"Fábrica de Escolas do Amanhã"

 

 

 

............................. "Eis a propaganda da prefeitura do Rio de Janeiro no jornal O Globo ontem. Sobre a educação no município, dizem: "nossa linha de produção é simples".

Como bem disse o professor Tarcísio Motta, "eles só assumiram o que sempre pensaram sobre educação, que escola é fábrica. O que pretendem é uniformizar o processo pedagógico e tirar a alma das escolas. Essa é uma concepção de educação que não nos serve".

Nós trabalhamos e lutamos por uma educação pública de qualidade, acessível a todos e todas. Acreditamos em um ensino laico, crítico e que ensine nossas crianças a ler o mundo. Isso só é possível com autonomia para os profissionais de educação.

Uma escola na Ilha do Governador é diferente de uma escola na Pavuna, diferente de uma escola no Méier, no Leblon. Quando a escola recebe um projeto de cima para baixo ela fica engessada e não pode transformar a realidade, porque ela não consegue se apropriar daquela realidade em seu dia a dia escolar.

Relembrando Paulo Freire, "escola é, sobretudo, feita de gente. Gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima". Nós precisamos que as nossas escolas voltem a ter ALMA".

#EquipeMarceloFreixo

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imagem de Reinaldo Ramos da Silva

"CIEPS" do século XXI?

São os pretensos CIEPS do século XXI, só que desprovidos da concepção pedagógica elaborada por Darcy Ribeiro (link)As linhas de montagem assumem sem disfarce o projeto de divisão social do trabalho, reforçado pela interferência crescente de fundações privadas no ensino público e pelo "zeitgeist" da atual fase do capitalismo, conforme apontou o professor Paulo Carrano em uma conversa que precedeu esta postagem, via Facebook. 

As linhas de montagem serão vendidas ao público assim: como a reencarnação do ideal pedagógico que multiplicou escolas pelo estado nos anos 80 e 90 durante os governos Leonel Brizola. A "fábrica de escolas", leva, ironicamente, seu nome, cujo legado político ainda ocupa um lugar destacado no imaginário popular. Daí o interesse em revisitar o conceito, ou melhor, a forma: multiplicar escolas, mas com um compromisso ideológico bastante diverso daquele que moveu Darcy Ribeiro quando da concepção dos CIEPS. As escolas "pré-fabricadas" serão as "UPAs" da educação: replicadas a baixo custo, objetivando causar uma impressão de ampliação da intervenção do estado na área. Mas a discussão da concepção tanto da gestão da saúde quanto da educação que está por trás destas "fábricas" fica oculta aos olhos da maior parte da população: as OS na saúde e as ONGs na educação ampliando o processo de gerenciamento empresarial nas entranhas do estado. 

A peça publicitária evoca de pronto o visionarismo do musical "The Wall" dirigido no início dos 80 por Alan Parker, inspirado no álbumo homônimo da banda inglesa Pink Floyd: a escola como guardadora da divisão social social do trabalho. O citado "zeitgeist" contemporâneo que tem na meritocracia um dos seus eixos estruturantes naturaliza a existência de escolas públicas de variadas categorias. Em um trecho de um documento da secretatria de educação do estado do Rio de Janeiro, acessível neste link, e que versa sobre a necessidade de processos seletivos para escolas de parceria público-privada , esta concepção fica exposta também sem nenhum prurido:

"Por que é necessária a realização de Processo Seletivo para essas unidades?• As unidades que participam do Processo Seletivo são unidades de excelência que oferecem propostas diferenciadas e são reconhecidas por seu caráter inovador;•  São unidades premiadas, inclusive, internacionalmente e que oferecem currículo integrado e horário integral;•  Os cursos são muito disputados criando procura infinitamente superior ao número de vagas oferecidas."

A tomar esta lógica como medida universal, em breve teremos talvez hospitais públicos de excelência, onde só serão admitidos pacientes cujo mérito em receber um atendimento de qualidade seja devidamente analisado, medido e julgado, de maneira a fazer jus às suas aptidões prévias. E tudo isto, noticiado em TV e jornal, é apresentado com uma naturalidade cínica que chega a nos confundir se o assunto é previsão do tempo ou o informe do trânsito.

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