Ao assistir este documentário (via youtube ;-) resolvi fazer este post, pois acredito que várias pessoas desejem intimamente fazer o que eu e minha companheira fizemos, mas ainda falta aquele empurrão inicial.
Antes de contar o milagre, conto os meus pecados. Fui um telemaníaco desde a infância, assistia muita televisão e acredito que a TV tenha sido um dos principais formadores de minha subjetividade. Graças ao destino, pude também ser criado em uma cidade muito pequena do interior de Minas, onde a porta da minha casa vivia destrancada, onde pude conviver com rica cultura popular tradicional, e só para exemplificar a tamanha liberdade que cercou minha infância, um dos meus passatempos preferidos era, junto com os meus amigos, realizar a proeza de nadar nas águas claras do córrego Nossa Senhora na parte da manhã, distante dois quilômetros da cidade, e na parte da tarde nadar nas águas clorificadas da piscina do clube municipal.
Os livros também estiveram bastante presentes na minha vida, tendo minha mãe como alfabetizadora da escola pública municipal e três irmãs em idades diferentes, não posso reclamar do contato, desde muito cedo com a literatura, os quadrinhos, as enciclopédias, os vaga-lumes e as revistas dominicais.
Mesmo assim, a televisão se materializava como o principal eletrodoméstico da casa, de primeiro (como se diz no interior) preto e branca e única na sala de televisão, para em seguida se transmutar em cores em número e em canais estando presente também nos quartos de dormir, e em alguns casos até mesmo na cozinha.
Tamanha influência me levou a estudar comunicação social e a desejar seguir a carreira de produtor de programas para televisão. Mais uma ironia do destino, durante a época da faculdade fui atravessado por uma revolução nos meios de comunicação e seduzido pelas possibilidades sócio-interacionais muito mais distribuídas e democráticas que a internet apontava. Comecei a trabalhar com criação de sites em 1997, por influência de um colega mais antenado, e só hoje, dezesseis anos depois, posso perceber que era o início de uma mudança nos meios de comunicação de massa que ainda está acontecendo e tem muito para acontecer.
O contato próximo com a internet me fez acreditar que o formato da televisão estava totalmente ultrapassado. Antes de abandonar este hábito, ou vício, frequentemente me questionava porque eu tinha que assistir a um jornal tão manipulador ou violento, porque me deparar no domingo com “atrações” tão vulgares e humilhantes, porque conviver com todo este lixo diariamente.
Então foi assim, que ao fazer a lista dos eletrodomésticos que teríamos que comprar ao juntarmos nossas trouxinhas, eu e minha companheira decidimos por não incluir a televisão na lista.
Em um primeiro momento a vida sem TV pode parecer um tédio, ou uma alienação, tamanho é o condicionamento de nossa sociedade diante da TV. Chega ao cúmulo de termos que contratar o serviço básico de TV por assinatura apenas para termos um pacote de internet e telefone mais baratos. Mas a vida desassociada da TV é ótima, pois permite mais conversas, mais ócio, mais contemplação, menos informação enlatada e menos relógio controlando o tempo, menos poluição visual e sonora. A tecnologia hoje permite que possamos ver filmes, documentários, jogos sem precisar estar ligado na televisão. E, você acaba percebendo a inutilidade deste modelo, quando está em uma roda de amigos e alguém fala: - Nossa, tal cantor famoso morreu... e você descobre que a fatalidade aconteceu há pelo menos três dias, e que na real, não fez nenhuma diferença na vida saber da notícia na hora ou tempos depois.
Comments
Relativizar?
Assisti ao documentário e, como era esperado, não me surpreendi com os abusos cometidos pelas emissoras de TV brasileiras. Contudo, chamo a atenção para algo que pode passar despercebido por quem o assiste: o olhar colonizador de quem o produz. Os valores europeus não são os mesmos que temos aqui, logo, um europeu vir para o Brasil e dizer o que é certo ou errado não é o tipo de ação crítica que espero de quem se autointitula crítico. Que fique claro que não estou defendendo os abusos que ocorrem diariamente na TV nacional - que são condenáveis -, estou apenas destacando que isso é um assunto que devemos superar de outra forma que não seja recebendo lições de "civilidade" de indivíduos "superiores". Desrespeito aos direitos humanos ou outros direitos não é exclusividade da mídia brasileira, basta lembrarmos dos escândalos que já ocorreram com a mídia inglesa - apesar de ser considerada referência no mundo ocidental em alguns setores.
Abraços!