“Uso seguro e crítico das tecnologias em sala de aula por meio da mediação do professor – possibilidades educativas da cibercultura”
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO
– PÓLO MARABÁ
ETAPA 1. CADERNO II – O jovem como sujeito do Ensino Médio
“Uso seguro e crítico das tecnologias emsala de aula por meio da mediação do professor – possibilidades educativas da cibercultura”
Robenilde Leite
“As tecnologias digitais são um importante elemento constitutivo da cultura juvenil” (BRASIL, 2013, p.25). Basta olharmos ao nosso redor para constatarmos isto. A relação do jovem com a tecnologia é natural, faz parte de seu cotidiano como um acessório quase vital e determinante de sua identidade. Para alguns, é impossível dissociar a forma de se relacionar com o conhecimento, com a informação, consigo mesmo e com os outros, sem a mediação da tecnologia.
Maria Elizabeth Almeida aponta que os alunos já vem para a sala de aula com o pensamento estruturado dentro da cultura digital (frequentam Lan House, jogam vídeo games, participam de redes sociais, conhecem a linguagem dos blogs, microblogs, usam celulares de Última geração, postam vídeo no youtube...) e esta “cultura está entrando forçosamente na sala de aula, e desafia o professor a trabalhar com o mundo no qual vivem seus alunos” (ALMEIDA, 2010, p.28).
De um modo geral, é impressionante o fascínio, o encantamento que o mundo virtual desperta em todos nós, sobretudo porque o associamos ao entretenimento. Daí advém a sensação de que entre escola e mundo digital há uma fronteira difícil de ser transposta. Ledo engano. A escola precisa ultrapassar essa fronteira digital e enxergar as possibilidades educativas da cibercultura como ferramenta valiosa não só na aquisição de informações, de comunicação, mas também de construção e compartilhamento de conhecimento e aliá-la ao trabalho escolar. Encontramos na tecnologia uma excelente oportunidade de reconectar o jovem do ensino médio à sala de aula.
Para citarmos um exemplo, é válido lembrar da interação promovida pelas propaladas redes sociais, que caracterizam um traço peculiar na forma de se relacionar da juventude. Recentemente, presenciamos o poder de mobilização de redes sociais como Facebook e Twitter por trás das manifestações que atingiram todo o país durante o mês de junho de 2013– momento histórico que ficou conhecido como Jornadas de Junho. De repente, os jovens usuários se tornaram organizadores, divulgadores, comentaristas e protagonistas dos protestos. As redes além de levar pessoas às ruas também fizeram o processo inverso, criaram e estabeleceram relacionamentos, processaram, geraram conhecimento e compartilharam informações virtualmente ampliando ainda mais o conceito de “rede”.
Considerando que as redes sociais potencializam as atividades em grupo e promovem a interação e já é um espaço absolutamente utilizado onde o jovem transita com desenvoltura, é válido, ao menos, propor reflexões e discussões sobre este espaço, pois, em hipótese alguma, a escola pode negar essa poderosa forma juvenil de se organizar e conduzir a própria existência.
Diante deste panorama e conscientes de que o domínio das novas tecnologias é uma competência exigida no século XXI, a escola não pode eximir-se da necessidade de incorporar as tecnologias à sala de aula. Entretanto, sabemos que a simples transposição de conteúdos impressos para uma mídia eletrônica não confere significativas aprendizagens aos alunos. É consensual que uma escola informatizada cria um clima propício para o desenvolvimento de atividades convidativas à aprendizagem .Mas isso não pode ser feito de maneira aleatória ou apenas para revestir-se de uma capa de modernidade.
É preciso indagar como a escola está se preparando para viver este desafio? Qual o ganho que professor e aluno tem com o “ciberespaço”? Primeiro, é preciso entender que,
A Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do aprender hoje, da troca, do estudo em grupo, da leitura, do estudo em campo com experiências reais. Equilibrar o melhor do ensino presencial, o estarmos juntos, e o melhor do espaço virtual é básico (MORAN, entrevista ao portal educacional ).
O grande desafio, portanto, é fazer com que alunos continuem aprendendo fora do espaço físico da escola. Epara que essa aprendizagem aconteça a contento a escola deve orientar e desafiar o jovem a fazer uso seguro e crítico das novas tecnologias.
Portanto, a tarefa de incorporar práticas midiáticas ao universo escolar é complexa porque precisa, numa leitura breve, de, no mínimo, três dimensões a serem analisadas: A primeira refere-se à infra-estrutura. Além de equipar, deve-se garantir a manutenção dos equipamentos e atualização de hardwares e softwares. Muitas escolas estão cheias de máquinas obsoletas e desinteressantes; há celulares muito mais modernos nas mãos de professores e alunos, mas que por regras mal definidas não podem ser usados; houve distribuição de tablets para os professores, muitos deles permanecem “bloqueados por burocracias” ou nunca chegaram às mãos dos destinatários, e muitos dos que o receberam nunca entenderam a forma de usá-los, ou seja, equipar, não é a questão... formar , sim! Neste ponto entramos na outra dimensão do problema. Lidar com tecnologias na escola exige ainda uma mudança de paradigma e concepção de uma nova forma de trabalhar, pois a interatividade, a autoria, a co-autoria são características do mundo digital e preparar o professor para mediar esse tipo de trabalho é um desafio a parte. Usar redes – para citar apenas as mais populares – como facebook, twitter, instagram, whatsapp, para entretenimento, “quase” todos sabem, mas é possível usá-las pedagogicamente? Como o professor reage frente a isso?
