são uma novidade em nossa época histórica e esses cuidados para não misturarmos as coisas são muito bem vindos, do meu ponto de vista.
Penso que é complicado, contudo, baixar uma regra geral definindo que professor/servidor da educação não pode se relacionar com alunos em perfis pessoais nas redes sociais. Entendo que isso é um limite para a sociedade americana e aí tem um dado cultural e antropológico. Eles são muito heteronormativos por lá. Ou seja, parecem precisar muito mais desses limites externos dos regulamentos para controlar as atitudes e relacionamentos. Nossa sociedade, apesar da aparente confusão, construiu historicamente mais mecanismos de auto-regulação nos relacionamentos (Creio que daí podemos deduzir o chamado "jeitinho brasileiro", por vezes, positivo para resolver problemas, mas também muitas vezes nocivo quando alguém resolve criar sua própria regra em benefício próprio em detrimento dos outros). Enfim, as redes são novidades ainda e nos desafiam a escolher entre a regulamentação externa - que pode não nos ajudar a perceber nossos próprios limites - e a auto-consciência, auto-educação para que possamos testar nossa ética pessoal no relacionamento público. Pela regra do Departamento de Educação de N.Y, um professor deve rejeitar, educadamente, o convite de um estudante para ser seu amigo numa rede social.
Quero dizer com isso que penso que o educador pode ser "amigo" ou "amiga" de estudante numa rede social com perfil pessoal sem que com isso os limites do respeito e da responsabilidade mútua sejam rompidos. Reconheço que é mais fácil manter a distância e o equilíbrio proibindo o encontro, mas também pode ser muito estimulante essa quebra de hierarquias entre os "que ensinam" e os "que aprendem". E o educador também não é aquele que de repente aprende? E, como disse o jagunço Riobaldo, personagem criado por Guimarães Rosa, em "Grande Sertão Veredas": "Viver é perigoso, seu moço!”.
E não é este risco que estamos cometendo aqui no Portal ao trocar experiências, saberes e afetos entre sujeitos aprendentes, ou seja, todos nós?
E vocês, o que pensam sobre isso?
Sigamos em diálogo.
Forte abraço,
Carrano
Acessem o Guia de Mídias Sociais do Departamento de Educação de Nova York (em inglês)
http://schools.nyc.gov/NR/rdonlyres/BCF47CED-604B-4FDD-B752-DC2D81504478...
Quando li o artigo,
Quando li o artigo, pensei imediatamente nos dois lados da questão: primeiro me pareceu normal esse controle, dentro da paranóia de segurança em que está vivendo a sociedade americana. Ao mesmo tempo, me coloco sempre em questionamento sobre a necessidade de criar um perfil profissional para o relacionamento com alunos. Apesar de concordar plenamente com Paulo Carrano quando aponta as diferenças entre a sociedade americana e a nossa no que diz respeito aos nossos relacionamentos, também por isso, temo que falte a ética e limites na utilização das redes que ainda são uma grande novidade para nós.
Nós educadores constantemente lidamos com o desrepeito a regras básicas de conivência dentro da escola. Me lembro sempre de algumas idéias de Roberto Damatta, que dizem respeito ao fato de que, em nossa sociedade, apesar de ideologicamente defendermos a igualdade, não suportamos conviver com ela e o "jeitinho" expressa essa dificuldade.
Construir a democracia "real" na escola, tem que passar pela consciência de que não se trata apenas de liberdade de expressão, mas de assegurar que a responsabilidade possa permear essas formas de interação. Tem sido difícil para nós professores de ensino médio, mas como tal, tenho certeza que estamos aprendendo com as dificuldades atuais, com os alunos e com as novidades. Qual o caminho? acho que encontramos cada dia, porque também faz parte deste momento histórico não termos nenhuma certeza e mesmo assim ir em frente.
Não é assim a nossa experiência no portal?
Consigo entender os dois
Consigo entender os dois lados dessas medidas tomadas, por um lado isso afastaria ainda mais o aluno do professor, mas também iria demarcar que aluno e professor não podem passar dessa conexão. Ou seja, como se houvesse uma linha profissional onde aluno e professor devem estabelecer contato apenas dentro da escola.
Existem diversos casos na internet de professores que possuíam alunos no Facebook e acabaram ouvindo comentários sobre eles mesmos e não gostando, isso tornava a rede do aluno tão restrita que não poderia comentar do seu dia a dia. Mas isso já entra no assunto de ética na internet, já que até mesmo grandes empresas andam observando os perfis de seus funcionarios.
´Tenho também a sensação de
´Tenho também a sensação de que quando se formaliza a relação entre professor e aluno na redes sociais, as coisas perdem a espontaneidade. Mas acho que isso passa por outras questões:
Quais são os limites dessa relação?
professores e alunos podem ser amigos?
ou a relação deve preservar o contato estritamente profissional?
Como professora confesso que nunca fui muito rígida em manter um padrão de relacionamentos. Acho que algumas disciplinas favorecem já uma aproximação maior, onde idéias são discutidas de forma bem mais "abertas" e às vezes até informal.
Temos visto, no entanto, que também alunos ficam "arredios" para estaelecer mais contato com o professor. Para outros, só serve se for para amizade, porque a utilização das redes sociais é para entretenimento.
O que voces acham?