Por uma aprendizagem com prazer. Escolas de Curitiba investem recursos próprios em espaços de leitura que extrapolam as paredes da sala de aula e garantem: postura dos alunos é melhor quando há diversão

O diretor Marcos Antônio da Silva estava de férias na praia quando, ao ver um vendedor de redes, teve uma ideia que aproximaria a leitura dos mais de dois mil alunos da Escola Estadual Brasílio Vicente de Castro, na Cidade Industrial de Curitiba. “Tínhamos uma área de mil metros quadrados ociosa, não podíamos construir ou mexer, por causa das árvores que estão ali. Foi aí que pensei em pendurar redes e criar um espaço agradável.” Com verba da Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF), Silva comprou 40 redes a R$ 22 cada e contratou pedreiros para instalarem o redário de leitura.

Tornar mais atrativo o conhecimento presente nos livros é um dos grandes desafios das escolas na era da internet e das tecnologias avançadas. Para driblar a falta de interesse dos alunos, algumas investem os poucos recursos próprios em espaços de aprendizado além das salas de aula. E a iniciativa costuma dar resultado. “Alguns ainda têm dificuldade de escrita, mas é perceptível o maior interesse pela leitura. A bibliotecária disse que os empréstimos aumentaram, e alguns livros já têm fila de espera”, conta a professora de Português do 6º ano da Escola Brasílio, Rosângela do Rocio Borges.

Marcos da Silva recorda que o redário pode ser utilizado por qualquer professor que deseje fazer uma discussão diferente. “Além das aulas, já fizemos uma noite de contação de histórias, com fogueira e pinhão assado.” Os alunos garantem: o gosto pela leitura é maior depois das redes. “Gosto de livros de suspense. Ler ensina a gente a não errar nas palavras, saber o significado”, defende Victor Taborda de Andrade, 11 anos. “Ler na rede é mordomia!”, resume o colega Ryan Lucas, da mesma idade, que prefere os gibis da Turma da Mônica.

Experiência parecida de estímulo à leitura ganhou vida há menos de um mês na Escola Municipal Ayrton Senna da Silva, localizada no Jardim Acrópole. A diretora Wilza Bueno de Oliveira de Jesus recorda que o sonho de tornar útil um espaço abandonado surgiu mais de um ano antes. “Vez ou outra, um professor fazia algum projeto ambiental, uma horta, mas na maioria das vezes acumulava mato, era bem complicado.”

Depois de muitas reuniões de professores, surgiu a ideia de construir um bosque de leitura em torno do pessegueiro plantado no local. “Uma projetista pensou o espaço, que ficou orçado em R$ 7 mil. Buscamos parcerias, mas não é fácil conseguir. Então, fomos diminuindo o projeto, até chegar em R$ 5 mil.” O dinheiro, lembra Wilza, foi arrecadado em festas juninas e bazares de roupas usadas, ao longo de anos.

No bosque de leitura, as 587 crianças de 1º a 5º ano colhem os livros, pendurados no pessegueiro por ganchinhos, e sentam-se em mesas de madeira com banquinhos de troncos de árvore. Também há o momento de contação de histórias, feito por uma professora caracterizada. “É um sonho realizado! As crianças estão encantadas. Tanto que são elas que fazem as pequenas manutenções, como regar as plantinhas.”

Antes da sala, jogos ensinam conceitos

Transformar abstrações matemáticas em material concreto é a proposta de um laboratório de jogos construído há dois anos na Escola Municipal Albert Schweitzer, que atende 950 alunos das séries finais do ensino fundamental, na vila Nossa Senhora da Luz, na Cidade Industrial de Curitiba. Equipada com um projetor, para que os professores expliquem a história e os detalhes de um tema matemático, a sala é a última de quatro ambientes interativos de conhecimento da escola. O primeiro, criado há quatro anos, foi o laboratório de ciências – “menina dos olhos” da diretora Elaine Fanini Meduna –, seguido dos laboratórios de história e geografia e de inglês. “Eles chegam com as técnicas, mas deficientes em conceitos”, explica a professora de matemática Rosania Kasdorf Rogalsky. Para mudar essa realidade, antes de partir para a teoria, os professores da disciplina recorrem aos jogos.

Temas como frações são explicados em discos e tabletes de madeira, e a tabuada é ensinada em jogos de bingo. Sem poder usar papel, todas as operações são feitas no ábaco. “É um estímulo para a teoria depois, eles adoram”, afirma o professor Paulo Roberto Bezerra. “É mais fácil aprender aqui. Gosto da parte dos slides, é interessante, explica bem”, diz a aluna da 8ª série Victória Maria de Oliveira, 13 anos.

A construção da sala só foi possível, segundo Elaine Meduna, graças a uma parceria da escola com uma empresa privada, que doou R$ 15 mil. “Eles quiseram ver o projeto, saber o que íamos comprar. Mas gastamos mais R$ 5 mil de recursos da verba de descentralização.” O investimento mostra resultados no desempenho dos alunos. “Vimos que o índice de estudantes abaixo da média no primeiro trimestre diminuiu. Temos poucos com notas baixíssimas. Acreditamos que o índice de retenção vai baixar”, comemora a diretora.

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