Quinta-feira de manhã, véspera de encerramento do ano letivo. Os professores de Educação Física Ronaldo Goldoni e André Levy, do Colégio Estadual Raul Vidal, em Niterói, não estão dando aula, mas na quadra da escola corre solta uma partida de futebol. Ronaldo tem quase 40 anos de experiência como professor da disciplina em escolas públicas e particulares. André já trabalhou também como personal trainer, professor em academia, entre outras atividades, mas há mais de 10 anos é professor da rede pública.
Como já se aproxima das férias, o momento é de recolher trabalhos e fechar as notas dos estudantes. Os professores explicam que durante o ano trabalham em cada semestre com uma modalidade esportiva diferente – futebol, voleibol, basquetebol e handbol. Eles comentam que não é possível oferecer outras modalidades, como a natação, por exemplo, já que a escola não tem piscina.
“Tentamos motivá-los. Alguns alunos estão mais interessados e gostam de fazer aula. Mas muitos, a maioria do sexo feminino, ficam apenas olhando, batendo papo, fofocando. Dizem: ‘ah professor, eu vou suar”, diz o professor André.
Para os professores, a falta de interesse, sobretudo das meninas, está relacionada também com a falta de estrutura do Colégio Raul Vidal e das escolas públicas em geral.
“Eu vejo uma inadequação dos espaços, apesar dos esforços da escola. Temos uma quadra externa, um calor insuportável, se choveu, fica difícil. Os vestiários são apertados, nem tem bancos. A vaidade da adolescente é muito latente. Ela gosta de sair de casa de banho tomado, com a bolsinha dela. Se ela não pode ter isso, ela começa a se afastar, ela vai passar o dia suada?”, comenta o professor Ronaldo.
Os professores reclamam que a Educação Física ainda não é valorizada na escola. Como exemplo, o professor André conta que em outra escola onde trabalha, na rede municipal, a disciplina deixou de valer como peso na reprovação ou aprovação dos estudantes há 15 dias do fim do período letivo.
"A Educação Física é preterida a segundo plano na formação dos alunos", reclamam.
Para André e Ronaldo, o ideal seria que todos os professores, e não somente os de Educação Física, trabalhassem em regime dedicação exclusiva.
"Em outros países o professor pode participar da vida escolar, aqui fica difícil porque o professor trabalha em três, quatro empregos".