NÃO ÀS DIFERENÇAS DOS DESIGUAIS
MÓDULO I - ETAPA II - PÁGINA 13
Nossa escola situada na região central da cidade ostenta o título de “Octogenária Senhora”. Historicamente a escola educou alunos desde os primeiros anos da alfabetização ate o final do ensino médio. A localização geográfica da escola e o status do seu corpo docente facilitava o acesso de uma clientela privilegiada: branca, de classe média, nascida na região com emprego fixo, pequenos proprietários rurais e urbanos, oriunda de famílias estruturadas e bem constituídas maioria descendentes de imigrantes alemães e italianos vindos do Rio Grande do Sul na primeira metade do século XX.
Na segunda década do século XXI, a escola deixou de oferecer ensino fundamental concentrando sua clientela apenas no ensino médio. No mesmo período passou a disponibilizar educação em tempo integral acolhendo um universo de outros alunos, cuja diversidade foi potencializada em relação ao modelo homogêneo que marcou sua história. Simultâneo a essa situação a escola experimenta os ventos de mudança e os apelos de gestão democrática presente em todas as instâncias da sociedade decorrentes do processo de redemocratização do país.
O primeiro desafio significativo para a escola consiste em compreender que a nova leva de sujeitos do seu cotidiano é desconhecida do ambiente e do corpo docente. Na esteira deste e não menos importante é compreender que a comunidade escolar é constituída pela massa de desiguais que acessaram a classe “C”, muitos por conta dos programas de transferência de renda do Governo Federal. Os mecanismos de controle de matrícula e frequência relativo ao direito e ao dever da educação básica até os 17 anos também garante que uma parcela significativa do alunado esteja na escola por força de lei (Emenda Constitucional nº 59/2009). A inclusão dos alunos com dificuldade de aprendizado e outras diferenças também faz que a escola tenha outro rosto. Em resumo, fazemos nossas as palavras de Miguel Arroyo: “Está chegando na escola outro público”.
Esta realidade não é consenso entre gestores e corpo docente da escola, questões relativas ao processo de adaptação da escola à sua nova condição social, aos novos mecanismos de pluralidade que esta escola exige. Conceitos relativos ao que é currículo, avaliação, promoção, retenção, participação, democracia, ainda estão longe de fazer parte do cotidiano da escola. O que deveria ser uma mola propulsora na organização do trabalho pedagógico tem se mostrado um freio e se constituído em mecanismo de exclusão.
Em 2012 foram abertas sete (7) turmas de primeiro ano em tempo integral e mais três(3) turmas no noturno na modalidade regular, aproximadamente 340 alunos. Chegamos a 2014 concluindo seis (6) turmas no noturno e duas (2) no diurno, aproximando-se de 200 concluintes o que significa uma queda percentual de 44% de evasão no triênio. Diante deste quadro surgem como imperativas as perguntas e considerações levantadas por Miguel Arroyo no vídeo sugerido no módulo I da segunda etapa do curso para os professores previsto no pacto pelo fortalecimento do ensino médio.
Na entrevista em referência, Arroyo aponta a necessidade de adaptar a escola ao aluno construindo-a como instituição plural, alterando o seu currículo. Para que a escola seja percebida pelo aluno como o “seu lugar” exige transformá-la num espaço humano para aqueles que vem de lugares desumanos, o envolvimento das famílias com o cotidiano da escola há que ser ampliado a fim que vejam a escola com confiança superando a ideia negativa de escola pública. A oferta de educação em tempo integral precisa ser vista pela comunidade do entorno da escola como um lugar seguro onde os filhos estejam a salvo das armadilhas que a sociedade desigual cultua com certa naturalidade.
Na escola os diferentes não podem continuar sendo desiguais e este processo torna a docência uma arte muito mais difícil do que em outros tempos. Gestores e professores precisam modificar o referencial que tem da sua clientela substituindo o conceito de “violentos por violentados”; de “resistentes por excluídos”. Não é possível continuar admitindo que alunos nossos frequentem a escola noturna sob o pretexto de trabalhar fazendo isso sem carteira assinada. É preciso superar o tratamento que se dá em relação a questões sociais como se fossem casos de polícia.
Não se pode mais trabalhar como se nossa sociedade tivesse sido construída com a chegada dos descendentes de europeus que foram a histórica clientela. As particularidades do jocoso adjetivo “VIP” que se aplica aos nossos alunos há que ser incorporado no projeto político pedagógico e nas práticas docentes não apenas como temas transversais. Em resumo nossa escola é desafiada a reconstruir sua identidade sob a pena de perder credibilidade e permanecer contando histórias de saudade.
Para fazer jus à bolsa de estímulo à formação do programa de fortalecimento do ensino médio, nossa sugestão se concentra nas seguintes ações a serem realizados durante o período de férias/recesso escolar. Organizar grupos de professores para estudar literatura e legislação dos seguintes aspectos:
1) Currículo, Matriz Curricular, Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio;
2) Plano Nacional e Estadual de Educação – metas e estratégias;
3) Política Nacional de Inclusão e diversidade;
4) Sistemas e modalidades de avaliação, conceitos de avaliação qualitativa e quantitativa;
5) Projeto Político Pedagógico; Conselho de Classe.
6) Plano de curso, Plano de Trabalho Docente, Projetos e interdisciplinaridade;
7) Grêmio estudantil, Representantes de turmas e professor regente;
8) Conselho deliberativo e APP;
9) Estatuto da Criança e do adolescente, Conselho Tutelar e organismos de proteção e defesa do adolescente;
10) Proposta curricular de Santa Catarina.
Durante este período os grupos socializam sua produção com a respectiva bibliografia e legislação que embasou suas conclusões as quais poderão se tornar um marco significativo para a organização do trabalho pedagógico escolar em 2015.
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