No enorme refeitório do Instituto Educacional Clélia Nanci, em São Gonçalo (RJ), existe uma novidade: uma leitora de cartões, instalada e ligada, mas que nunca foi usada. Esta pequena máquina de aproximadamente 20 cm2 tem gerado grandes discussões nos colégios do Estado do Rio de Janeiro.
Instalado no início do ano, o aparelho obrigará os alunos a se identificarem com cartões magnéticos para que possam receber as refeições. Atualmente, a verba para refeições recebida é de 32 centavos por cada aluno matriculado. Como os professores não entram nessa conta e não receberão os cartões, não poderão mais fazer refeições nas escolas nas quais lecionam, mesmo que trabalhem o dia inteiro na instituição.
Os cartões de identificação também deverão ser usados para marcar as presenças em sala de aula e conseguir entrada nos ônibus. Além das máquinas leitoras de cartão que serão instaladas em cada sala de aula e nos refeitórios, as escolas do Estado do Rio de Janeiro já estão recebendo dois aparelhos de ar condicionado, uma caixa de som, microfones e um computador para cada sala de aula. Foram distribuídos também notebooks para os professores.
A Secretária de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Tereza Porto, explica a função das leitoras de cartões: “Ao entrar na sala, o aluno passa o cartão pela leitora e sua ficha se abre para o professor, que pode registrar no sistema informações sobre sua trajetória escolar (notas, frequência, desempenho, comportamento em aula etc.). Essas informações podem ser compartilhadas em tempo real com a direção da escola, com o coordenador pedagógico e com os demais professores”.
Professores recebem notebooks, mas acham que essa não é a solução
Para a secretária, a inclusão digital deve se iniciar pelo professor. Tereza Porto contou que todos os professores regentes receberam notebooks com conexão em banda larga à internet. Ao todo, foram distribuídos 50 mil equipamentos.
Na sala dos professores do colégio um boletim do sindicato dos professores pendurado no mural faz críticas às políticas da Secretaria de Educação do Governo do Estado (Seeduc). Para professores e coordenadores entrevistados, a secretaria parece se voltar para questões de infra-estrutura e tecnologia, deixando de lado questões pedagógicas importantes.
O professor de artes comenta que de nada adianta ter um computador em sala enquanto as cadeiras são ruins e os professores ganham mal, precisando se dedicar a várias instituições ao mesmo tempo. O professor afirma que as novas instalações foram feitas sem levar em conta a necessidade de cada escola. Entretanto, a Seeduc diz que todas as unidades da rede estadual estão sendo visitadas por equipes do setor de Infra-Estrutura da secretaria, visando reformas e melhorias.
Enquanto isso, algumas necessidades básicas dos alunos não são atendidas. Segundo a escola, papel higiênico, por exemplo, não é garantido pelo estado.
As notas não podem ser lançadas no sistema
O sistema informatizado de contagem de carga horária e lançamento de notas dos alunos do Estado também é motivo de dor de cabeça para as diretoras. O Sistema de Gestão Escolar, mais conhecido pela sigla SGE, está fora do ar desde o final de 2008. Sem o SGE as notas estão sendo lançadas de forma descentralizada, não permitindo um acompanhamento dos alunos e das instituições.
Procurada pela equipe do portal, a Secretaria de Educação afirmou que isto ocorre por conta da implantação de um novo sistema, que será integrado com o novo acompanhamento do aluno dentro de sala de aula (cartão de presença, etc), porém não deu um prazo para que o novo sistema seja implantado.
Essa reportagem foi feita no Instituto de Educação Clélia Nanci, em São Gonçalo (RJ). E na sua escola, existem propostas para usar novas tecnologias?