Na verdade, com as tecnologias adentrando à escola, o perfil exigido do professor não é mais de transmissor de conteúdo, mas de “um mediador que tem competências e habilidades para orientar, colaborar e liderar, articulando e mediando os saberes com as novas linguagens” (BASSO,2006).
Como se sabe, essa transição – de transmissor a gerenciador do conhecimento – não é simples, e nem acontece rapidamente, pois para se movimentar com destreza no mundo das TICs é preciso muito mais que vontade. O educador precisa preparar-separa superar barreiras de ordem pessoal, administrativa e pedagógica.
No texto “Integração de Mídias e a reconstrução da prática pedagógica”, Maria Elisabette Prado, aponta algumas competências e saberes necessários ao professor hodierno (PRADO, 2003):
Saber como (o quê, porquê e quando) usar pedagogicamente as mídias;
Promover ações reflexivas e investigativas sobre seu papel de criador, gestor e regulador das situações de aprendizagem;
Favorecer o processo de construção do conhecimento;
Conceber a aprendizagem como um processo que o aluno constrói;
Proporcionar ações em que o aluno sinta-se autor-produtor de idéias;
Viabilizar o uso pedagógico de determinado recurso, por meio de parcerias dentro e fora da escola...
Assim, fazer uso das novas tecnologias requer uma ação pensada, planejada, ancorada em princípios que norteiam a prática do educador. É necessário que o professor tenha certeza (nem que seja provisória) de que forma o recurso poderá contribuir adequadamente para o desenvolvimento de um conteúdo/aula; se o mesmo irá contribuir para transformar certa “informação em conhecimento”, e ainda, avaliar se há de fato necessidade de se usartal recurso.
Além desses aspectos, ainda há uma outra dimensão: pensar em um currículo em que as áreas do conhecimento estejam integradas. É necessário que a escola tenha um projeto pedagógico que oriente e desafie o jovem a fazer uso seguro e crítico das novas tecnologias, que envolva a utilização de mídias integrando conteúdos e disciplinas. Os educadores devem buscar possibilidades para que as áreas que compõem o currículo escolar estejam mobilizadas e sejam valorizadas de forma integral. É fundamental que o professor estabeleça links entre determinado conteúdo disciplinar à tecnologia, assim como haverá momentos em que os saberes precisarão se interligar por meio da tecnologia. Isso ainda não é visível nas escolas. O que acontece é que um professor ou outro faz uso de determinada mídia isoladamente.
Por fim, é inegável que a cibercultura ou ciberespaço trazem para a escola a possibilidade de tornar as aulas mais atraentes e interessantes e que contribuam para que os alunos sejam co-participantes no processo de aprendizagem, em vez de meros espectadores. Isso é fundamental para a escola “ideal” que desejamos, pois valorizar as novas gerações significa dar oportunidade a elas de desenvolverem suas potencialidades.
A juventude tecnológica e conectada gosta da verdade, de firmeza e regras claras. Convive bem com as instituições e pessoasque lhe parecem confiáveis e coerentes, por isso, a relação do jovem com a escola precisa melhorar e se as praticas midiáticas inseridas no ensino médio ajuda-lo a perceber suas potencialidades, isso pode lhe devolver a crença num futuro e mudar sua percepção acerca de si mesmo, da educação e da sociedade.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, F. Tecnologia e escola: as novas aliadas. São Paulo: PUC-SP, 2004.
ALMEIDA, M. E. B. Tecnologias e formação a distância de gestores escolares. In: Encuentro Internacional de Educación Superior UNAM. Cidade do México: México Virtual Educa, 2005.
AMARAL, S. F., BASSO, I. Competências e Habilidades no uso da linguagem audiovisual interativa sob enfoque educacional. In: Educação Temática Digital, Campinas, v.8, 1, p. 51-72, dez. 2006.
PRADO, M. E. B. B. Integração de Mídias e a reconstrução da prática pedagógica. In: Boletim do Salto para o Futuro. Série Pedagogia de Projetos e integração de mídias, TV-ESCOLA-SEED-MEC, 2003. Disponível em: www.tvebrasil.com.br/salto.
MORAN, JOSÉ MANUEL. Gestão inovadora da escola com tecnologias,2010. Disponível:www.eproinfo.mec.gov.br/webfolio/Mod85357/GTM_UNID1_gestao_inovadora OBRIGATORIO.pdf.
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