I Minicurso de Objetos do Conhecimento: Álcool

Artigo escrito pela equipe de professores do turno matutino do Centro Educacional São Francisco - Chicão, de São Sebastião / DF.

Autores: Alice Siqueira (língua portuguesa), Andressa Carvalho (sociologia), Andressa Sousa (língua portuguesa), Antônio Jorge de Oliveira (geografia), Carlos Alberto Franco Neto (história), Conrado Volnei Costa (sociologia), Geraldo Andrade (matemática), Ghislaine Porto (Projeto Interdisciplinar), Hellen Saraiva (filosofia), Isis Rocha (coordenadora), José Eugênio Dayrell (coordenador), Lucas Maia (biologia), Luciene Maciel (ensino especial), Manoel Éverton Laurentino (química), Maria Cristina Dominici (artes), Marina Mendonça (inglês), Patrick Tavares (física), Priscila Garcia (matemática), Rafael Abdala (química) e Ricardo Pratesi (filosofia)

 

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Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio – PNEM

Equipe Interdisciplinar: Alice Siqueira (língua portuguesa), Andressa Carvalho (sociologia), Andressa Sousa (língua portuguesa), Antônio Jorge de Oliveira (geografia), Carlos Alberto Franco Neto (história), Conrado Volnei Costa (sociologia), Geraldo Andrade (matemática), Ghislaine Porto (Projeto Interdisciplinar), Hellen Saraiva (filosofia), Isis Rocha (coordenadora), José Eugênio Dayrell (coordenador), Lucas Maia (biologia), Luciene Maciel (ensino especial), Manoel Éverton Laurentino (química), Maria Cristina Dominici (artes), Marina Mendonça (inglês), Patrick Tavares (física), Priscila Garcia (matemática), Rafael Abdala (química) e Ricardo Pratesi (filosofia)

I MINICURSO DE OBJETOS DO CONHECIMENTO
TEMA: ÁLCOOL

Projeto Interdisciplinar desenvolvido durante a formação continuada PNEM
Caderno Ciências da Natureza

Brasília

Novembro de 2014

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo a sistematização, organização, aplicação e avaliação do projeto escolar “I Minicurso de Objetos do Conhecimento – tema: Álcool”.  O álcool é uma das substâncias químicas mais utilizadas pela humanidade. Está presente em forma de combustível, antisséptico e a mais aclamada forma: a da bebida.
Mediante essa variedade de formas e usos, um minicurso foi organizado tendo como referências as proposições da matriz do PAS. A intenção foi estudar o álcool, suas formas e grandezas vinculadas aos elementos que o compõem em sua dimensão material e alguns dos arranjos sociais contemporâneos vinculados ao seu uso.
Esses temas foram abordados por professores de diversas disciplinas, como filosofia, história, sociologia, biologia e química. Com base na abordagem inicial, outros temas foram surgindo, como as relações de consumo, a questão da ética na sociedade e as relações de poder, o que levou a uma grande interdisciplinaridade.

Palavras Chaves – álcool, interdisciplinaridade, objetos do conhecimento, minicurso.

INTRODUÇÃO

O Projeto I Minicurso de Objetos do Conhecimento  surgiu como ideia das estagiárias (PIBID  – estudantes de graduação em Química na UnB e bolsistas da iniciação científica – pibidianas) do professor Rafael Abdala, de química (que também foi pibidiano na Universidade de Brasília – UnB na época do mestrado). Outros professores se interessaram em participar e assim foi concebido e executado o projeto com estudantes do 2º e 3º anos do Ensino Médio no Centro Educacional São Francisco em São Sebastião – DF.
Entre os objetivos estão a elaboração de uma estratégia de ação pedagógica que promova a interdisciplinaridade entre diversas áreas do conhecimento, tendo como base a matriz curricular do Programa de Avaliação Seriada – PAS 2014.
A escolha do tema álcool teve influência da química e das pibidianas, que desejavam trabalhar o conteúdo da química de forma diferenciada, em função da percepção de que a escola ainda é muito tradicionalista, principalmente no ensino das exatas.
Os professores de química, sociologia, história, filosofia e biologia e as pibidianas se reuniram para alinhar as ideias individuais, dividir as tarefas e organizar o roteiro do minicurso. Os outros professores se agregaram à ação para observar a execução e realizar os relatórios. O que possibilitou esta ação pedagógica foi a matriz do conhecimento do PAS, que abre possibilidades de ações interdisciplinares para diversos temas.
O minicurso foi realizado no dia 6 de novembro de 2014, com aproximadamente 50 alunos e 6 professores ministrando o curso, 3 pibidianas, 10 professores encarregados de observar e auxiliar na organização dos dados coletados e na formatação do artigo, e ainda de uma equipe de apoio pedagógico da escola. Teve a duração de 4 horas no contraturno (vespertino). 

