Colégio Almiro Sartori - Etapa II - Caderno IV

Colégio Estadual  Almiro  Sartori – Foz do Iguaçu

Etapa II – Caderno IV

Coodenadora: Josete de Lourdes Corbacho Teixeira

Professores: Alexandre Daniel Beuter, Claudio Roberto Brandalise, Denis Galbo Nunes Alves, Edirlene dos Santos Fritsch, Francis Mara Rodrigues Bueno, Jacqueline Pereira Lins, Marcos Fernandes Peres, Priscila de Bem Silva, Rosilene Matheus, Sara Maria Gabriel e Sérgio Monteiro.

Reflexão e Ação

Linguagem e Desenvolvimento em Kaspar Hauser


 
O filme “O Enigma de Kaspar Hauser”, Herzog 1974, narra a história real do misterioso homem encontrado na praça pública de Nuremberg – Alemanha –, em 1828, com apenas uma carta destinada ao oficial da guarda. É nesse cenário, da Alemanha do século XIX, que a trama do filme se desenrola e traz muita reflexão para todos.
Essa é uma história que possibilita diversos focos de discussão, sejam eles no campo filosófico, psicológico, sociológico etc. O roteiro do longa, em si, deixa margem para que tais análises possam ser feitas, destacando importantes pontos da história e trazendo diálogos que demonstram a evolução do personagem central. Apesar das diversas possibilidades de pontos a serem abordados, detenho-me nas consequências do isolamento que Hauser vivenciou.
Kaspar Hauser viveu enclausurado durante grande parte de sua vida, sendo alimentado por um homem misterioso, que lhe dava apenas pão e água – motivo pelo qual, mais tarde, Hauser não consegue comer carne e beber álcool –, cresceu sem ter contato social, privado da linguagem, sendo assim não desenvolveu muitas características sociais.
Segundo Borges e Salomão (2003) a linguagem é uma das primeiras formas pela qual o indivíduo se socializa, além disso, é através dela que é possível a criança ter contato com vários aspectos sociais, antes mesmo de aprender a falar.  E é justamente nesse ponto que Hauser sofreu grande déficit, pois o isolamento ao qual foi submetido o impediu de ter acesso a linguagem e, consequentemente, ele teve que passar, posteriormente, por um processo de aprendizagem intenso, aprendendo em pouco tempo o que poderia ter aprendido ao longo da sua vida.
De acordo com Rocha (2005), para Piaget, aprendizagem é a obtenção de determinada resposta, que foi adquirida através de uma experiência particular. Já o desenvolvimento é definido como a aprendizagem em si, que proporciona a formação de conhecimentos. Assim, Hauser não foi apenas privado da aprendizagem, mas também ficou impossibilitado de se desenvolver devidamente, sem conseguir demonstrar emoções, compreensão acerca do que via e ouvia. Suas reações eram mais instintivas e não racionais.
  Existe dentro da sociedade uma variação de contextos, que é marcada pelos diversos modelos de utilização da linguagem, que é oferecida pela cultura, através dos modos de vida e das interações distintas do meio social dos sujeitos (BORGES e SALOMÃO, 2003). Essa variação de contexto possibilita aos indivíduos a aquisição de diferentes comportamentos, linguagens, características etc, porém, por não ter tido acesso ao meio social, Hauser não teve contato com os vários contextos existentes na sociedade local, o que o limitou aos comportamentos instintivos e o privou de desenvolver a linguagem.


Apesar de Hauser ter vivido por muito tempo sem contato com outras pessoas, sem contato com a linguagem, sua capacidade de aprender permaneceu. Isso é perceptível, pois ao passar a viver em sociedade ele foi aprendendo a falar e agir de acordo com os parâmetros sociais, do contexto em que estava inserido. Essa aprendizagem trouxe resultados a longo prazo, pois tudo lhe era desconhecido, estranho e de difícil compreensão. Logo, o que uma criança poderia aprender em menos de um dia, Hauser levava mais tempo para aprender. O desenvolvimento tardio lhe trouxe alguns prejuízos, porém ainda assim ele foi capaz de pensar, sentir, aprender.
O Enigma de Kaspar Hauser não é apenas um filme contando a história de um homem que viveu socialmente isolado, é também um filme que retrata a importância da interação social, da convivência com a linguagem, mostrando que apesar da subjetividade humana e das características individuais de cada sujeito, o desenvolvimento é possível através da socialização, da dinâmica entre organismo e ambiente.