Os professores do Instituto de Educação Clelia Nanci (IECN), em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, finalmente estão sentados nas carteiras dos alunos. Depredadas e de diferentes modelos e tamanhos. No desconfortável lugar diário dos alunos sentam em roda para dar início ao primeiro conselho de classe do ano. É nessa reunião que eles trocam suas opiniões sobre os estudantes e decidem como fazer para melhorar a abordagem em sala de aula.
A primeira atividade da reunião a princípio não faz muito sentido para quem pensa que eles estão lá apenas para lançar as notas e avaliar as turmas. A diretora-adjunta, sentada na única “cadeira de professor” da sala, distribui cópias de um texto que parece retirado de um livro de auto-ajuda. No texto persiste a idéia de que “você tem valor”. Depois da leitura a discussão.
Fica claro que a intenção daquela leitura é afirmar que todos têm o seu valor e que o professor deve saber identificá-lo em cada aluno. Os presentes concordam que isso é dever deles, mas que tem sido difícil fazer os estudantes entenderem seu valor e o valor de seus colegas.
A diretora do turno em questão – o da tarde, Cleuza Leite, afirma que pode ser uma época difícil e que o professor pode estar abalado, mas que não está sozinho.Para ela, tão inseguros quanto os professores estão os alunos, várias vezes discriminadas por estudar em uma escola pública ou por morar em comunidades carentes.
O preconceito dentro do colégio é uma das preocupações dos professores que trabalham no Instituto de Educação Clélia Nanci, escola do Estado do Rio de Janeiro. A professora Márcia Joaquim, que leciona lá escola há 10 anos explica que “além do conteúdo formal que é trabalhado na escola, existe uma série de valores que está junto a isso. A preocupação da escola não é só como eu trabalho conceitos, mas como eu encaminho os problemas.
” A professora há sete anos é uma das coordenadoras do projeto chamado Portal da Consciência, cuja principal finalidade é discutir o tema “Preconceito” com alunos do IECN. Mas a tarefa não é simples. Segundo Márcia, os alunos não assumem ter preconceitos logo que questionados. Para ela, é preciso primeiro identificar que “o preconceito não mora no outro, ele mora em mim”.
Depois de identificar que preconceitos cada um carrega dentro de si, a professora tenta encontrar os porquês. “Como aprendemos isso? Ninguém nasce preconceituoso. Assim como a gente não nasce com valores, a gente não nasce com o preconceito” complementa.
Muitas vezes o que é trabalhado em sala de aula ou dentro da escola são valores que, para muitos professores, deveriam vir de casa, da família. A professora de Biologia do IECN, Eliana Pontes, conta que, muitas vezes, nota a falta de interesse dos pais e da família na formação do jovem.
Eliana afirma que tenta fazer o seu papel, mas que se sente impotente ao ver que não poderá mudar a realidade de seus alunos fora da escola. Para ela, os jovens estão precisando mais do que professores. “Professores acabam adoecendo por ter que resolver muitos problemas de muitas pessoas e sem apoio da escola. O professor tem que ser o psicólogo e o pai do estudante. Falta uma integração maior entre família e escola como também falta psicólogo no colégio.”
E você, aluno, professor? Sente preconceito na escola?