Dentre as várias possibilidades advindas do currículo interdisciplinar sempre me pareceu interessante poder me utilizar de outras áreas do conhecimento sem o caráter de especialista. A autoridade do discurso pode muitas vezes impedir que surjam novas perspectivas sobre um objeto exclusivo de determinada área do saber. Não quero com isso tirar da cartola mágica dos achismos tratados filosóficos ou a cura de algum mal secular, mas dentro de minhas experiências enquanto pesquisador, deixar que meus estudos literários se modifiquem por outras questões aparentemente exteriores.
Um exemplo, de tantas possíveis abordagens científicas sobre energia, o conceito de entropia, os físicos da termodinâmica ou os químicos que estudam as variações do estado da matéria geralmente reclamam do uso leigo desse termo associado livremente à ideia de desordem. A entropia dentro da perspectiva científica é antes um não aproveitamento energético necessário, aquela parte energética do sistema não convertida em trabalho, mas que ajuda a equilibrar o sistema, ou coisa que o valha, mais ou menos como dizia Chico Science “Pois eu me organizando posso desorganizar/ E eu desorganizando posso me organizar”, o equilíbrio só é possível porque acontece em meio ao desequilíbrio.
Assim também ocorre com a linguagem literária em muitas situações, o estilo de um autor é tal como o a entropia termodinâmica, ele mesura o grau de irreversibilidade do sistema linguístico, representa uma ruptura em relação ao estado ordinário, dicionarial da linguagem, sem a literatura a linguagem escrita permanece estática, um sistema em equilíbrio. A literatura é a desordem necessária para que o sistema escrito possa modificar-se e reestabelecer novos parâmetros e novas possibilidades ainda inexploradas pela tradição...