OBJETIVOS

Geral:
• Organizar uma estratégia de ação pedagógica entre distintas áreas do conhecimento para a construção do I Minicurso de Objetos do Conhecimento com o tema Álcool, seus usos e seus números.

Específicos:
• Realizar um minicurso para estudantes do 2º e 3º anos do Ensino Médio.
• Apresentar o conhecimento de forma interdisciplinar, possibilitando aos estudantes uma compreensão mais ampla do tema abordado sob a dimensão socioeconômica e os efeitos na saúde.
• Estudar o álcool e as formas e grandezas vinculadas aos elementos que o compõem em sua dimensão material, bem como alguns dos arranjos sociais contemporâneos vinculados ao seu uso.
• Entender as relações de suas propriedades e as condições sociais que lhe deram significado ao longo da história do homem.

METODOLOGIA

Entre as metodologias está a interdisciplinaridade dos conhecimentos, apresentados de forma expositiva e por meio de experimentos, promovendo uma aula dialogada e participativa.
As questões propostas no minicurso têm como referência as proposições da matriz do PAS na forma de abordar cada objeto do conhecimento: o álcool como criação humana, a classificação na construção da realidade, a descrição numérica das coisas, a interpretação da formação do mundo ocidental, o ser humano como um ser no mundo e como um ser distinto de outros seres.
O curso foi dividido em três partes: o álcool como bebida, o álcool como antisséptico e o álcool como combustível. Teve a seguinte estrutura: primeiro momento – a história (história); segundo momento – o álcool como material e substância, estrutura, números, grandeza e forma (química e biologia); terceiro momento – entender como essa substância ou esses materiais constituem o mundo e o ser humano (sociologia e filosofia).
Também foram discutidos os impasses éticos (dependência e alienação) em relação ao consumo de álcool com base no pensamento de Kant (Metafísica dos Costumes) e a cultura e o desejo humanos, segundo o pensamento de Francisco Verardi Bocca (Civilização, finalidade exaustão). Além disso, foi abordada a linguagem poética como elemento sensibilizador e motivador para a reflexão sobre a embriaguez como forma de sentir o mundo e a si mesmo (dissolução do alter-ego). Sob essa abordagem, a embriaguez não é consequência do álcool necessariamente, e o vício não é causado pela forma mercadoria da substância. Também foram recitados os poemas “Embriagai-vos”, de Charles Baudelaire (recitado pelo professor de filosofia Ricardo), e o poema “Álcool”, de Mário de Sá-Carneiro (recitado pela professora de língua portuguesa Andressa).
A avaliação do projeto se valeu da observação direta por um grupo de professores, da avaliação dos professores ministrantes do curso, da avaliação dos estudantes por meio de questionários aplicados antes da explanação e depois dela (para verificar a mudança conceitual/aprendizagem), de entrevistas diretas com os discentes no final do minicurso e de um relatório geral com base nos dados coletados.

