Vamos “levar a sério” a conversa sobre drogas no ensino médio!
É preciso falar sério sobre os assuntos ligados às drogas, como todos sabem “prevenir é melhor do que remediar”. E prevenir um vício é possível, com ações embasadas em conhecimentos científicos, relatos de experiências de vida e muita persistência. É obvio que devemos respeitar o livre arbítrio do jovem de arriscar-se ao vício, porém podemos conscientizá-lo de que nem todos conseguem sair deste quando quiserem. Sabemos também que muitas escolas estão inseridas em bairros de grande circulação de drogas, preocupando aos pais a ida dos filhos à escola, a possibilidade de sofrerem violência na rua, suas amizades, etc.
Os professores têm muito a contribuir na conscientização de adolescentes e jovens sobre as consequências do uso de drogas, fazendo isso na fase de vida humana mais necessária. Gostaria de sugerir aos professores aprofundamentos sobre a temática das drogas, iniciando por algumas questões, para que possam trabalhá-la melhor na escola. Palestras feitas aos alunos (do tipo uma vez por ano) alertam para o perigo das drogas, mas não conseguem estabelecer um diálogo franco e aprofundado com os mesmos; Se a palestra for superficial e sem interação, dificilmente conseguirá convencer o público adolescente de que não vale a pena usar drogas, e logo cairá no esquecimento.
Para se lidar com o tema “drogas” é necessário um mínimo de conhecimentos, e como os assuntos relacionados a ele são muitos, pode haver certa angústia por parte do professor. As informações apresentadas não podem ser generalistas, como se todas as drogas fossem iguais, e nem com pouca fundamentação, pois causarão insegurança e desmotivação para se dialogar sobre as mesmas. A ementa relacionada a esse tema é ampla, tal que o professor nunca dominará totalmente o assunto. Veja o que se pode abordar:
O que os modelos jurídico e médico definem sobre droga?
O que é droga lícita e ilícita?
Que benefícios as drogas trazem à pessoa no momento do uso?
Quais são os motivos que levam alguém a usar drogas?
Quais são as consequências imediatas e as de mais longo prazo que afetam o usuário de tabaco, álcool, maconha e crack?
Por que o crack é uma droga tão preocupante para a sociedade?
É possível recuperar uma pessoa dependente de crack? E de cocaína?
Que relações existem entre drogas e violência; drogas e identidade juvenil?
Qual é a ideia principal do paradigma proibicionista e do paradigma de redução de danos?
Que ações estão sendo feitas como redução de danos aos usuários?
Quais são as penalidades para o uso e o tráfico de drogas ilícitas, de acordo com a Lei de Execução Penal (LEP)?
O uso de maconha e de crack deixa sequelas no desenvolvimento físico e mental do adolescente?
Quais são as consequências do consumo de drogas durante a gravidez, para a usuária e para o bebê?
Por que motivo tantos jovens presos retornam ao uso de drogas e reincidem, cometendo delitos novamente quando saem da prisão?
O que os pais podem fazer para ajudar seu filho a superar um vício?
Você conhece algum caso de superação de vício? Conte sobre ele.
Essas e outras questões podem ser trabalhadas primeiramente com professores, depois com os alunos, proporcionando outras abordagens sobre a temática das drogas no ensino médio. As respostas para cada questão devem ser construídas coletivamente, com a colaboração de profissionais habilitados, de pesquisa acadêmica e a participação de alunos e comunidade escolar. Antes de levar as discussões aos alunos, é aconselhável que os professores se reúnam, estabelecendo um consenso, para então provocar-lhes as discussões pertinentes ao tema, tais como:
Quais são as regras sobre fumar dentro da escola?
Pode se consumir bebidas alcoólicas em festas promovidas pela escola?
Qual deve ser o procedimento se um educador constatar uso de drogas ou tráfico dentro da escola?
Qual deve ser o posicionamento da escola e da família em relação ao jovem que consome drogas?
Que medidas serão tomadas no caso de não serem cumpridas as regras?
Todos os alunos conhecem as regras, e tem a possibilidade de sugerir mudanças caso não concordem com elas?
O que será comunicado aos pais?
Os pais foram consultados (por meio de questionários, entrevista ou reunião), e deixaram suas opiniões, dúvidas ou discordâncias em relação a esse assunto?
A vizinhança próxima a escola, como bares, padarias, pontos de taxi e outros estabelecimentos, colabora para a venda de cigarros e bebidas para menores de 18 anos? Ela é parceira da escola?
Que alternativas poderíamos propor às pessoas que pensam em usar drogas ilícitas (em situação de risco), a fim de superar suas frustrações ou buscar prazer através delas?
Quando for dialogar com adolescentes e jovens, o professor deve ressaltar que a maioria normalmente não está envolvida com drogas ilegais, não bebe pesadamente e não fuma; É uma minoria que está envolvida ou corre risco de apresentar problemas relacionados ao uso de drogas. E que esse trabalho visa a aumentar as chances de que as pessoas que não usam drogas continuem não usando, e os que estão consumindo álcool e tabaco não se arrisquem mais, minimizando as chances de sofrerem graves consequências devido ao consumo. É interessante debater que “é possível fazer festas sem exagerar na bebida alcóolica”, e que “a vida é mais tranquila sem vícios”, por exemplo.
É importante não ficar só no discurso, e tornar mais duradouro o processo de conscientização sobre o uso das drogas. Para isso poderia ficar tudo registrado em documento escrito, fotos, matérias de jornal, folders, exposições, mandar cópia impressa para as famílias (com assinatura do responsável comprovando o recebimento) e outras ações que possam tornar o trabalho docente mais eficiente do que apenas uma palestra anual. Como professora, sinto-me parte desse trabalho, e estou buscando respostas para as inúmeras indagações que permeiam o mundo das drogas. Ainda estou formulando respostas para as perguntas que compartilho com vocês nesta reflexão. Em breve, poderei “trocar ideias” com os interessados no assunto. Deixe seu comentário, ou escreva para profebeti@yahoo.com.br.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. BORGES, Lívia. Drogas e Vícios. São Paulo: Alaúde Editorial, 2003
2. Glossário de álcool e drogas. Trad. J. M. Bertolote. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006
3. A política de Redução de Danos no Brasil e os direitos fundamentais do homem. Domiciano Siqueira. http://ulbra-to.br/encena/2013/01/23/A-politica-de-Reducao-de-Danos-no-B...
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