Possíveis ações curriculares integradas para a formação humana integral
Possíveis ações curriculares integradas para a formação humana integral
Set 2014
Reflexões dos cursistas do Col. Est. José Busnardo
A Proposta das relações existentes do ensino médio, com o mundo do trabalho, das relações sociais, da interação humana, culmina na clareza da contribuição para o estudante e, consequentemente para a sociedade na qual este interage e atua como ser social e produtivo.
A Filosofia parte integrante do ensino é a única que pode ajudar o aluno a pensar sobre tudo o que envolve sua existência, pois ela procura pensar no todo da realidade. Entretanto, dependendo de como a Filosofia for introduzida, poderá enriquecer a formação dos estudantes, ou poderá se tornar um amontoado de informações sem sentido. E sobre esta questão, afirma Kohan (2002, p.22): “ele não considera interessante apenas que a filosofia ocupe espaços. Dentro e fora das escolas, importa, fundamentalmente, compreender o que ela faz nesses espaços, o tipo de filosofia que se pratica (e ensina), sua relação com outras áreas do saber, com a instituição escolar e as outras instituições da vida econômica, social e política do país. Convém, especificamente, considerar a relação que professores e alunos envolvidos com a filosofia estabelecem entre si e com ela. Importa, antes de mais nada, o tipo de pensamento que se afirma e se promove sob o nome de filosofia”.
Uma boa formação é aquela que se baseia no conhecimento verdadeiro, que leva à busca da sabedoria, que contribui para o bem do aluno e de sua comunidade e que o leva a refletir sobre tudo o que o cerca e não somente com o que lhe será útil saber e fazer.
A filosofia promana da necessidade do homem organizar suas ideias e encontrar significado no domínio global do pensamento e ação [...] Um grande defeito de muitos especialistas e também de muitos estudantes é a tendência para considerar os estudos especiais como de suprema importância, pelo fato de vivermos numa era de especialização. Colocando de parte o provinciamento de tal atitude, permanece o fato de que não podemos tratar apropriadamente qualquer assunto isolado enquanto não possuirmos um conhecimento operante do que significa existir, saber, avaliar e inquirir as coisas em geral.
Nesta atual sociedade, voltada à tecnologia, parar para pensar é o mesmo que perder tempo. Assim, a tarefa da formação humana integral é a de convidar o aluno a uma superação das concepções ingênuas e superficiais da sociedade onde está inserido, ensinando-o a pensar de forma racional, abstrata e abrangente sobre a realidade. É estimular o aluno a refletir sobre si mesmo para aprender a se criticar - e também refletir sobre o mundo para compreendê-lo e, depois disto, buscar saber qual o seu papel diante do mundo que o cerca e diante do seu próximo.
Possibilidades de relações entre o ensino e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia da cultura.
A qualidade da escola é condição essencial de inclusão e democratização das oportunidades no Brasil, e o desafio de oferecer uma educação básica de qualidade para a inserção do aluno, o desenvolvimento do país e a consolidação da cidadania é tarefa de todos.
Compreender a relação indissociável entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura significa entender o trabalho como princípio educativo, que não significa aprender fazendo, nem é sinônimo de formar para o exercício do trabalho. Considerara o trabalho como princípio educativo, equivale a dizer que o ser humano é produtor da sua realidade e pode transformá-la. Ou seja, somos sujeitos de nossa história e nossa realidade.
Para isso, há a necessidade da intervenção do estudante em todo o processo de aprendizagem, fazendo as conexões entre os conhecimentos. O aluno será mais do que um espectador, como costumava ser no ensino tradicional, mas ele passará a ter um papel central, será o protagonista; como um agente que pode resolver problemas e mudar a si mesmo e o mundo ao seu redor.
O professor deve criar situações comuns ao dia a dia do aluno e o fazê-lo interagir ativamente de modo intelectual e afetivo, trazendo o cotidiano para a sala de aula e aproximando o dia a dia dos alunos do conhecimento científico. Isso é sempre possível, pois inúmeros e praticamente inesgotáveis são os campos e contextos de experiências vivenciadas pelos alunos e pela escola, que podem ser utilizados para dar vida e significado ao conhecimento.
