No Uruguai, as escolas de ensino técnico oferecem vagas na quantidade certa, no Brasil, instituições com o mesmo objetivo não conseguem atender a demanda.
Este foi um dos assuntos debatidos por estudantes e professores brasileiros e uruguaios em oficina durante o Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, realizado de 23 a 27 de novembro, em Brasília.
Em uma das salas do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde se concentravam as atividades do Fórum, os estudantes uruguaios Maximiliano Barreiro (19), Ângelo Panzardi (22) e Gianina Bastari (24) falaram como é estudar nas escola técnicas uruguaias. Os jovens também contaram como se organizam para terem voz e voto nos Conselhos Participativos. Estes espaços, segundo os estudantes, são responsáveis por discutir e deliberar que tipo de ensino as escolas devem oferecer.
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Na platéia, estudantes do Ensino Médio do Instituto Federal Sulriograndense ouviam atentos aos colegas uruguaios, que se esforçavam para falar um castelhano o mais claro e devagar possível. A turma já estava entrosada porque do Rio Grande do Sul até Brasília viajaram no mesmo ônibus. De vez em quando, um dos uruguaios se empolgava e o ritmo da fala se acelerava, logo alguém reclamava: “pode falar mais despacio, por favor?”.Os uruguaios atendiam prontamente.
Maximiliano está matriculado em um curso de eletrotécnica, Ângelo cursa técnicas agrícolas e Gianina, administração de empresas. Os três foram eleitos representantes dos estudantes nas instâncias de controle público da educação uruguaia. Gianina é representante estudantil na Comissão de Avaliação, Ângelo é delegado estudantil do interior e Maximiliano da região metropolitana.
Eles explicaram que os Conselhos Participativos foram criados a partir da nova lei de educação uruguaia. No conselho de casa escola, um terço da participação deve ser dos estudantes, as outras vagas são destinadas a mães e pais, professores e representantes da comunidade.
“Uma sociedade unida gera grandes mudanças”, comentou Maximiliano.
De acordo com os estudantes uruguaios, não há quem fique de fora das escolas técnicas. Antes de responder a uma pergunta do público sobre o acesso às escolas uruguaias, Maximiliano perguntou a um estudante brasileiro que também cursa eletrotécnica como foi a concorrência para que ele ingressasse no curso.
“- Concorreram 800 para 90 vagas”, respondeu o estudante brasileiro.
“- No Uruguai, eu tive que correr atrás de assinaturas para que fosse oferecido o curso na escola mais próxima de onde eu morava, porque eles só abririam se vissem que havia demanda”, constestou Maximiliano.
“Ninguém fica de fora das escolas. Não importa se é filho do doutor ou do homem que cata papelão na rua, todos estudam juntos”, continuou, orgulhoso, o estudante uruguaio, ciente dos problemas do Brasil em garantir o número de vagas suficiente para os estudantes brasileiros.
Entretanto, para deixar a comparação mais justa, os jovens uruguaios mencionaram a diferença entre as populações dos dois países.
“No Uruguai somos 3 millhões e 300 mil habitantes, só em São Paulo, vocês tem onze milhões”.
Depois da rodada de perguntas, os uruguaios se despediram agradecendo a acolhida calorosa dos estudantes brasileiros, que, segundo eles, foram “muy amables”.
De fato, a intensa sintonia entre eles era facilmente notada. Após a oficina, todos queriam tirar fotos com os hermanos uruguaios.