O zine está perdendo aquela imagem marginal que sempre o acompanhou. Aos poucos, está deixando de ser "a revistinha da turma" ou "jornalzinho punk" e
sendo encarado com mais seriedade.
Uma das conquistas é ele ser reconhecido como uma ferramenta pedagógica por educadores e professores e, a cada dia que passa, mais relatos de experiências envolvendo os zines são apresentados para o público, geralmente em forma de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) ou artigos para eventos e seminários de Educação. Porém, ainda são poucas as publicações em formato de livro.
Renato Donisete é um dos zineiros mais ativos e o seu Aviso Final é um dos zines mais antigos em circulação no país, com mais de duas décadas. Alheio às redes sociais e à badalação do mundo virtual, utiliza a internet apenas para divulgar o lançamento de seus zines e eventos de amigos em seu Fotolog. Isso não representa um repúdio ou resistência, mas porque a vida de professor de escola pública não permite ficar muito tempo se divertindo em frente ao computador.
O professor de Educação Física iniciou o trabalho com zine com as turmas do Ciclo II na
EMEF Presidente Campos Salles em 2008, quando a proposta pedagógica inovadora baseada na
Escola da Ponte[1] passou a ser aplicada na escola localizada no bairro de Heliópolis (a maior favela de São Paulo) e foi desenvolvida até 2013, quando foi transferido para outra unidade.
Com o Cadernos de Estudos de Educação Física desenvolveu diversas propostas que envolvia a área de esportes, cuidados com o corpo e condicionamento físico, em um trabalho interdisciplinar com outras matérias, como História e Geografia. “Eu me utilizei deste formato fanzine para tratar questões pertinentes a comunidade escolar inserida, onde o movimento humano tenha sentido e significado”, diz o professor.
O relato dessa experiência acaba de ser lançado em formato de livro. Fanzine na Educação: algumas experiências em sala de aula explica como foi possível desenvolver o trabalho de pesquisa, leitura e escrita em uma disciplina que geralmente é vista como "lazer" ou mesmo para "domar" os alunos mais indisciplinados. Nessa publicação, lançada pela editora
Marca de Fantasia, Donisete quebra esse preconceito e os paradigmas cristalizados pelos professores de escolas públicas, juntado duas paixões do autor: a docência e os zines.
A publicação acaba de sair do forno e, como é tradicional na Marca de Fantasia, foi produzida, impressa, montada, costurada por Henrique Magalhães, que vai lançá-la oficialmente na
Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, nesta semana na USP, em São Paulo. Acesse a programação completa do evento
aqui.
O fanzinato está em festa por mais um registro histórico, que contribui significativamente para registrar a histórias dos zines no Brasil e (por que não?) para a Educação. Que venham mais!
Fanzine na Educação: algumas experiências em sala de aula
Renato Donisete Pinto
Série Quiosque, 29.
João Pessoa: Marca de Fantasia: 2013. 56p. 13x19cm. R$12,00.
ISBN 978-85-7999-083-0
[1] A Escola Básica da Ponte (em Porto, Portugal) é uma escola com práticas educativas que se afastam do modelo tradicional. (…) A sua estrutura organizativa, desde o espaço, ao tempo e ao modo de aprender exige uma maior participação dos alunos tendo como intencionalidade a participação efetiva destes em conjunto com os orientadores educativos, no planeamento das atividades, na sua aprendizagem e na avaliação. Não existem salas de aula, no sentido tradicional, mas sim espaços de trabalho, onde são disponibilizados diversos recursos, como: livros, dicionários, gramáticas, internet, vídeos… ou seja, várias fontes de conhecimento. (Fonte: http://www.escoladaponte.pt/ponte/projeto)
Habitualmente ligado a uma produção artística marginalizada, o fanzine perde seu status de ser meramente um punk-sujo para ser utilizado como uma potente ferramente de ensino.