Conclusão do Ensino Médio vem com dilemas

 Jonas Ramos, especialNecessidade de viver o agora e a opção por escolhas imediatistas muitas vezes causam evasão escolar ou atraso nos estudos = Foto: Jonas Ramos, especial

 

 

Fernanda Fedrizzi  |  fernanda.fedrizzi@pioneiro.com

O desejo por autonomia, a ânsia pelo primeiro emprego, os planos a curto prazo são características comuns entre jovens prestes a concluir o Ensino Médio. Mas a necessidade de viver o agora e a opção por escolhas imediatistas muitas vezes causam evasão escolar ou atraso nos estudos.

Nilda Stecanela, diretora do Centro de Filosofia e Educação da Universidade de Caxias do Sul (UCS), professora do mestrado em Educação e da rede municipal, acredita que o Ensino Médio passa por uma crise de sentidos. Embora não se possa traçar um único perfil, é possível verificar tendências.

Ao estudar os jovens, Nilda constata decisões por caminhos abreviados, quando a opção pelo primeiro emprego vem antes do estudo para poder subsidiar o consumo. Em Caxias, segundo dados da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), a taxa de abandono do Ensino Médio em escolas da rede estadual é de 13,1%. Ao todo, 23.591 estudantes frequentam essa etapa no município, de acordo com dados do Ministério da Educação.

Conforme Nilda, o trabalho nesta fase geralmente serve para garantir participação nos processos sociais. Além disso, os planos frequentemente são de curto prazo, para daqui a seis meses a um ano. Dessa forma, a pesquisadora acredita que fica difícil projetar a entrada na universidade antes de conseguir o sustento para administrar a própria vida.

O raciocínio de Nilda combina com pesquisa divulgada pela Fecomércio, sobre gaúchos da Geração Y, aqueles nascidos entre 1982 e 2000. Estudo com 800 jovens em 31 cidades do Estado revela que 82,5% desejam autonomia. Para 97,5%, o trabalho é fundamental. A pesquisa também aponta tendência em não fazer planos para longo prazo.

Em Caxias, há jovens que dão exemplo e conseguem realizar os desejos de emancipação sem abandonar os estudos.

A estudante da Escola Estadual Evaristo de Antoni Renata da Silva, 17 anos, está no 3º ano do Ensino Médio e tem uma filha de quatro meses, Ana Julya. Com o nascimento da menina, está deixando a casa da mãe para morar com o companheiro. Com a autonomia, há a vontade de cursar Educação Física:

– Agora, tenho mais responsabilidades, não posso parar de estudar.

Colega de turma de Renata, Gabriel Zanetti, 17, também mantém estudo e trabalho. Desde os 14, ele ajuda na empresa de carvão do pai. A convivência estimula no jovem o desejo de cursar Administração de Empresas, para dar sequência ao comércio da família. A dupla jornada às vezes cansa, mas traz também a noção do que é ter responsabilidade e compromisso.

A geração que cresceu rodeada de excesso de informação acaba desenvolvendo também inúmeros interesses. Gislaine de Oliveira, 18, trabalha em uma empresa de joias, sonha em ser psiquiatra, quer aprender inglês e gostaria de tocar um instrumento musical. Um dos objetivos da estudante é proporcionar uma vida melhor aos pais.

Giédry Boldori, 17, já fez curso técnico no Senai, trabalha em uma loja de aquarismo, simpatiza com a área da Biologia, e ao mesmo tempo, aprecia o curso de Relações Públicas.