Como eu desliguei a TV há três anos e nunca mais liguei

Ao assistir este documentário (via youtube ;-) resolvi fazer este post, pois acredito que várias pessoas desejem intimamente fazer o que eu e minha companheira fizemos, mas ainda falta aquele empurrão inicial.

Antes de contar o milagre, conto os meus pecados. Fui um telemaníaco desde a infância, assistia muita televisão e acredito que a TV tenha sido um dos principais formadores de minha subjetividade. Graças ao destino, pude também ser criado em uma cidade muito pequena do interior de Minas, onde a porta da minha casa vivia destrancada, onde pude conviver com rica cultura popular tradicional, e só para exemplificar a tamanha liberdade que cercou minha infância, um dos meus passatempos preferidos era, junto com os meus amigos, realizar a proeza de nadar nas águas claras do córrego Nossa Senhora na parte da manhã, distante dois quilômetros da cidade, e na parte da tarde nadar nas águas clorificadas da piscina do clube municipal.

Os livros também estiveram bastante presentes na minha vida, tendo minha mãe como alfabetizadora da escola pública municipal e três irmãs em idades diferentes, não posso reclamar do contato, desde muito cedo com a literatura, os quadrinhos, as enciclopédias, os vaga-lumes e as revistas dominicais.

Mesmo assim, a televisão se materializava como o principal eletrodoméstico da casa, de primeiro (como se diz no interior) preto e branca e única na sala de televisão, para em seguida se transmutar em cores em número e em canais estando presente também nos quartos de dormir, e em alguns casos até mesmo na cozinha.  

Tamanha influência me levou a estudar comunicação social e a desejar seguir a carreira de produtor de programas para televisão. Mais uma ironia do destino, durante a época da faculdade fui atravessado por uma revolução nos meios de comunicação e seduzido pelas possibilidades sócio-interacionais muito mais distribuídas e democráticas que a internet apontava. Comecei a trabalhar com criação de sites em 1997, por influência de um colega mais antenado, e só hoje, dezesseis anos depois, posso perceber que era o início de uma mudança nos meios de comunicação de massa que ainda está acontecendo e tem muito para acontecer.

O contato próximo com a internet me fez acreditar que o formato da televisão estava totalmente ultrapassado. Antes de abandonar este hábito, ou vício, frequentemente me questionava porque eu tinha que assistir a um jornal tão manipulador ou violento, porque me deparar no domingo com “atrações” tão vulgares e humilhantes, porque conviver com todo este lixo diariamente.

Então foi assim, que ao fazer a lista dos eletrodomésticos que teríamos que comprar ao juntarmos nossas trouxinhas, eu e minha companheira decidimos por não incluir a televisão na lista.

Em um primeiro momento a vida sem TV pode parecer um tédio, ou uma alienação, tamanho é o condicionamento de nossa sociedade diante da TV. Chega ao cúmulo de termos que contratar o serviço básico de TV por assinatura apenas para termos um pacote de internet e telefone mais baratos. Mas a vida desassociada da TV é ótima, pois permite mais conversas, mais ócio, mais contemplação, menos informação enlatada e menos relógio controlando o tempo, menos poluição visual e sonora. A tecnologia hoje permite que possamos ver filmes, documentários, jogos sem precisar estar ligado na  televisão. E, você acaba percebendo a inutilidade deste modelo, quando está em uma roda de amigos e alguém fala: - Nossa, tal cantor famoso morreu... e você descobre que a fatalidade aconteceu há pelo menos três dias, e que na real, não fez nenhuma diferença na vida saber da notícia na hora ou tempos depois.

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imagem de Márcio Kleber Morais Pessoa

Relativizar?

Assisti ao documentário e, como era esperado, não me surpreendi com os abusos cometidos pelas emissoras de TV brasileiras. Contudo, chamo a atenção para algo que pode passar despercebido por quem o assiste: o olhar colonizador de quem o produz. Os valores europeus não são os mesmos que temos aqui, logo, um europeu vir para o Brasil e dizer o que é certo ou errado não é o tipo de ação crítica que espero de quem se autointitula crítico. Que fique claro que não estou defendendo os abusos que ocorrem diariamente na TV nacional - que são condenáveis -, estou apenas destacando que isso é um assunto que devemos superar de outra forma que não seja recebendo lições de "civilidade" de indivíduos "superiores". Desrespeito aos direitos humanos ou outros direitos não é exclusividade da mídia brasileira, basta lembrarmos dos escândalos que já ocorreram com a mídia inglesa - apesar de ser considerada referência no mundo ocidental em alguns setores.

 

Abraços!

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