Por uma didática da Literatura mais aprazível

A Literatura está em perigo, diz Todorov, principalmente nas escolas e por mais que os jovens estejam lendo um pouquinho mais graças ao Harry Potter e ao casal Bella e Edward, as boas obras que cumprem o papel de ser boa Literatura estão esquecidas nas prateleiras. Fazê-las mais atrativas como são os best-seller é complicado, principalmente com as instituições escolares colocando-a cada vez mais em segundo plano, mas tentar nunca é demais.

Fico pensando como isso poderia ser feito e inconscientemente me remeto aos tempos que ler era um sacrifício que eu fazia para tirar notas boas na minha matéria preferida: Português (e consequentemente Literatura, já que as duas matérias eram a mesma).
Não por falta de incentivo, pois minha mãe sempre quis que eu fosse uma leitora voraz, no colégio eu achava que ler era chato e somente o fazia por obrigação. Hoje eu percebo que essa minha visão tem causa, infelizmente, em como a Literatura me era apresentada no colégio, ainda no Ensino Fundamental.

Assim, responder a um questionário sobre livros como “Senhora” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas” em que eu tinha que recolher informações como clímax, protagonista, antagonista, cenário, tempo, foco narrativo, etc na antiga quinta-série era difícil para mim, e mesmo assim eu me lembro de ler Senhora curiosa e ansiosa com o final, mas eu não gostava de ter que responder ao questionário. O foco não era a estória, não era o conteúdo, eu tinha que ficar focalizando minha leitura na estrutura e isso não me fazia gostar de Literatura.

É exatamente como Todorov diz: “O conhecimento da literatura não é um fim em si, mas uma das vias régias que conduzem à realização pessoal de cada um. O caminho tomado atualmente pelo ensino literário, que dá as costas a esse horizonte (“nesta semana estudamos metonímia, semana que vem passaremos à personificação”), arrisca-se a nos conduzir a um impasse – sem falar que dificilmente poderá ter como consequência o amor pela literatura”.

Ele define o perigo pelo qual passei e pelo qual passam milhões de jovens pelo Brasil. Felizmente eu superei essa “didática” pouco aprazível da Literatura a amando e hoje estou acabando de cursar Letras/Literaturas na UFF, mas tenho como objetivo ser uma professora preocupada em desenvolver maneiras mais prazerosas e que possam despertar o amor pela Literatura nos meus futuros alunos.

Referência: TODOROV, Tzvetan.  A Literatura em perigo. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: Difel, 2009.

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Comments

imagem de Felipe Gonçalves Figueira

ótimo texto!

Um pouco de experiência pessoal, um pouco de análise da situação da educação no Brasil! Ficou um texto instigante e muito bem composto! Parabéns e obrigado pela "provocação"! Beijos

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imagem de Nilma Gonçalves Lacerda

Pão na mesa

A Literatura tem que ser como pão na mesa de todos, para usar uma metáfora alimentícia. E a Educação tem que encontrar formas de fazer deste pão uma presença cotidiana. 

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imagem de Tatiana da Costa Velho e Carvalho

experiência

Olha, quanto mais eu leio sobre as diversas experiências vividas pelos meus colegas no período escolar, mais eu fico surpresa ao notar que o meu ensino de literatura sempre foi algo leve e criativo! Nós éramos estimulados a trabalhar a literatura em diversas plataformas e trabalhar em discussões em grupo. Nem sempre é possível agradar a toda turma, mas tenho certeza de que vale a tentativa! Boa sorte. :)

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imagem de Selva América

Senhor dos anéis, harry potter e cia

Oi pessoal,

É, faz muito sentido que os jovens escolham livros com os quais se identifiquem. Como educadora, fico muito feliz quando vejo meus educandos encarando essas literaturas juvenis, que além de serem muito densas e volumosas, são histórias muito complexas, cheias de elementos que "pegam" os jovens. Na minha juvenil idade, lembro-me de ter ficado vidrada com os livros do Marcos Rey, tipo o  "Mistério dos 5 estrelas",  e que é um livrinho fininho...

Acho que o mais importante é que a juventude leia mais, tome gosto pela leitura e logo logo, sozinhos, acredito,  eles acabam chegando nos clássicos e por um caminho natural.

Um abraço!

 

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