Jovens feministas presentes

jovens_feministas.jpgDepois de quase oito anos de encontros, o Fórum Cone Sul de Mulheres Jovens Políticas – Espaço Brasil faz sua primeira publicação. Para nós da Fundação Fredrich Ebert e da Ação Educativa, é uma satisfação enorme ter podido colaborar para a divulgação das ideias e bandeiras das várias jovens que participam, desde 2002, deste espaço, também conhecido como Forito.
Trata-se de uma publicação inédita e ao mesmo tempo estratégica. Afinal, no Brasil, o debate público sobre juventude ainda é permeado por uma perspectiva androcêntrica, na qual as jovens são invisibilizadas. Como resultado, verifica-se que no campo das políticas públicas são escassas as ações que incorporam questões concernentes às especificidades dessas jovens mulheres. Além disso, ainda é bastante recente, no movimento feminista, o reconhecimento de que há novas atrizes políticas em cena, para as quais a condição juvenil produz singularidades e novas identidades coletivas. Assim, ao apresentar as produções das jovens integrantes do Forito, buscamos dar visibilidade para um grupo de mulheres
que têm contribuído para alterar a realidade brasileira, construindo um país mais justo para todas e para todos. Tal
empreitada não seria possível sem o apoio do Unifem, parceiro na realização desta publicação.
O maior esforço, contudo, foi das próprias integrantes do Forito, que toparam o desafio de escrever suas experiências e
reflexões. Se nem todas produziram textos, são, todavia, igualmente autoras deste livro porque, nos bastidores, elaboraram
projetos, buscaram recursos e apoiaram todo o trabalho.
Na primeira seção do livro, denominada Depoimentos, encontramos textos que foram tecidos com base em experiências
pessoais e coletivas. Suas autoras desvelam trajetórias, contextos e bandeiras de luta que foram forjadas a partir de
situações e enfrentamentos concretos.
Natalia Mori Cruz faz um “depoimento-reportagem” no qual argumenta a favor dos direitos sexuais e reprodutivos das
mulheres. Engajada na luta pela legalização do aborto, inclusive no Legislativo, a autora apresenta o que dizem grupos
antidireitos das mulheres e seus projetos de lei conservadores; por outro lado, também oferece argumentos e insumos que
se contrapõem a esses grupos e suas propostas.
Já Ana Lucia Rezende e Maria Divaneide Basílio contam como construíram suas candidaturas jovens e feministas
ao Legislativo. O relato sobre a disputa eleitoral busca desvelar o que na opinião das autoras pode ser entendido
como: “um momento complexo, em que se evidencia o modo como cada sociedade distribui poder e forja relações de
poder”. Assim, ao falarem de sua experiência, explicitam os grandes desafios que ainda permeiam a participação
das mulheres na democracia.
Também compartilhando suas lembranças, Ana Adeve descreve os processos que permitiram a realização do I Encontro
Nacional de Jovens Feministas (2008). A autora evidencia como é no fazer cotidiano – na solidariedade entre mulheres
– que sentidos e práticas feministas são forjados, e ao mesmo tempo evoca a importância da memória de fatos históricos
para gerações de feministas e a produção de sonhos coletivos.
Abrindo a seção Artigos, as jovens e a institucionalidade das políticas para mulheres são temas de Áurea Carolina de
Freitas e Silva, que examina a inclusão do sujeito “mulher jovem” no I e II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.
Caminho inverso faz Camila Brandão, ao olhar de que forma o aborto – bandeira importante para o movimento feminista
– aparece nos principais documentos de orientação das políticas de juventude.
A partir da observação e da experiência política como feminista na América Latina, Mariana Bento Berthier defende
a integração regional e argumenta em favor de teias e redes que articulem o feminismo para além das fronteiras
nacionais. No mesmo sentido, Atiely Santos e Fernanda Sunega advogam em favor da articulação das mulheres
integrantes de movimentos culturais, contando suas experiências em articulações como o Hip Hop Mulher e Graffiteiras.
Br.
Jamile Carvalho e Rachel Quintiliano traçam um panorama histórico sobre a participação política das mulheres negras
e situam a recente mobilização da juventude negra, que teve como marco o I Encontro Nacional de Juventude Negra
(2007). As autoras chamam atenção para a invisibilidade das jovens negras como sujeito de direitos e das políticas públicas
e apresentam estratégias para alterar esse quadro.
A reivindicação de direitos também está presente no texto de Julia Zanetti e Patrícia Lânes, que analisam os desafios
encontrados pelas jovens mulheres inseridas nos movimentos feminista e hip hop. Questões como relações de poder
baseadas nas desigualdades de geração e de gênero são particularmente problematizadas.
Tráfico de pessoas, exploração sexual de mulheres, migrações laborais, prostituição são temas ásperos problematizados
por Raquel Souza, a partir das reflexões e debates realizados no Forito nos anos de 2006 e 2007. O artigo demonstra como
sobre esses temas repousam contradições e ausência de consensos no interior do movimento feminista, mas também nas
leis, convenções e tratados sobre essas temáticas.
Em Entrevistas, Clarananda Barreira e Roseane Ribeiro, as mais jovens integrantes do Forito, relatam a Raquel Melo e
Fernanda Papa como encontraram e de que forma exercem seu feminismo. Com trajetórias diferentes de ação coletiva
– grêmio escolar, Pastoral da Juventude, militância político-partidária, movimento LGBT – as jovens relatam dilemas e
preconceitos superados para se assumir como feministas.
Fechamos a publicação com Lilian Celiberti, feminista uruguaia e uma das grandes referências para o grupo do Forito.
Com ela pudemos trocar muito ao longo dos anos e, por isso, o nome da seção Diálogos de Geração. Veio dela a “pergunta-
geradora” que serviu de start para muitos encontros do grupo: “Onde você encontrou seu feminismo?”. Integrante
do “original” Fórum Cone Sul de Mulheres Políticas, Lillian nos presenteia com algumas de suas reflexões, lembrando que
“a aventura de mudar radicalmente a vida exige rebeldia e criatividade”.

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Acesse o livro no Diretório EMdiálogo.

 

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