Bienal do Livro
“Isso é arte?” – Debate entre artistas tem pauta sobre o passado, presente e futuro da arte #LITnabienalRJ
Will Gompertz é editor de arte da BBC de Londres e está lançando o livro “Isso é arte?” pela Editora Zahar. Ele foi convidado para uma palestra homônima ao seu livro para o painel Café Literário da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Junto a ele, a escritora alemã Kathrin Passig e o professor de história da arte brasileiro Paulo Sergio Duarte discutiram sobre a obra de Gompertz e os caminhos da arte contemporânea sobre mediação de Fred Coelho.
Will conta que, para escrever seu livro, usou a internet para produzir a maior parte de sua pesquisa. Ele acha incrível o fato de que museus disponibilizam online seus catálogos e textos acadêmicos; uma forma de alcançar o público que os acadêmicos insistem tanto em afastar. Seu livro analisa as obras de arte dentro de determinado contexto e seu processo de criação consistiu em entender a obra academicamente, observá-la, analisar a vida do artista e o contexto em que foi criada para então aplicar seu significado nos dias atuais. A linguagem despojada de vocabulário técnico é para, segundo o autor, quebrar barreiras entre a arte e a vida e que algumas passagens do livro são frutos de sua imaginação sobre como seria estar com determinados artistas em suas épocas, desfrutando de suas esferas culturais.
Um tema abordado durante o debate foi o rumo da arte contemporânea. Os palestrantes opinaram sobre a questão da coautoria na criação de obras, em que Will expressa a opinião de que vivemos numa era de coletividade artística, principalmente nas artes visuais – o que acha um tanto animador. Como exemplo, cita obras resultantes de parcerias, como a dos artistas Helio Oiticica e Neville D’Almeida: “Hendrix-War”, exposta permanentemente no Instituto de Arte Contemporânea Inhotim, em Minas Gerais; e a parceria de Picasso e Braque na criação do movimento cubista. A escritora Kathrin Passig acredita que, na literatura, a cooperação remove responsabilidades individuais da autoria, como prazos, revisões e criticas, citando até o GoogleDocs como ferramenta de criação coletiva. Paulo Sergio Duarte diz que a coautoria está presente na leitura que um individuo faz de uma obra e no impulso que o domina de conflitar, responder ou imitar tal obra.
Gompertz alertou também sobre o fato da arte contemporânea nunca ter sido tão popular como hoje. Artistas tornaram-se marcas com o advento da globalização, diz ele, dando margem para um acesso e despertar sobre arte que antes não comichava na sociedade. Segundo Gompertz, não existe artista que não queria tornar-se público, fato que conflita diretamente com o teor acadêmico e elitista da maior parte das obras de arte, comparando essa não-abertura do meio acadêmico como um apartheid artístico.
O ultimo ponto debatido entre os palestrantes foi sobre a imagem: será ela mais importante do que a palavra no futuro, tendo em vista o advento das novas tecnologias? Um exemplo clássico dessa substituição das palavras por imagens pode ser visto nas redes sociais, em que pessoas compartilham figuras que traduzem seus pensamentos, vontades, sentimentos, etc. Kathrin Passig diz que, há tempos atrás, uma foto precedida por algumas palavras era considerada arte. E que hoje, pelo fato de todo mundo fazer isso pela internet afora, raramente a imagem terá essa importância toda. Paulo Sergio Duarte apela para o fato de que, sem palavras, deixamos de ser pessoas. Gompertz acredita que a cultura visual tem a característica de agregar vários sentimentos e impressões em um só quadro, enquanto a palavra traduz muito bem determinados conceitos, e que apenas na língua e nas palavras é que encontramos poesia.
A escritora alemã Kathrin Passig e o professor de história da arte Paulo Sergio Duarte também participaram do debate.
Will Gompertz finaliza o debate dizendo que Helio Oiticica foi, sem duvida, um dos maiores artistas brasileiros e que arte não se trata de nacionalismo, já que um artista é essencialmente inspirado por vários outros artistas de varias nacionalidades. E deixa para os aspirantes, interessados e visitantes na plateia o seguinte recado: os artistas brasileiros estão respondendo ao chamado da arte de forma muito satisfatória e que o Rio de Janeiro tem tudo para se tornar uma capital mundial da arte.
Uma ultima pergunta (que provavelmente todos no debate já esperavam) surge da plateia, como suspiro final do divertido e leve debate que está para se encerrar: Afinal, o que é arte? Will responde: pouco do que o artista espera, tudo o que o espectador deseja.
Sobre o autor
Má Dias-Maria Carolina Dias, estudante de Comunicação Social na UFRJ. A única coisa que realmente queria na vida não pode mais ter: dividir uma cerveja com o Velho “Buk” (o escritor Charles Bukowski, vítima do terrível ano de 1994 que matou muita gente legal e trouxe alguém que pode não ser tão legal assim).
Comments
entre a plástica e a palavra
realmente, uma discussão que já nos interpela há um bom tempo, mas rende debate, gostei das contribuições valorizando a arte, pelo aporte de emoções que demanda, mas sem desmerecer a palavra, porque esta traduz a emoção trazida pela arte, destaque para a frase: "sem palavras, deixamos de ser pessoas", de Paulo Sérgio Duarte.
Discussão
Muito interessante essa discussão sobre a indagação"Isso é Arte",com certeza um debate que se estenderá em diferentes áreas do conhecimento como: a literatura,filosofia,e a própria História da Arte!
Copiar e Colar - É Só Começar
E hoje em dia, quem quer um quadro " assinado", onde o "autógrafo" é mais importante que a obra?
Foi-se o tempo...