Podem ser abordados aspectos como: problemas ou fenômenos psíquicos, físicos, econômicos, sociais, ambientais, culturais, políticos, etc. Não precisam estar diretamente ligados aos alunos, mas podem fazer referência também aos seus familiares, desde que os discentes estejam de alguma forma envolvidos com a situação apresentada.
Sendo assim o professor estará mais propenso a ter êxito em preparar seus alunos não só para uma memorização que não valoriza os aspectos conceituais; mas estará, na verdade, preparando-os para a vida.
Há também a necessidade de que ocorra a interdisciplinaridade, que não se trata de eliminar as disciplinas, trata-se de torná-las comunicativas entre si, concebê-las como processos históricos e culturais, e sim torná-la necessária a atualização quando se refere às práticas do processo de ensino-aprendizagem.
Além disso, a política curricular deve ser entendida como expressão de uma política cultural, na medida em que seleciona conteúdos e práticas de uma dada cultura para serem trabalhados no interior da instituição escolar. Trata-se de uma ação de fôlego: envolvem crenças, valores e, às vezes, o rompimento com práticas arraigadas.
Sistematização: quais as proposições que mais geraram debate? Questões mais polêmicas?
O maior desafio do Ensino Médio atual é integrar as dimensões: Trabalho, Cultura, Ciência e Tecnologia. Essas dimensões, na verdade, já são trabalhadas, mas de maneira fragmentada, cada professor trabalha apenas a sua área de conhecimento, dividindo-se em professores de Ciências Humanas e professores de Ciências Exatas. Inclusive esta foi a divisão feita pelo próprio Governo do Paraná quando implantou o sistema de Ensino Médio por blocos, quando o aluno se preocupava no 1º semestre apenas com a área de Ciências Exatas e no 2º semestre com área de Ciências Humanas. Portanto, é difícil quebrar essa barreira de uma hora para outra.
Existe uma resistência das próprias famílias da comunidade escolar quando se trabalha de maneira mais inovadora, porque para eles o que interessa é ver muito conteúdo, mesmo que ele não seja bem assimilado. A ideia de “escola boa” é aquela bem tradicional, nos moldes dos cursinhos pré-vestibulares, que vê o máximo de conteúdo em tempo recorde.
Nossa escola esta iniciando um projeto interdisciplinar, escolhendo conteúdos e trabalhando esse conteúdo em todas as disciplinas, dentro das várias dimensões. Como é um projeto piloto, ainda não temos um resultado, mas esperamos que seja positivo e possa contribuir para a integração das disciplinas e a formação integral do indivíduo.
O projeto interdisciplinar deve ser mais uma forma de trabalho, porém, não pode ser trabalhado como uma metodologia única. Talvez se deva partir do conhecimento fragmentado para podermos sistematizá-los depois com a integração disciplinar. Portanto, sentimos necessidade de inovar nosso currículo e nossas práticas pedagógicas, mas nos sentimos apreensivos, que esses alunos se sintam defasados na hora de prestar o vestibular e fazer uma faculdade.
Finalidades da educação básica
Antes de se pensar nas finalidades quanto ao ensino aprendizagem é importante salientar que a escola não pode simplesmente reproduzir conhecimentos, ela deve promover a integração e a cooperação. Pois, ainda que existam meios alternativos de educação, a escola é, e assim continuará sendo vista como a melhor forma de se obter conhecimento e socialização.
A escola, além de ser uma instituição máxima de ensino, detêm os meios de levar os alunos a desenvolverem a capacidade de serem pesquisadores e questionadores de tudo o que os cerca. Ao explorar e compartilhar o conhecimento, a escola propicia que os alunos enriqueçam seus pensamentos, no entanto, deve ser destacado que o processo de autonomia intelectual, emocional, social e moral se concretizam, de fato, somente quando a instituição de ensino afasta-se do modelo padronizado dando vez à aquisição de conhecimentos via atividades que exploram a capacidade criativa e interativa dos envolvidos no processo. Dessa forma a escola permite que alunos sejam protagonistas, isto é, tenham autonomia para pensar e agir. E assim possibilite o desenvolvimento das capacidades de comunicação, por meio das diferentes linguagens e das formas de expressão individual e grupal. Em outros termos, o professor deve visar:
• O desenvolvimento de culturas inclusivas;
• Explorar os conteúdos de maneira contextualizada e interdisciplinar;
• Propor práticas pedagógicas diferenciadas;
• Trabalhos em grupo que propiciem uma vivência escolar, colaborativa e estimulante, preparando o aluno para o convívio social seguro e para o mercado de trabalho.