REFERENCIAL TEÓRICO

Experimentação no ensino de Ciências

“A experimentação no ensino pode ser entendida como uma atividade que permite a articulação entre fenômenos e teorias. Desta forma, o aprender Ciências deve ser sempre uma relação constante entre o fazer e o pensar” (SILVA, MACHADO e TUNES, 2010, p. 235). Esse trecho trata da relação teoria-experimento, de como o fazer e o pensar devem sempre andar juntos no que tange o ensino de Ciências. Mas, para entender como se dá essa relação, devemos antes entender que papel a teoria e o experimento desempenham no ensino. A experimentação, entre outras coisas, busca trazer para o ambiente de sala de aula fenômenos macroscópicos e observáveis, de forma que a partir desses fenômenos pode-se entender a explicação que a Ciência traz. Essa explicação é denominada de teoria científica e apresenta algumas características interessantes, como descreveremos a seguir.
Uma teoria científica geralmente deve ter potencial para explicar diversos fenômenos análogos, característica essa denominada de generalização. Quanto mais fenômenos análogos essa teoria explicar, maior sua capacidade de generalização. Outra característica interessante com relação às teorias é a sua potencialidade de previsão. Ou seja, de posse de uma teoria, é possível tentar prever o que vai acontecer em determinado fenômeno sobre o qual a teoria versa, antes de ser feita a experiência (SILVA, MACHADO e TUNES, 2010).
São justamente essas duas características de uma teoria científica (generalização e previsão) que conferem um caráter investigativo para a experimentação no ensino. No entanto, entre os professores, é bem comum a concepção de que a experimentação serve para comprovar determinada teoria, e dessa forma melhoraria a aprendizagem dos alunos (SILVA, MACHADO e TUNES, 2010). Essa ideia consiste numa herança do Positivismo de Auguste Comte que tratava o conhecimento científico como uma forma segura e infalível de se ter acesso à realidade.
No entanto, é preciso repensar a atividade experimental de modo a se livrar do viés de comprovação científica acima citada. Para isso, é necessário ampliar a definição de experimentação. Nesta ampliação cabem como atividades experimentais aquelas realizadas em espaços tais como a própria sala de aula, o próprio laboratório (quando a escola dispõe), o jardim da escola, a horta, a caixa d’água, a cantina e a cozinha da escola, além de espaços existentes em seu entorno, como parques, praças, jardins e estabelecimentos comerciais (feiras livres, supermercados, farmácias, oficinas de marcenaria, metalúrgicas, mecânicas etc.). Também podem se inserir nessas atividades visitas planejadas a museus, estações de tratamento de água e esgoto, indústrias etc.
Há uma diversidade de espaços em que atividades experimentais têm grande chance de serem significativas, isto é, são espaços que fazem parte das vivências cotidianas dos estudantes, com possibilidades de atenderem a uma gama de interesses presentes na comunidade em que a escola está inserida (SILVA, MACHADO e TUNES, 2010, p. 244, 245).
Segundo essa ampliação, entendemos atividade experimental como uma tentativa de diminuir a ênfase no conteúdo teórico e isso pode ser feito das maneiras citadas anteriormente. Essa ampliação é importante porque existe a concepção entre os professores que atividades experimentais só podem ser feitas em laboratório, ou seja, há uma visão restrita de experimentação. Essa ideia é problemática, pois atrelar a experimentação a um laboratório acaba sendo motivo de desculpa para os professores não usarem experimentação no ensino de Ciências. Entre os motivos apontados por professores estão a falta, em grande parte das escolas, de laboratórios equipados; os espaços destinados aos laboratórios, que não são suficientes para os alunos; o tempo ínfimo para inclusão de atividades de laboratório; e o trânsito dos alunos para o laboratório, que não é bem aceito pela direção da escola (SILVA, MACHADO e TUNES, 2010). No entanto, se aceitarmos a ampliação do conceito de experimentação, nos livraremos da ideia de que é necessário um laboratório, de modo que todos os problemas citados deixarão de existir.
Com base na ampliação do conceito de experimentação, podemos ter uma noção de como a atividade experimental pode ser benéfica se bem empregada. É necessário reconhecimento de suas potencialidades e limitações como estratégia didática, preparo por parte dos professores e, acima de tudo, disposição para tentar mudar e melhorar a situação em que se encontra a educação em Química. 

