Em setembro de 1993, ia ao ar no canal 4 da televisão inglesa o documentário Além do Cidadão Kane (no original, Beyond Citizen Kane). A obra aborda o poder que o empresário Roberto Marinho exercia no país através da rede Globo, e ficou proibido de ser veiculado no Brasil por muito tempo. Marinho faleceu em 2003, mas seus filhos ainda são concessionários da Globo, até hoje o canal de televisão mais influente do país.
Em seus 20 anos de estrada, "Além do Cidadão Kane" é um filme dinâmico e qualquer brasileiro minimanente interessado em política nota que a obra não envelheceu. Analisando o favorecimento que a emissora teve do grupo Time em sua fundação, o apoio irrestrito que Roberto Marinho deu ao candidado Fernando Collor em 1989 ou o desprezo à produção do cantor Chico Buarque e outros assuntos supostamente subersivos na época da ditadura, vislumbramos se o que está sendo destacado como pauta pela mídia hoje não teria um toque subliminar em esconder ou destacar os interesses da chamada "imprensa marrom".
Depoimentos de Leonel Brizola, Chico Buarque, Washington Olivetto e diversos grandes nomes, jornalistas e historiadores da sociedade brasileira. Nunca viu? É uma forma alternativa para vermos a história da mídia no Brasil. Existem diversos textos sobre a trajetória documentário pela internet, mas ele ainda permanece proibido de ser exibido na televisão. Irônico, não?
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FACES DA MÍDIA
Penso que todas as mídias, escrita, falada e televisiva, são grandes formadoras de opinião e por este motivo deveriam filtrar melhor os conteúdos antes de divulgá-los. Sou partidária da opinião de que não escolhemos os assuntos, eles nos são impostos, e muitos servem a interesses de determinados grupos ou pessoas, são mascarados, enlatados e não correspondem a realidade.
Alienação e ideologia
Esse documentário é formidável para tratar dos conceitos marxianos de alienação e ideologia, visto que mostra a face oculta da TV brasileira de propagação da ieologia dominante. Ao vestir a carapuça de imparcial, a TV nacional cumpre o papel de "vomitar" verdades na população, que acaba acreditando no que as emissoras dizem por serem elas o principal meio de informação que a maioria das pessoas tem acesso. A articulação entre a visão de mundo das elites e a "carapuça" de imparcial é essencial para que suas notícias sejam percebidas como verdadeiras e certas. Não à toa, é muito comum ouvirmos apresentadores de jornais e programas verbalizarem constantemente que eles são neutros e seu compromisso é apenas com a verdade. Um programa policial aqui no Ceará se inicia todos os dias da mesma forma: um narrador fala as seguintes frases: "Ele é honesto, ele é verdadeiro...", logo em seguida o apresentador entra no estúdio e complementa dizendo algo como: "Para dizer a verdade tem que ter coragem!". Esse tipo de comportamento e a repetição constante de que o programa defende o cidadão acaba alienando o telespectador que acredita naquele discurso como sendo verdadeiro.
Abraços.