A equipe do EMdiálogo acompanhou os jovens da Escola Estadual Professor Morais, de Belo Horizonte, na sessão de cinema que exibiu De repente, Califórnia. O filme conta a história de dois surfistas que se apaixonam.
Zach é um surfista que adora fazer grafites com imagens da pequena cidade onde mora, na Califórnia. O resto de seu tempo é dividido entre cuidar do sobrinho, Cody, e trabalhar em uma lanchonete, embora seu sonho seja estudar arte na faculdade. Para completar sua rotina, Zach vive um relacionamento instável com a jovem Tori. Esse e outros problemas, ele alivia entre as ondas na companhia do melhor amigo Gabe. Ao contrário do colega, este vive em uma mansão e já faz faculdade.
No verão daquele ano, Gabe viaja com seus amigos. É quando seu irmão, o escritor Shaun, retorna à cidade. Shaun e Zach se juntam para relembrar os velhos tempos, surfam juntos, fazem rodinhas de violão a beira da praia com os amigos, levam Cody para passear e no meio de toda essa amizade, se beijam.
- Que desperdício! – alguém sussura no fundo do cinema, e logo é repreendido. Na sessão estão presentes os alunos da Escola Estadual Professor Morais, de Belo Horizonte. O filme do dia é De repente, Califórnia (Shelter, 2008), que conta a história de amor entre dois surfistas. A equipe do EMdiálogo acompanhou os jovens até o cinema para ver qual a opinião deles em relação ao filme e ao tema abordado.
Os alunos fazem parte do Programa Educacional de Atenção ao Jovem (PEAS Juventude), que oferece formação sobre sexualidade e afetividade. Desde o início do ano, eles discutem temas como direitos sexuais e reprodutivos, diversidade, violência, entre outros.
A partir de agora, os jovens do PEAS serão responsáveis por multiplicar o que aprenderam entre os colegas com palestras e peças de teatro. De volta à sessão, a reação “que desperdício” foi a primeira a ser manifestada na sala de cinema. Entre os meninos, alguns sinais de repulsa. Quando as luzes se acenderam, todos voltaram para casa. A discussão ficaria para daí a algumas semanas.
No dia da discussão, a sala contava com 16 meninas e apenas um representante do sexo masculino. Falaram sobre preconceito de uma forma geral, contra pessoas com deficiência, negros, mulheres, idosos. Por fim, falaram especificamente sobre De repente, Califórnia. As opiniões impressionam pela sinceridade dos jovens. Foi a primeira vez que viram o beijo entre dois homens e praticamente todos acharam estranho.
Veja alguns depoimentos sobre o filme
Taís Cristina Rosa, 16 anos, 2º ano.
“Olha, acho que despertou uma reflexão em relação ao homossexualismo, mesmo que a gente saiba essas questões, a gente pôde conhecer um pouco o sentimento que a pessoa tem quando tá vivendo isso”.
“Quando você vê aquelas cenas e se sente incomodado, a gente vê que tem preconceito, mas eu tento respeitar. Não questiono a pessoa ser desse jeito não, eu respeito”.
“A parte mais íntima dos dois, quando os dois têm a primeira relação deles, acho que foi muito forte. Eu nunca tinha visto essa cena, nenhuma mídia divulgou isso, nem nas novelas que tratam dessa questão. Então, achei diferente”.
Débora Mendes, 16 anos, 2º ano
“Bom, na verdade eu fiquei um pouco assustada porque eu não sou de conviver com isso, nunca vi nem de perto e nem em filme e fiquei assustada. Pode ser um pouco de preconceito que a gente só percebe vendo e vivendo a experiência, mas eu fiquei um pouco nervosa com algumas cenas lá”.
“As cenas que mostravam eles namorando intimamente na cama, eu fiquei assim, nossa eu tô vendo isso mesmo?”
“Reduzir (o preconceito) é um pouco difícil porque é meio espontâneo, né? Às vezes você sente sem querer. O negócio é aceitar as diferenças porque o mundo tem aí as diferenças e a gente tem que aceitar todas elas”.
Radarane Alves, 18 anos, 3º ano
“Acho que foi meio assustador ter visto beijo de dois homens e todo mundo ficou meio assim porque os atores eram bonitos e ficou dizendo: ‘que desperdício’. Foi um baque mesmo ter visto um beijo gay”.
“Tá todo mundo acostumado em ver um homem e uma mulher, é um modelo, né? A gente não está acostumado com o diferente e isso era o diferente”
José Carlos Bernardino, 17 anos, 3º ano
“Logo depois que eu assisti o filme, achei nojento, falei credo. Mas eu sempre tento trabalhar, comecei achar normal, é um caso pra se pensar, como todo tipo de preconceito é um caso pra se pensar”
“O fato de eles mostrarem como que é, eu assustei um pouco, nunca vi uma coisa assim”.
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