Uma carta escrita por uma estudante do ensino público do Rio de Janeiro foi enviada no ano passado à um programa no Rio de Janeiro com o objetivo de conectar pessoas, empresas e o poder público no Estado para mapear problemas e criar soluções na cidade. Junto com a comunidade da escola, eles construíram uma campanha que mobilizou pais e professores em petições, abaixo assinados e pressão feita pessoalmente na Câmara dos Vereadores e na Assembléia Legislativa (onde a grande maioria deles nunca tinha entrado antes); as crianças também participaram da campanha, aplicando seus conhecimentos aprendidos em aula a um problema prático com o qual todos estavam emocionalmente engajados: a salvação de sua escola.
Segue trecho da carta:
“Meu nome é Beatriz Ehlers, tenho 11 anos, e quando crescer eu quero ser arquiteta. Eu estudo na Escola Municipal Friedenreich, que é a 4ª melhor escola do Rio mas o Governo quer demolir ela e construir uma quadra para o Maracanã. Eu amo a minha escola e todos os alunos, professores e pais também amam ela! Foi aqui que eu aprendi a ler, escrever, usar computador, filmar e editar vídeos e principalmente a respeitar as outras pessoas. Nossa escola é diferente, é um exemplo! Nós pedimos a todos os cariocas e todas as escolas do Rio que assinem a carta de apoio e nos ajudem a impedir que a nossa escola seja demolida.(…)”
No começo de 2013 o prefeito Eduardo Paes prometeu adiar em um ano a demolição da escola e, finalmente, essa semana(8-ago/2013), a secretária municipal de educação Claudia Constin anunciou no twitter que o governador Sérgio Cabral suspendeu a obra e garantiu que a escola permaneceria de pé. A Campanha do Meu Rio segue ativa na cobrança de um comunicado oficial (você pode se engajar aqui) e, enquanto isso, a comunidade está De Guarda para garantir a vigilância coletiva da escola.
Esse é mais um caso de cidade que foi hackeada. Quebrou-se com a lógica de que existe apenas uma maneira de fazer as coisas, criando meios para que mais gente participe das decisões moldam as cidades. Foi isso que a estudante Beatriz, a comunidade da escola Friedenreich e a equipe do Meu Rio fizeram. E comprovaram de maneira prática as palavras da talentosa co-fundadora do Meu Rio, Alessandra Orofino: “democracia não é um substantivo, mas um verbo, temos que agir sobre ela e com ela para que a cidade, ao mudar, se torne um lugar melhor para vivermos”.
O caso da escola Friendenreich levanta ainda questões que começam a desenhar uma nova lógica de educação. Nas escolas moldadas pela Revolução Industrial, as salas são divididas por idades, as disciplinas fragmentadas em aulas e os assuntos ensinados raramente têm conexão com a vida prática das crianças. Mas essa maneira de ensinar está ultrapassada. Aliás, segundo o educador José Pacheco, que veio da Escola da Ponte, em Portugal, para participar do Projeto Âncora, no Brasil, “não há nenhum fundamento científico na literatura da educação para que existam aulas”. Por trás dessa afirmação está o desenvolvimento de novas lógicas do processo que deveria ser uma delícia: aprender. Talvez uma aula seja mesmo menos interessante em termos de aprendizagem do que um grupo de pessoas unidos por uma dúvida em comum ao lado de um tutor em busca de uma resposta – uma das propostas de Pacheco como metodologia. Todo o processo vivido pela comunidade dentro e fora das salas de aula pode ser chamado de educação, no seu conceito mais amplo.
E você, o que achou da iniciativa da estudante Beatriz? E com relação as aulas da sua escola, você também acha que a escola pode ser divertida?
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carta
É simplismente emocionante,ler o trecho desta carta e poder refletir a respeito do ensino,na cidade em que vivemos e sobretudo do amor pela escola, que sentem seus alunos...