Interdisciplinaridade e contextualização

Tem-se muitas vezes entre os professores a concepção de que os problemas formulados nas aulas de Ciências são problemas que necessariamente interessam aos alunos. Essa ideia vem da crença de que esses problemas se tratam de verdadeiras questões da Ciência, e como essas questões motivaram os cientistas, necessariamente motivariam os alunos (NEHRING, 2002). No entanto, observa-se que os problemas que realmente interessam os professores são os que menos interessam aos alunos e, desse modo, professores não conseguem entender por que há o afastamento dos alunos das disciplinas de Ciências (NEHRING, 2002). Uma possível explicação para esse problema seria o fato de os professores se focarem nos problemas exclusivos de sua disciplina e, além disso, o fato de esses problemas só terem interesse acadêmico.
Na tentativa de buscar soluções para a problemática citada, a interdisciplinaridade e a contextualização surgem como possíveis aliadas para tornar o ensino de Ciências mais atraente.
A interdisciplinaridade é estimulada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), partindo do princípio de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, seja de questionamento, de negação, de complementação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos. A interdisciplinaridade também supõe o entendimento de que os programas das diferentes disciplinas escolares são recortes das áreas de conhecimento que representam. A sugestão é de que as escolas organizem diferentes formas de interdisciplinaridade (por exemplo: via métodos e procedimentos, objeto de conhecimento, tipo de habilidades que mobilizam), propondo estudo comum de problemas concretos ou o desenvolvimento de projetos de ação ou investigação. A ideia é de que as disciplinas escolares se tornem didaticamente solidárias para que a escola atinja o objetivo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
A contextualização é proposta nas DCN segundo os pressupostos de que a relação teoria e prática requer a concretização dos conteúdos curriculares em situações mais próximas e familiares ao aluno e de que um ensino que parta das situações da vida cotidiana e da experiência espontânea do aluno possibilita de forma mais efetiva a aprendizagem de conceitos mais elaborados, inclusive os relacionados ao trabalho e à cidadania. (PENIN, 2001, p. 44).
Tendo em vista o que foi citado, podemos ver que seria possível partir de problemas mais próximos do cotidiano dos alunos, para assim possibilitar uma participação mais efetiva por parte desse aluno nas aulas de Ciências. Como seria impossível falar de problemas concretos e mais próximos dos alunos engessado dentro das limitações e abstrações de uma disciplina particular, utilizamos uma abordagem interdisciplinar. Nesse sentido, todo problema contextualizado é essencialmente interdisciplinar (NEHRING, 2002). A não-utilização por parte dos professores dos contextos problemáticos presentes nas ciências acarreta a perda de autonomia por parte do aluno, tornando-o dependente do professor. Dessa maneira, os alunos passam a tomar decisões baseados nas expectativas dos professores e não com base nas recompensas inerentes da aprendizagem (NEHRING 2002). Além disso, devemos lembrar que um ensino preocupado com a formação completa do aluno em Ciência não pode minar sua autonomia. Dessa forma, o professor que diz querer formar indivíduos autônomos deve também optar por propostas de ensino que favoreçam o surgimento da autonomia (PENIN, 2001). Assim, as propostas contextualizadas de ensino convergem com a ideia de que o ensino de Ciências deve favorecer a formação de autonomia do aluno.
Tendo em vista esses argumentos apresentados em favor de uma abordagem dos conhecimentos científicos de maneira contextualizada e interdisciplinar, acreditamos que essa abordagem poderia resolver a problemática inicial aqui levantada, já que, ao aproximar do contexto do aluno o conhecimento científico com suas várias contribuições das diferentes áreas, estaríamos aproximando também os problemas que interessam a professores e alunos. Assim, os problemas de comunicação diminuiriam e ambos falariam a mesma linguagem melhorando muito o ensino-aprendizagem em Ciências.

CRONOGRAMA

Planejamento Execução Avaliação
29/09 a 03/11/2014 06/11/2014 06/11 a 14/11/2014

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O minicurso foi uma experiência bastante significativa para professores e alunos e se colocou como excelente espaço de debate acerca das diversas áreas do conhecimento. Inicialmente apontaram-se vários conhecimentos sobre o álcool na sociedade e, posteriormente, de forma interdisciplinar, ampliaram-se ainda mais esses temas ao abrir margem para a discussão de vários aspectos sociais, culturais, artísticos e filosóficos que perpassaram as abordagens inicialmente previstas.
Questões como a relação de consumo e a ética e o meio ambiente, bem como o surgimento de práticas sociais diversas e a geração de determinados preconceitos e estigmas (como o Ebola dentro da África e fora dela) foram levantadas, debatidas e avaliadas enriquecendo ainda mais o projeto, fortalecendo a importância de se tratar temas sociais no ambiente escolar e corroborando para a prática efetiva da interdisciplinaridade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUDELAIRE, C. Embriagai-vos. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase/NzE4NTg5/>. Aceso em: 30 out. 2014.
BOCCA, F. V. Civilização, Finalidade com Exaustão. Disponível em: <ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/kant-e-prints/Vol-5-1-2010/7-bocca-5-1-2010.pdf>. Acesso em: 30 out. 2014.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. PCNEM – Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, 1997.
KANT, I. Fundamentos da Metafísica dos Costumes. Disponível em:
<http://ufpr.cleveron.com.br/arquivos/ET_434/kant_metafisica_costumes.pdf >. Acesso em: 30 out. 2014.
NEHRING, C. M. As ilhas de racionalidade e o saber significativo: o ensino de ciências através de projetos. Ensaio, Belo Horizonte, v.2, n.1, 2002.
PENIN, S. T. S. Didática e Cultura: o ensino comprometido com o social e a contemporaneidade. In: CASTRO, A. D.; CARVALHO, A. N. P. (Org.). Ensinar a Ensinar: didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Thomson, 2001. p. 33-52.
SÁ-CARNEIRO, M. de. Álcool. Disponível em: < www.novacana.com>. Acesso em: 30 de outubro de 2014
SILVA, R. R.; MACHADO, P. F. L.; TUNES, E. Experimentar sem medo de errar. In: SANTOS, W. L. P.; MALDANER, O. A. (Org.). Ensino de Química em Foco. Ijuí: Unijuí, 2010. p. 231-261.

