Logo no início da passeata, estudantes do Instituto de Educação Rangel Pestana apitavam, puxavam palavras de ordem, seguravam faixas, davam tom ao protesto.
A mobilização de cerca de duas mil pessoas foi organizada pelos professores contra o projeto de lei 2474, que seria votado na Assembléia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) na última terça-feira, dia 8 de setembro.
Um grande número de estudantes também participou da manifestação em apoio aos profissionais da educação. Aliás, foi um estudante do grêmio estudantil do Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, que pediu ao EMdiálogo que estivesse presente para cobrir o protesto.
Diante da pressão dos professores, o projeto de lei sofreu modificações e foi aprovado com algumas reivindicações da categoria como a manutenção da gratificação de 12% por tempo de serviço e formação, uma gratificação aos animadores culturais e a aproximação do piso salarial dos funcionários ao salário mínimo, com a incorporação de 150 reais da gratificação conhecida como Nova Escola.
Entretanto, outras reivindicações não foram atendidas, como a inclusão dos profissionais de 40h de trabalho no plano de carreira e também a incorporação da gratificação Nova Escola ao salário dos professores imediatamente, já que a lei aprovada define que a Nova Escola só será incluída totalmente no salário do professor daqui a seis anos.
“Cabral, a greve continua, a culpa é sua”, gritavam os professores para o governador do estado do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), após a aprovação da lei. Em frente à Alerj foi realizada uma assembléia que decidiu pela manutenção da greve por tempo indeterminado.
Na próxima quinta-feira, dia 10, haverá nova mobilização, dessa vez, na frente do Palácio Guanabara, sede do governo do estado. O protesto terá como pauta principal os pontos não incluídos pela lei, além do abono salarial dos dias de trabalho nos quais os professores estão em greve. Haverá também uma nova assembléia na próxima quinta-feira.
Polícia reprime manifestantes
Depois de mais de hora de passeata, os manifestantes chegaram à Alerj e foram recebidos pela Tropa de Choque da Polícia Militar. Segundo o Sindicato dos Professores (Sepe) onze pessoas ficaram feridas, entre eles, dez profissionais da educação e um repórter fotográfico.
De acordo com professores e estudantes presentes, a polícia deu voz de prisão a um dos profissionais que tentava negociar a liberação de uma das vias da rua para acomodação dos manifestantes. Outros profissionais e estudantes se aproximaram do professor detido para tentar soltá-lo e a polícia reagiu puxando uma pistola e em seguida começaram as bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta disparados contra os manifestantes.
Alguns parlamentares saíram da Alerj em defesa dos professores e aos poucos os policiais foram se afastando. As ambulâncias chegaram para socorrer os feridos; e os manifestantes que se dispersaram por causa das bombas de gás foram retomando à escadaria da Assembléia. Os professores continuaram reunidos em frente a Alerj até por volta de 20h, quando terminou a assembléia que decidiu pela manutenção da greve.
Silvana Faria, Michelle Santos e Pablo Barbosa são estudantes do 2° ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Alfredo Baltasar da Silveira, em Piabetá, no município de Magé, região metropolitana do Rio. À convite de professores foram acompanhar a manifestação e ficaram assustados com a repressão da polícia.
“Se não fosse pelo professor, essas pessoas também não seriam policiais, então, eles não deveriam fazer isso”, disse Silvana.
A Alerj informou que estabelecerá uma comissão de sindicância para apurar se houve excessos por parte da Polícia Militar.
Todo mundo precisa de professor
A estudante Silvana Faria considera que é uma obrigação apoiar os professores nos protestos por melhores condições de trabalho. “Acho que é um dever deles é uma obrigação nossa também de lutar por eles”, afirmou.
A professora de português Maria Rosa Gonçalves incentivou os alunos a participarem da manifestação.
“Eu disse para eles nos apoiarem agora porque corremos o risco de daqui há sete, oito anos os filhos deles não terem escola. É importante eles participarem também porque essas experiências vão implantando o espírito de luta neles, e só conseguimos os nossos direitos com muita luta”, disse.
A aluna do 2° ano de formação de professores do Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, segurava uma das primeiras faixas do protesto e também trazia um nariz de palhaço.
“Todo mundo precisa de professor. Essa deveria ser a profissão mais bem paga do mundo. Até o governador Sérgio Cabral precisou de professor”, declarou rapidamente ao EMdiálogo, já que a passeata precisava andar e o apitaço dos outros colegas já soava alto.
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