Destarte, o professor deve incentivar o aluno a adquirir o conhecimento. E este não deve ser obtido superficialmente, a escola precisa despertar nos discentes o interesse para a investigação e para o exercício do pensamento, que deve ser pautado na análise crítica com o intuito de compreender, propor, angariar novas ideias por intermédio do raciocínio lógico. Ciente de suas ações e percepções, o ser aluno será levado a agir dentro dos processos instituídos, pois terá ao seu entorno o desenvolvimento empírico, experimental e de razão efetiva.
Haja vista que os alunos veem-se diante de dúvidas e interlocuções geradas
pelo cotidiano da sociedade em que está inserido; as possibilidades intermediadas pelas ações intelectuais direcionam ‘eu possíveis’, convicções de ideais, os quais suplantarão desafios pessoais, profissionais e sociais.
No entanto, para que o aluno encaminhe-se para o aprimoramento do raciocínio lógico e da criatividade, faz-se necessário estimular o desenvolvimento psicomotor, as habilidades física, motora e as diferentes destrezas dos alunos. E essa não é uma tarefa fácil, pois a maioria das escolas públicas não oferecem espaços adequados. Restam as instituições e docentes buscar promover dinâmicas que contemplem a imaginação criadora e o conhecimento por intermédio de atividades culturais e sociais, dentro e fora da escola.
No que se refere ao domínio de conhecimentos científicos básicos, nas diferentes áreas na profundidade social necessária, que em nosso país está pulverizado por não se saber o escopo para que ensinamos, o docente deve estar bem preparado teoricamente e didaticamente, o que se obtém somente a partir de boa formação acadêmica; estar com o espírito preparado para encarar as mais distintas mazelas sociais em que o discente está submerso. A condição mais óbvia para o desenvolvimento do conhecimento é a organização dos meios que ditam o saber. As energias intelectuais tanto dos docentes quanto discentes mobilizariam-se mais facilmente se não houvesse tantos núcleos de interesse fortemente hierarquizados.
Na década de 60 e início da de 70 as propostas indicavam a valorização da criatividade como condição suficiente para desenvolver a eficiência da comunicação e expressão do aluno. Hoje vemos que a interação e socialização também são condições indispensáveis para que o conhecimento seja adquirido pelo aluno. Portanto, pensando nas finalidades da educação básica, a autonomia do aluno é um dos principais expoentes para que o conhecimento efetive-se majoritariamente. E nós, professores, precisamos adotar métodos e posturas que privilegiem a cooperação, numa relação de reciprocidade e investigação que favoreçam a produção da identidade e da diferenciação cultural, mediante a localização de si próprio como sujeito.
Encaminhamentos para Proposta curricular: abordagens e rearranjos
Com relação à proposta curricular, o ensino médio foi durante muito tempo um limbo pedagógico. Ora era compreendido com um período de preparação para a faculdade, ora era visto como um momento de treinamento para o mercado de trabalho.
As contribuições que as vivencias escolares nos propiciam, certamente contribuem de forma relevante ora prazerosa ou ainda, desmotivadora no processo escolar. Principalmente quando nos lembramos da hierarquia enraizada nas nossas escolas. A afetividade que vemos hoje na relação professor/aluno se quer era possível.
As experiências escolares que tivemos quando aluno, por algumas vezes não contribuíram para nosso despertar para o novo, mas sim para seguir regras. Por exemplo, a pesquisa investigativa, não era incentivada. Por muitas vezes observávamos a pesquisa de um determinado assunto somente prontas e ilustradas nos livros didáticos. Seguíamos modelos já prontos. Atualmente, essas práticas estão sendo substituídas por incentivo a investigação por diferentes métodos de pesquisa, ou seja, o novo que torna a aprendizagem muito mais prazerosa está começando a ser apreciado por muitos alunos, principalmente nas disciplinas científicas. Também estamos saindo dos locais comuns da escola, para a utilização de diferentes espaços escolares.
Quando fazíamos algum questionamento de alguma ação presenciada, ou se nosso entendimento sobre o conhecimento escolar com o observado no cotodiano era relevante. Não éramos ouvidos. Prática de ensino que também hoje vem perdendo forças, pois muitos docentes comprometidos com uma aprendizagem de qualidade sabem que os conhecimentos prévios dos alunos pode ser o ponto de partida do seu planejamento e tornar suas aulas muito mais interessantes.
