Memória de jovens: diálogos intergeracionais na cultura do Charme
RESUMO
Esta tese trata da existência da memória juvenil e das diversas formas de os jovens lidarem com ela, assim como da relevância do passado, das lembranças que povoam e constroem a memória de jovem, na elaboração de suas identidades e trajetórias. A memória é reelaborada constantemente através do contato com as experiências vivenciadas em processos de socialização cujos ambientes se destacam os adultos e a família. A pesquisa foi realizada nos bailes de Charme, que se caracterizam como manifestação cultural específica da cidade do Rio de Janeiro constituída pelo encontro, pela socialização entre os indivíduos em torno da dança, dos estilos musicais relacionados à Black Music. Foram empregados questionários semi-estruturados com perguntas relacionadas aos aspectos pessoais dos jovens. Posteriormente, foram selecionados oito jovens com os quais foram feitas entrevistas aprofundadas, com os objetivos de os caracterizarmos de acordo com a relação que estabelecem com a cultura charmeira e de os conhecermos através do contexto de geração, família, escola, trabalho, assim como da memória. A análise das entrevistas permitiu a construção e tematização da tese, que resulta do esforço em entremear, em tecer o teórico e o empírico através de outras categorias e conceitos derivados apontados no campo, pelos indivíduos, e que expressam a complexidade dos estudos sobre juventude. Para os entrevistados, os processos de escolarização e acesso ao mercado de trabalho são marcos importantes na construção de suas trajetórias pessoais. Por outro lado, é no campo da cultura que elaboram e expressam suas identidades e reafirmam suas subjetividades em ambientes cujas relações intergeracionais contribuem para ampliar e fortalecer sua capacidade de ação e de participação em diversos segmentos da vida social. Observou-se que a memória do jovem é acionada todas as vezes que ele volta ao passado para buscar os referenciais que possam reorientar ou reafirmar a sua trajetória. Há uma memória juvenil construída, principalmente, no campo da cultura que está demarcado pelas trocas entre as gerações. Por intermédio da memória, o jovem encontra os elementos importantes para se constituir como indivíduo dotado não só de memória, como também de uma identidade que o constitui enquanto sujeito de suas ações. O jovem é, na sociedade contemporânea, a interseção de vários mundos. É a singularidade de outras experiências. Viver é uma experiência, simultaneamente, individual e relacional, é apoderar-se da própria vida através do saber da experiência. E a juventude, por si, já é uma experiência particular de viver uma geração.