Projeto Clarice e o Colóquio "Tinha paixão?"

Uma portuguesa e uma paixão. A Portuguesa é a Patrícia Lino e a paixão é a literatura. Tive o prazer de conhecer essa pessoa sensacional que é a Patrícia no período de mobilidade estudantil que realizei através do convênio entre a Universidade Federal Fluminense (UFF), onde estudo e a Universidade do Porto (UP), onde passei gratificantes 6 meses. 

Idelizadora do Projeto Clarice, que promove a obra da escritora e  tem seguidores no mundo inteiro e principalmente no Brasil, e do Colóquio "Tinha Paixão?", que faz leituras das literaturas brasileiras e africanas, Patrícia é uma apaixonada e concordou em responder para a comunidade "Literatura para quê?" algumas perguntas sobre seu trabalho:

- Como surgiu a ideia do Projeto Clarice? E o Colóquio?

A divulgação da obra literária de Clarice Lispector por meio de várias formas de expressão,
ideia que sustenta o Projeto Clarice, surgiu após a leitura da primeira edição portuguesa dos seus
contos, publicada em 2006 pela Relógio d'Água, e baseia-se até hoje na necessidade que tenho em
partilhá-la com os outros. A variedade com que pode abrir-se o acesso à obra literária prende-se,
quase completamente, com a variedade de leitores que existe para ela. Por isso, ter apostado, desde
cedo, em outras formas para além do ensaio ou da recensão crítica que, na minha área de trabalho,
embora sejam as mais evidentes, não chegam, com tudo o isso tem de infeliz, ao grande público.
Partindo dos versos de Herberto Helder, «Li algures que os gregos antigos não escreviam
necrológios/ quando alguém morria, perguntavam apenas:/ tinha paixão?», o colóquio «Tinha
Paixão? - Literaturas Brasileira e Africana», que organizo em parceria com a minha amiga Sunamita
Cohen, pede a cada um dos seus oradores que, no âmbito das literaturas brasileira e africana,
partilhe a sua paixão literária com o público. Isso faz com que, à semelhança do Projeto Clarice, a
mensagem atinja não só aquele que habitualmente lê e, por isso, está prediposto a escutá-la, mas
também aquele que nunca o faz. A paixão é dos homens. Alguns homens são dos livros. E se o
colóquio não reproduz tematicamente a estrutura do simpósio tradicional, também não o faz a nível
logístico: divide-se semanalmente em 6 sessões, a cada uma delas corresponde sempre um espaço
diferente, e acontece entre abril e maio. Além disto, há leituras, música, exposição e venda de livros. 

- De que maneira a Literatura toca a sua vida? Houve alguma experiência literária em
especial que tenha te influenciado como pessoa e nas tuas escolhas?

Pergunto-me agora de que forma ela não a toca. Carlos Drummond falava da sede que,
embora não partilhada pela maioria dos homens, conduzia alguns ao gosto pela literatura. Pergunto
então pelo dia em que não senti sede e não encontro resposta. Creio, Tatiana, que esse dia não
existe. Ter começado a ler os gregos, projeto que provavelmente nunca irei terminar, mudou
radicalmente algumas das visões que tinha quer sobre os livros quer sobre a vida. De forma
semelhante, o confronto com certos autores, como Arthur Rimbaud, T. S. Eliot ou João Cabral de
Melo Neto, conduziu não só à leitura de outros como influenciou escolhas académicas e pessoais.
Ter oportunidade de escrever e falar sobre autores como João do Rio, Almada Negreiros, Paulo
Leminski, Roberto Piva, Ricardo Guilherme Dicke ou Manoel de Barros é, além de um prazer
enorme, a tarefa com que, por escolha própria e com a ajuda dos meus, ocupo os dias.
Esse dia não existe. 

- Como você vê que os seus projetos tocam as pessoas que neles se envolvem?
Acredito que nunca serei eu a dar a melhor resposta a esta pergunta. Acho, porém, que, ainda
que tudo dependa das especificidades do projeto que estamos a falar, a reação mais geral é deixar,
de algum modo, o interesse por algum autor ou temática literária nos outros. Mas repito: isso é já
independente de mim, isso já é dos outros. E é assim que deve ser.

-x-

Os projetos são bem montados e formulados e não deixam de ser um incentivo para a leitura, descoberta da literatura e novas formas de se dialogar. Quem sabe você não junta alguns amigos e cria seu próprio Colóquio? Ou então porque você não dá continuidade ao Projeto aqui mesmo, em terras tupiniquins? As possibilidades são infinitas e a literatura um campo vasto. Inspire-se! 

https://www.facebook.com/projeto.clarice?ref=ts&fref=ts 

https://www.facebook.com/tinhapaixao?fref=ts

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Comments

imagem de Nilma Gonçalves Lacerda

Sede

Paixão de ter sede. É preciso ter pote por perto, todo o tempo.

Saber da água por sua falta pede fonte, para o pote. Clarice, sempre à mão. 

Legal, Tatiana, você nos trazer sede e pote de patrícia Lino. Parabéns, Patrícia, 

por deixar potes (Clarice) à mão.

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