Outra prática que está sendo substituída que vivenciamos muito, mas que ainda é muito praticado é a metodologia tradicional, da memorização. Não que ela seja de tão ruim, mas que hoje existem diferentes possibilidades de práticas educacionais que pode contribuir de forma motivadora para o ensino.
A interdisciplinaridade nem se cogitava, coisa que hoje é muito discutida e aplicada, claro que de forma tímida ainda, mas de acordo com os resultados já colhidos, certamente é um caminho promissor.
Pode-se listar muito mais contribuições que a escola de hoje está promovendo para levar nossos alunos a autonomia, a reflexão e a crítica. Porém ainda percebe-se que essas contribuições não estão atingindo nossos jovens. Na sua grande maioria eles não estão vendo a escola como um meio de mudar sua realidade.
Acredita-se que para contemplar os eixos do trabalho, ciência, tecnologia e cultura, o docente precisa ter autonomia na escolha dos conteúdos que ira trabalhar, pois assim poderá articular diferentes saberes na turma de seriação apropriada.
Bem ou mal, o ensino médio cumpriu muito precariamente tanto uma quanto outra finalidade, tendo caído no descrédito face à inconsistência de objetivos claros para este momento e que tornaram por descaracterizá-lo. Atualmente é necessário pensar no ensino médio e na reformulação do currículo como um processo mais amplo de reforma das estruturas de ensino. Devemos pensar numa escola que não atenda aos interesses mais imediatistas e pragmáticos e promover um espaço capaz de proporcionar uma formação humana integral. Para isto, o currículo deve superar sua perspectiva enciclopedista, fragmentada, e buscar relacionar o conhecimento de forma mais integrada, ou seja, pensando na integração entre Cultura, Trabalho e Tecnologia.
Neste sentido, o papel da escola deve ser fundamental na formação humana dos educandos, voltada para a emancipação. A escola deve proporcionar a autonomia crítica do indivíduo e não formar um ser humano apenas capaz de se adaptar ao mercado de trabalho passivamente. Devemos formar um ser humano crítico e reflexivo, capaz de autonomia de ação e pensamento. É no processo de aprendizado que o indivíduo vai desenvolver a crítica e a autocrítica, a partir de múltiplas referências que ajudam a moldar sua subjetividade. O currículo deve ser uma construção coletiva que tem como finalidade básica ajudar o indivíduo a ter acesso ao conhecimento científico, convertido em transposição didática, que dê subsídios ao jovem para que construa suas próprias ferramentas.
É necessário, portanto, uma discussão mais aprofundada sobre o currículo como um todo. Atualmente temos um currículo extenso, fragmentado, enciclopédico que pouco vai de encontro aos anseios e necessidades dos educandos, causando indiferença e desânimo em relação aos estudos; temos pouco tempo para o desenvolvimento dessa grade curricular extensa que privilegia o conteúdo pragmático e não a formação humana; temos programas inadequados de formação para os professores e uma carreira pouco atraente para quem ingressa no magistério, etc.
Como principais desafios para a reforma do currículo estão, por exemplo, 1) definir o objetivo do ensino médio com clareza, que conteúdos devem ser trabalhados e porquê; 2) introduzir efetivamente novas tecnologias no ambiente escolar de forma que a tecnologia seja trabalhada como aliada no processo de formação, ensino e aprendizagem; 4)investir fortemente na carreira e qualidade da profissão de professor e não apenas usá-lo como bode expiatório para o insucesso da instituição escolar; 5) permitir currículos alternativos uma vez que existem especificidades entre cada região, cidade, bairro, etc.;
Um currículo motivador só será efetivo quando seus efeitos forem percebidos em sala de aula...
Referências
BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Diretrizes Curriculares Nacionais para ensino médio. Brasília, 64 p. 2012.
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno III : o currículo do ensino médio, seu sujeito e o desafi o da formação humana integral / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica;[autores : Carlos Artexes Simões, Monica Ribeiro da Silva]. – Curitiba : UFPR/Setor de Educação, 2013. 49p.
KOHAN, Walter. Ensino de Filosofia – Perspectivas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002
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