ANEXOS

Roteiro Minicurso Álcool – História – Prof. Carlos Franco
História do álcool como bebida
- Atualmente observamos uma mudança no nome do usuário recorrente de álcool, de alcóolatra (adorador do álcool) para alcoolista (doente – portador de uma síndrome). Esse detalhe denota uma visão nova, do consumo excessivo que deixa de ser visto apenas como um problema social (público) e passa a ser visto como problema de saúde (individual).
- O uso do álcool como entorpecente pode ser datado em dezenas de milhares de anos. O exemplo para o consumo em ambiente natural vem dos animais, que já ingeriam frutos fermentados, ricos em álcool.
- As primeiras sociedades de agricultores, quando passaram a armazenar grãos (arroz, cevada, trigo) em potes de argila começaram a dominar os processos de fermentação, que produziram as primeiras bebidas alcóolicas.
- Bebidas como vinho, cerveja, cauim, sake, são características de determinadas sociedades, e são usadas em celebrações, rituais, cultos, festas, tendo importância fundamental para o funcionamento destas sociedades.
- Os usos do álcool foram muito variados, dependendo da sociedade e período em que foi usado, e vão do uso social, terapêutico, religioso, recreativo. Em determinadas situações e culturas o álcool pode ser aceito e bem visto, e em outras ser parcialmente ou totalmente condenável.
Fonte: BERTONI, Luci Mara. Reflexões sobre a história do alcoolismo. Faculdades Integradas Fafibe; Bebedouro, São Paulo.

História do álcool como antisséptico:
- Os egípcios antigos já usavam o álcool como antisséptico há mais de três mil anos atrás.
- No século XIX (1800´s) Pasteur considerava o vinho a mais higiênica das bebidas.
- Até o fim dos 1800´s, com os avanços tecnológicos como o microscópio e estudos nas áreas da saúde, é que se determinou a eficácia do álcool para alguns casos de assepsia ou como antisséptico. Antes desse período, não se confirmavam cientificamente a existência dos microrganismos.
- Ainda que não houvesse formulações teóricas sobre a eficácia do uso do álcool como antisséptico, já existiam registros deste tipo de uso, em diversos povos, desde a Antiguidade. Ainda hoje o álcool pode ser usado como antisséptico ou asséptico das mais diversas formas: para limpar equipamentos médicos, ferimentos ou para ingestão.
Fonte: www.cisa.org.br  - História do álcool

História do álcool como combustível:
- O programa que institui o álcool como uma fonte energética prioritária para o Brasil, o Pró Álcool, foi criado em 1975, durante o governo militar. No entanto, desde 1933, com a criação do Instituto do Açúcar e Álcool, já existiam regulamentações para o uso do álcool como combustível (misturado com a gasolina que era importada).
- A partir de 1942, no contexto da Segunda Grande Guerra, a indústria alcooleira foi declarada de interesse nacional pelo Governo de Getúlio Vargas, e passou a ser protegida.
- Durante o regime civil-militar, em 1969, o governo passou a intervir na produção do álcool, por motivo de segurança nacional. O governo passou a incentivar, proteger e controlar a produção do álcool. A principal mudança veio em 1975, quando o álcool passou a ser usado como combustível principal (sem ser adicionado apenas a gasolina). Em 1979 foi lançado o primeiro carro nacional movido a álcool.
- Em 1988, durante o processo de redemocratização, o governo deixou de intervir diretamente na produção, e foi estabelecida a criação das agências reguladoras.

Poesias
Fonte: www.novacana.com

Álcool
Mário de Sá-Carneiro

Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longamente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.

Batem asas d'auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Desce-me a alma, sangram-me os sentidos.

Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo -
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...

Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de ouro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...

Que droga foi a que me inoculei?
Ópio d'inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eterizo?

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que eu ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu.

Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'

Embriagai-vos
Charles Baudelaire

É necessário estar sempre bêbado.
Tudo reduz a isso, eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem tréguas.
Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude,
como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio,
sobre a verde relva de um fosso,
ou na desolada solidão do vosso quarto,
despertardes com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
perguntai ao vento, à vaga, e a estrela e o pássaro

e o relógio hão de vos responder:
– É hora de embriagai-vos!
Para não serdes os martirizados escravos do tempo,
embriagai-vos; embriagai-vos, sem cessar!
De vinho, de poesia, ou de virtude,
como achardes melhor.

Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/NzE4NTg5/