Brasil está longe demais do nível olímpico, atesta Joaquim Cruz

esportes.jpgNenhum país que se dispõe a sediar os Jogos Olímpicos quer fazer feio em casa. A cinco anos das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o Brasil tem poucos nomes com chances de medalha no atletismo. Para se ter ideia, a China preparou seus atletas para a edição de Pequim (2008) com 10 anos de antecedência. O investimento colocou o país em primeiro lugar no quadro geral de medalhas (51 ouros, 21 pratas e 28 bronzes), enquanto o Brasil ficou em 23º (três ouros, quatro pratas e oito bronzes). Seria possível pular 22 posições em apenas oito anos? Para o medalhista olímpico Joaquim Cruz, nenhuma chance. “O problema do Brasil é que o esporte de base está fraco. Não tem esporte na escola. A base tem que ser consertada agora para que os resultados apareçam em 2020, 2024. Não dá mais tempo para 2016. O Brasil tem que buscar a renovação para acompanhar os outros países”, alertou.

Em entrevista ao Correio, o ex-atleta lamentou a escassez de novos nomes no atletismo e afirmou estar preocupado com o futuro da modalidade no país. “Hoje, temos poucos atletas com chances reais de medalha para 2012 (Olimpíadas de Londres). Maurren Maggi (atual campeã olímpica do salto em distância) e Jadel Gregório (prata no salto triplo, no Mundial de Osaka, em 2007) estão na reta final da carreira. E a maior aposta tem 29 anos, que é a Fabiana Murer (atual campeã mundial indoor no salto com vara).”

Dono da primeira medalha de ouro do país em prova de pista em Olimpíadas, a vitória do brasiliense nos 800m rasos dos Jogos de Los Angeles (1984) foi transmitida, pela primeira vez, ao vivo para o Brasil. O menino nascido em Taguatinga marcou a história do esporte brasileiro e ganhou respeito e admiração também no exterior. Mesmo morando há 30 anos nos Estados Unidos e se dividindo entre a comissão técnica da seleção paraolímpica norte-americana e o trabalho na reabilitação de militares, no Hospital da Base Naval, Cruz não se desligou da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e continua preocupado com as dificuldades da modalidade no Brasil.

Prestes a completar 48 anos (no próximo dia 13), sua experiência no atletismo, conquistada ao longo de mais de três décadas, é bastante disputada. Mesmo com contrato para participar do treinamento dos atletas norte-americanos para as Paraolimpíadas de 2016, ele recebeu um convite da CBAt para voltar ao Brasil, mas não demonstra segurança para tomar a decisão. “Tenho um contrato com eles (EUA), mas nada impede que eu aceite uma proposta para retornar. A CBAt fez um convite para que eu voltasse assim que o Brasil foi eleito sede para os Jogos de 2016, mas não aceitei porque minha vida influencia na da minha família, que está toda lá (nos EUA). Não é fácil.”

Experiência
Em contato com o modelo norte-americano, Cruz disse acreditar no preceito de que é na escola que a criança toma gosto por uma modalidade e nela se empenha podendo tornar-se profissional. “Nos EUA, a educação passa pelo esporte e começa dentro de casa. O pai incentiva o filho, o leva para treinar em um centro olímpico. No ensino médio, ele escolhe o esporte que quer fazer. No Brasil, mudaram a grade da educação física, mas em 40 minutos não dá para fazer um trabalho bom. Nos EUA há a opção de se dedicar mais aos treinos e, do ensino fundamental à universidade, não podem assinar contrato com clubes. É completamente amador. É um modelo em que todos ganham. Na verdade poucos se tornam atletas, mas todos têm contato com os esportes e criam a consciência sobre a importância deles”, comentou.

QUEM É ELE
Nome: Joaquim Carvalho Cruz
Nascimento: 12/3/1963 — em Taguatinga (DF)
Altura: 1,88m
Peso: 78kg
Principais títulos: prata nos 800m do Mundial de Helsinque (1983);
ouro nos 800m da Olimpíada de Los Angeles (1984); prata nos 800m
da Olimpíada de Seul (1988); ouro nos 1.500m dos Jogos Pan-Americanos
em Indianápolis (1987) e Mar del Plata (1995).

Longo caminho

Confira o desempenho do Brasil
no quadro geral de medalhas nas últimas três Olimpíadas, comparado ao dos três melhores e países-sede:
» 2008 — Pequim (China)
1º China — 51 ouros, 21 pratas
e 28 bronzes
2º EUA — 36 ouros, 38 pratas
e 36 bronzes
3º Rússia — 23 ouros, 21 pratas
e 28 bronzes
23º Brasil — três ouros,
quatro pratas e oito bronzes

» 2004 — Atenas (Grécia)
1º EUA — 35 ouros, 40 pratas
e 28 bronzes
2º China — 32 ouros, 17 pratas
e 14 bronzes
3º Rússia — 27 ouros, 27 pratas
e 38 bronzes
15º Grécia — seis ouros,
seis pratas e quatro bronzes
16º Brasil — cinco ouros,
duas pratas e três bronzes

» 2000 — Sydney (Austrália)
1º EUA — 40 ouros, 24 pratas
e 33 bronzes
2º Rússia — 32 ouros, 28 pratas
e 28 bronzes
3º China — 28 ouros, 16 pratas
e 15 bronzes
4º Austrália — 16 ouros, 25 pratas
e 17 bronzes
52º Brasil — nenhum ouro,
seis pratas e seis bronzes