Procedimentos de Ensino e Integração

Para a construção do ensino integrado, compreendido como projeto de educação que busca integrar teoria e prática, saberes e fazeres, várias são as possibilidades de estratégias de ensino e nenhuma delas pode ser descartada a priori, seja por razões ideológicas ou por uma possível impossibilidade de eficácia, sendo assim, cada procedimento de ensino, enquanto meio, poder servir mais ou menos para o desenvolvimento de práticas integradoras.

Aulas expositivas, estudo do meio, jogos didáticos, visitas técnicas Integradas, seminários, estudo dirigido, oficinas e várias outras estratégias de ensino e aprendizado podem servir tanto para projetos conservadores, tradicionais, conformadores das capacidades humanas, quanto para projetos libertários, comprometidos com a ampliação das capacidades humanas.
Neste texto destacamos apenas a aula expositiva dialogada, procurando vê-la em seu potencial de desenvolvimento da capacidade de visão de conjunto dos jovens estudantes de ensino médio e técnico. E outras oportunidades destacaremos outras estratégias de ensino compreendidas na perspectiva da integração.
A aula expositiva dialogada
As aulas expositivas têm validade reconhecida para a introdução de conteúdos, para a sintetização de assuntos, para a apresentação e esclarecimentos de conceitos básicos e para a conclusão de estudos. A literatura também reconhece três etapas básicas: introdução, desenvolvimento e conclusão. Seu uso, entretanto, tem sido compreendido associado a um modo acrítico de ação docente.
Segundo Saviani (2007), na década de 1930, a aula expositiva era a técnica de ensino padrão da Pedagogia Tradicional. Na década de 1970, sob a hegemonia do tecnicismo educacional, foram definidas habilidades técnicas necessárias ao professor para o exercício da aula. A partir dos anos 1980, sob uma perspectiva crítica, emerge com força discussão da relação da escola com a realidade social, deixando em segundo plano os debates pedagógicos sobre técnicas de ensino que, contemplando também a aula expositiva, passaram a ser entendidos também em seu conteúdo político, como meio para a conformação ou para a transformação social.
Lopes (1991), ao abordar a aula expositiva como técnica de ensino, problematiza a ideia de que esta estratégia tenha uso exclusivo na pedagogia tradicional e que esteja impossibilitada de produzir uma aprendizagem duradoura. Para esta autora, a aula expositiva pode ser transformada, orientada por uma perspectiva crítica esta técnica deixa de ter sua centralidade na ação docente e o diálogo passaria a ser sua característica principal, tornando-se, assim, um instrumento eficiente da ação docente crítica, relacionando-se à necessidade de desenvolvimento da autonomia dos alunos, dando uma dimensão dialógica ao espaço de sala de aula e contribuindo não apenas para o repasse de conteúdos, mas também de sua reelaboração, inclusive coletivamente.
De acordo com Veiga (1991a), em que pese o fato de a aula expositiva ter sua origem assentada na Pedagogia Tradicional e ao longo do tempo prevalecer um uso mecânico, autoritário e monótono, aumentando a distância entre o aluno, professor e o meio onde vivem, temos na mesma a expressão de uma técnica que nunca foi excluída da prática pedagógica em nossas escolas e que tem sido resignificada. Portanto, cabe a defesa de sua utilização sob uma perspectiva crítica, caracterizada em uma aula expositiva dialógica, capaz de estimular os alunos reelaborarem os conhecimentos e, com isso, promoverem a sua autonomia.
Segundo Lopes (1991) a aula expositiva pode contribuir não apenas para a tentativa de “repasse” dos conteúdos previamente definidos, mas também para a aquisição, a reelaboração e a construção dos saberes pelos estudantes.
A aula dialógica pode servir ao projeto de ensino integrado se nela for mantido o foco na necessária interligação parte-todo e se os diálogos foram problematizadores e motivadores de ação cognitiva dos discentes.

Obs.Excerto do texto “PROBLEMATIZAÇÃO, TRABALHO COOPERATIVO E AUTO ORGANIZAÇÃO: possibilidades de procedimentos de ensino integrado”, de autoria de Ronaldo Araujo e Maria Auxiliadora Araujo.

 

Autor: Dr. Ronaldo Marcos de Lima Araujo - UFPA