Alunos do Ensino Médio em Minas têm que escolher área específica

Opções são Ciências Humanas, Naturais e Exatas. Quem opta por uma delas, pode não estudar disciplinas da outra.

Quem tem interesse em estudar mais História deixa de ter aulas de Química e Física. Já quem quiser se dedicar à Biologia passa a concentrar sua formação nessa área. Esses são apenas alguns exemplos, apresentados de forma simplificada, do que já está sendo aplicado desde o início do ano em todas as escolas de Ensino Médio da Rede Estadual em Minas Gerais. A proposta divide os alunos por área, em Ciências Humanas e Naturais, no segundo ano, e em Humanas, Biológicas e Exatas, no terceiro ano.

Assim como no restante do país, o Ensino Médio é a área mais crítica da educação em Minas. O Índice da Educação Básica (IDEB), espécie de medidor da qualidade da educação, é de 3,5 para essa fase do ensino na rede estadual, número equivalente à média nacional, numa escala que vai de 0 a 10. Mesmo as avaliações da Secretaria de Estado de Educação indicam que a evolução do aprendizado se dá de forma lenta. No Proeb, Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica, que mede conhecimentos em português e matemática, com nota que vai até 500 pontos, os resultados chegam a 274 pontos em português e 282 em matemática.

“Tem progredido, mas muito lentamente, às vezes para de um ano para o outro, às vezes salta, vai caminhando muito lentamente, mais do que a gente gostaria. Mas é que os problemas são de natureza mais complexa do que a gente imagina”, afirma o secretário-adjunto de educação, João Antônio Filocre.

A partir da constatação de que o Ensino Médio ia mal, o estado passou a implantar algumas mudanças. Dentre elas, está a formulação do Currículo Básico Comum (CBC) para cada disciplina. “Todas as escolas estão obrigadas a ensinar o CBC, mas não quer dizer que aquilo é tudo que o aluno deve aprender, na verdade é tudo aquilo que ele não deve deixar de aprender”, explica Filocre.

Segundo o secretário-adjunto, o CBC tem de ocupar metade do Ensino Médio, o restante deve ser ocupado por conteúdos que a escola considerar importantes. O Ensino Médio noturno teve a carga horária reduzida, cada aula passou a ter 40 minutos ao invés de 50. Segundo a secretaria, a medida visa facilitar a vida de quem trabalha e mora em áreas violentas, já que as aulas começam mais tarde e terminam mais cedo. Outra mudança, essa mais polêmica, trata exatamente da divisão por áreas que o aluno deve escolher seguir.
 

Modelo permite que escolas definam parte das disciplinas

No primeiro ano, são ensinadas todas as disciplinas tradicionais. Caso o aluno tenha alcançado rendimento igual ou superior a 70% das notas, ele pode escolher qual área seguir a partir do segundo ano: Ciências Humanas ou Naturais. Caso contrário, a escola decide que área o aluno deve seguir. Já no terceiro ano, as áreas se dividem em três: Humanas, Exatas e Biológicas.

A construção da grade de disciplinas passa por um processo complexo: no segundo ano, as matérias não podem passar de dez, já no terceiro, de nove. Dessa forma, a área de ciências naturais, por exemplo, deve ter obrigatoriamente Português, Matemática, Química, Física e Biologia. O restante da carga horária pode ser preenchido pela escola por outras disciplinas.

Se ainda assim os alunos se sentirem prejudicados em alguma disciplina eles podem solicitar a criação de turmas em outro turno, no início do ano. Segundo o secretário-adjunto, João Antônio Filocre, 40.000 alunos se matricularam em disciplinas em turnos diferentes no ano passado, nas 220 escolas que serviram de teste para o novo modelo.

Para ele, a proposta de dividir em áreas, prepara melhor o aluno em um segmento específico. “Você vê o nível nas avaliações nacionais e internacionais, a nossa juventude sai muito mal, por quê? Porque gasta muito tempo estudando muita coisa superficialmente. É diferente de você pegar uma pessoa que tem uma visão elementar de Física para fazer o mesmo exame de um alemão que estudou Física pra valer”, e completa “nós estamos achando que o melhor para o jovem agora é estudar menos disciplinas, mas estudar mais profundamente”.

Essa opinião não é partilhada pela professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, Nora Krawczyk. Ela acredita que a segmentação enfraquece o ensino das disciplinas, que perderiam conexão entre si.

 “Será que quem opta por exatas ou biológicas não necessita saber línguas estrangeiras, numa época na qual existe cada vez mais a interlocução entre trabalhadores e profissionais de diferentes países e a internacionalização do conhecimento e da informação é um fato consumado? Ou, será que somente os estudantes de humanas tem direito de possuir a capacidade de uma compreensão critica da realidade na qual vive, através do conhecimento da Historia e da Geografia nacional e mundial?”, questiona.
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No dia-a-dia da escola, alunos ficam divididos com a proposta

Espremida entre uma padaria e uma farmácia fica a entrada da Escola Estadual Maria Andrade Resende, que funciona, de forma provisóra, em um shopping de rua na região da Pampulha, em Belo Horizonte.

A escola conta com 27 turmas, divididas em nove salas, nos três turnos. O espaço é bem limitado, a sala da direção e a secretaria se confundem, uma escadaria liga o subsolo, onde funcionam a cantina, biblioteca, quadra e algumas salas de aula, ao primeiro e único andar do prédio, onde fica o restante das salas. No próximo ano, a escola deve mudar de endereço para a sede nova, que está em construção.

Enquanto isso, o colégio trabalha para se adequar às novas medidas do Ensino Médio em Minas Gerais. Desde 2006, ela participa do programa de escolas-referência do estado, e por consequência da divisão do Ensino Médio por áreas.

O diretor da escola, Walton Cardoso, relata que no início houve complicações: “Foi um choque para alunos e pais, tivemos muitas reuniões para explicar o que o governo queria”. Ele acredita que a mudança pode dificultar o acesso dos alunos à universidade, já que os vestibulares não estão em sintonia com o modelo adotado em Minas.

Como a escola não dispõe de espaço suficiente, não é possível a criação de turmas de aprofundamento de estudos em horários alternativos. A solução encontrada foi a implantação de turmas aos sábados para atender alunos que se sentem prejudicados pela falta de algumas disciplinas. Os estudantes confirmam a procura desse reforço, menos nas matérias tradicionais e mais em atividades como informática e espanhol, que não estão no currículo Já em relação a mudança, eles ficam divididos.

A jovem Ana Paula, 16 anos, estudante do 2º ano, da turma de Ciências Naturais, não aprova completamente a mudança. “Eu quero fazer Engenharia Civil no vestibular, acho ruim porque fica sem História e a gente precisa no vestibular, mas também é bom porque aprofunda mais no que a gente quer”, afirma. A colega Kate Almeida, de 16 anos, diz gostar do novo modelo porque “ama” Química, e precisa se aplicar mais em Matemática e Física.

Por outro lado, o jovem Alex Dias, do 3º ano, foi encaminhado para a turma de Ciências Humanas porque não teve bom rendimento no 2º ano. Ele afirma gostar de História e Geografia, mas teme ser prejudicado no vestibular, pois quer tentar uma vaga em Educação Física, que cobra mais conteúdos da área de Biológicas. Camila Aparecida, 15 anos, da turma de Ciências Humanas, também não teve escolha, mas aceitou continuar na área. “Preferi continuar na área de Humanas porque não tem Química, é claro que vou me ferrar no vestibular”, brinca.