Diógenes e Chaves, Vida de Cão e Peludinho

.....................................................                                                                                                                                                            .....................................

 

 

 

"A virtude de bem viver está nos princípios morais, minha filha."
(Seu Madruga)

"Eu não moro no barril, eu só entro no barril porquê... bem, você sabe... pra... "
"Só por esporte."
"Isso!"
(Diálogo entre Chaves e Kiko)

A primeira coisa que viria a mente de qualquer estudante de filosofia que se propusesse a escrever sobre Chaves e a filosofia provavelmente seria Diógenes, o cínico.

O Cinismo foi uma corrente filosófica fundada por um discípulo de Sócrates, chamado Antístenes, e cujo maior nome foi Diógenes de Sínope, que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos.

O termo passou à posteridade como adjetivação pejorativa de pessoas sem pudor, indiferentes ao sofrimento alheio.
(quem duvida que vá a Wikipédia)
A maior das coincidências entre os dois é que Diógenes tinha como "residência" um barril ou um Tonel (aqueles compartimentos de colocar vinho que muitas vezes aparecem em desenhos animados), aliás os dois não, pois é de conhecimento de todos que o garoto Chaves não vive em um Barril ele mora com الملك منصبه فخري و رن و واحدئيس الوزراء هو الحاكم الفعل , aliás esse é um segredo que perdura por todo seriado, e eu revelando aqui em primeira mão, não precisam agradecer. Mas o caso é que sempre que alguém pergunta , antes de alguém o cortar(sempre acontece isso) ele sempre nega que mora em um barril, e termina perguntando como alguém pode viver em um barril. Só perguntando a Diógenes mesmo, que só passou a viver em um barril porque quando ordenou que construíssem uma casa , não foi atendido, daí ele teve que improvisar uma moradia com o barril, creio que Chaves fez o mesmo improvisando um esconderijo que é a verdadeira função do barril no seriado.
No livro o mundo de Sofia de Jostein Gaarden a origem do Cinismo é definida numa passagem da vida de Sócrates: estando este a passar pelo mercado de Atenas, teria exarado o comentário:

Vejam de quantas coisas precisa o ateniense para viver

Ao mesmo tempo demonstrava de que de nada daquilo dependia. De fato, o que o filósofo propunha era a busca interna da felicidade, que não tem causas externas - aspecto ao qual os cínicos passaram a defender, não somente com palavras, mas pelo modo de vida adotado.

A representação de Diógenes no barril torna-se um símbolo do pouco que é suficiente para viver. Lógico que não estou dizendo que obrigatoriamente o Roberto Gomez Bolaños (criador do Chaves e próprio Chaves d'oh,ops isso é dos Simpsons) tinha em mente Diógenes ao criar o personagem , aliás nenhumas das idéias aqui expressas quer desvendar o que Chespirito tinha em mente ao criar seus personagens e o seriado. Mas toda essa idéia vai de encontro do menino pobre que vive com pouco e mesmo assim vive.
O termo “cínico” vem da palavra grega kuón, que significa “cão”, provavelmente por causa da identificação de Diógenes com os cães.Embora há quem diga que o nome originou-se do local onde Antístenes teria fundado sua Escola, o Ginásio Cinosarge.Não sei porque simpatizo mais com a primeira hipótese.
Cão ou não Diógenes ia bem além de brincar de dar mordidinhas, afrontando os costumes indo a praça, como se dizia , prestar suas homenagens a Deméter e Afrodite, e ainda com a mão ativa, dizer: "Quem dera eu poder matar a fome só de esfregar a barriga" (Fonte: Times new Roman digo , Arqueologia dos Prazeres Fernando Santoro) .

Ao contrário da acepção moderna e vulgar da palavra para o cinismo, o objetivo essencial da vida para os "cínicos" era a conquista da virtude moral, que somente seria obtida eliminando-se da vontade todo o supérfluo, tudo aquilo que fosse exterior. Defendiam um retorno à vida da natureza, errante e instintiva, como a dos cães.

Afirmavam que dispunha o homem de tudo que necessitava para viver, independente dos bens materiais. A isto chamavam de Autarcia (ou a variante, porém com outra acepção mais difundida, Autarquia) - condição de auto-suficiência do sábio, a quem basta ser virtuoso para ser feliz. O termo grego original é autárkeia - significando auto-suficiência. Além dos cínicos, foi uma proposição também defendida pelos estóicos.

Desacredita nas conquistas da civilização, e suas estruturas jurídicas, religiosas e sociais - elas não trariam qualquer benefício ao homem. Sendo auto-suficiente, tudo aquilo que naturalmente não é dado ao homem pelo nascimento (como o instinto), não pode servir de base para a conceituação da ética. Este pensamento pode ser encontrado no mito do "bom selvagem", de Rousseau.

(quem não acredita retorne a Wikipédia)

Encontramos assim outra semelhança entre os dois, pois para um menino de oito anos Chaves é por demais independente.

A vida do Cínico para Diógenes se baseava sobre o exercício e sobre a fadiga, considerados como instrumentos necessários para viver feliz,para saber dominar todos os prazeres e para alcançar a plena liberdade. Ou seja a doutrina cínica era "antiJaimista" promovendo a fadiga e não evitando-a como faz (tenta) o nobre carteiro.
Conta-se que no calor do verão Diógenes rolava na areia e no frio se abraçava ao mármore gelado, tudo isso pela independência e autarquia radical até ante as intempéries da natureza.
Quando perguntavam à Diógenes o que tinha feito para que o chamassem de cão, ele respondia:

"Costumo fazer festa para quem me dá alguma coisa, rosnar para quem me rejeita, e cravar os dentes nos crápulas." (Peludin din din...)

Vejo "Diógenes em Chaves" e até "Chaves em Diógenes" , encerro com esse diálogo que mostra Chaves em Diógenes:

Estava Diógenes jantando seu costumeiro prato de lentilhas, quando Arístipos se aproximou. Arístipos, de Cirene, era também filósofo, adepto do prazer como único bem absoluto na vida. Para poder levar uma vida confortável, vivia sempre bajulando o Rei.

Disse, então, Arístipos a Diógenes: —Se aprendesses a bajular o Rei, não precisarias reduzir tua alimentação a um prato de lentilhas.

Por sua vez, Diógenes retrucou: — E tu, se tivesses aprendido a te satisfazeres sempre com um prato de lentilhas, não precisarias passar tua vida bajulando o Rei.

Pode ser que seja coincidência, ou pode ser que não. O mais correto é "quem sabe".

Comunidades: