Crônica: se eu pudesse congelar o tempo esse seria o momento ideal

   Se eu pudesse congelar o tempo esse seria o momento ideal! Diante de tantos olhos atentos e de umas risadas calorosas deu se a aula. O focoprincipal era um tanto óbvio a ponto de ninguém perceber. Sabe-se la que horas eram. Se é que o tempo não havia parado! E lá estava eu, sentada na primeira fila, fazendo anotações no caderno conforme a voz prosseguia. Aquele era o momento do dia que eu mais gostava. E nada me parecia melhor do que esta aqui. Nem o ar gélido da sala me incomodava mais. As aulas sempre seguiam uma cronologia divertida e previsivel. Mas nem por isso perdia-se o encanto. O professor entrava na sala e não se ouviam nenhum zumbido derepente viam as risadas abafadas, ele seguia serio até a frente da sala e dava-se começo aos mesmo movimentos: Apoiava os livros em cima da mesa e pegava o apagador. Dirigia-se até a losa e com um sorriso de desistência ele pos-se a apagar as formas familiares. A sala o acompanhava emitindo os mesmos sons... shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii bum! 

—Até quando vocês vão desenhar bombas na losa hein?

Todos riram!    Esse era a brincadeira mais frequente que faziamos no nono ano. E apartir daitodos os anos os meus colegas mais criativos inventavam outras brincadeiras parase “iniciar a aula com bom humor”. Pelo menos era o que eles diziam. E semprecom o mesmo professor o foco de todas as brincadeiras e dono de um excelentebom humor! Professor Bruno de História.Era impressionante como tudo mudava quando ele passava daquela porta. Era como se a vida escolar realmente tivesse sentido e ela se resumi-se naquele simplesmomento. E tudo parecia mais interessante! Ele tinha um jeito próprio de envolveros alunos e conduzia a aula num ritmo diferente. Era inexplicavel o quanto eu mesentia bem naquele ambiente.   Toda aula de historia eu fazia questão de ficar bem na frente. Queria garantirminha visão privilegiada. Queria, de um certo modo, ficar o mais próximo que eupodia dele. Era como num sonho. Eu espera a hora de dormir para poder sonhar... Etodos estavam lá. Do mesmo jeito de antes, até um pouco melhores. Mais velhos acada dia e mais centrado do que antes. As brincadeiras que enchiam a sala dealegria ainda existiam, em menor proporção, na medida que as coisas iam ficandomais serias e os alunos compreendiam que tinha que manter um equilibrio e decidirsuas prioridades.   Eu ainda conseguia enxergar a essência das coisas que ficavam para tras juntocom a melhor fase de minha vida eu podia perceber nos rostos de meus colegas aseriedade que o tempo os atribuia. Eu tinha um certo receio do tempo. Crueltransformador. Me incomodava pensa que um dia o tempo tiraria tudo isso de mim.Todo esse meu mundo de adolescente. E principalmente a razão mais importante daminha presença neste lugar. Bruno! Ele sim parecia o mesmo. O tempo não otransformara tanto. Ele ainda tinha o mesmo penteado caracolado. O mesmo olhar,o mesmo sorriso. E suas aulas ainda me enchiam de satisfação.