TEMA: JUVENTUDE E ESCOLA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL

TEMA: JUVENTUDE E ESCOLA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL
Eliene Seabra Aguiar de Brito 

 

O tema proposto para este texto surge a partir das leituras e reflexões realizadas no Caderno II que versa sobre o Jovem como sujeito do Ensino Médio. Interessante observar que o tema da juventude praticamente desapareceu após o final dos anos 60 nas discussões da área educacional no Brasil, retornando nos anos 80 na reflexão educativa por meio dos movimentos sociais. (CUNHA CAMPOS, 1989).
Avançando historicamente, partir dos anos 90, o Ministério da Educação, vem ampliando suas ações por meio de políticas e programas que atendam de maneira efetiva os estudantes do ensino médio, como será citado a seguir: Emenda Constitucional nº 5, /2009, que torna obrigatória a oferta de Educação Básica dos 04 aos 17 anos; o Programa Ensino Médio Inovador nº 971/2009; as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio /2012 e no ano de 2013, com a instituição do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, portaria nº 1.140, de 22 de novembro de 2013.
Considerando as políticas e programas elencados, é que o tema da juventude e sua relação com a escola ressurge na reflexão educativa.
A questão da juventude na escola deve ser tratada como um desafio pela busca da compreensão a respeito do que significa ser jovem atualmente e como devemos nos relacionar com este jovem estudante.
Nesta tentativa de melhor entender o que se passa no interior da escola, enquanto espaço de sociabilidade e aprendizado o tema da juventude torna-se importante.
Na escola os jovens passam parte significativa de seu cotidiano, é o lugar de fazer amigos e compartilhar experiências e valores.
Ser jovem é um desafio e um caminho a ser trilhado. É muito comum que se produza uma imagem da juventude como um período de transição, passagem da fase infantil para a vida adulta, portanto o jovem como um vir a ser adulto.
Então, se esta fase é caracterizada como de transição, uma superação da infância em busca da idade adulta, será importante para o jovem a questão de se auto conhecer e de ser reconhecido pelo grupo.
Assim, a identidade, individual ou coletiva, vai levar em conta a dimensão da diferença. Ser diferente para se destacar, ser reconhecido ou fazer parte do grupo.
A questão da identidade é fundamental para a compreensão desse momento da vida, no entanto, a tendência, no caso dos jovens, é percebê-lo a partir de diversos estereótipos, quase sempre surgidos pela elaboração de uma imagem originada na mídia.
A tendência é considera-los consumistas, alienados ou violentos.
A imagem do jovem vista como problema, é cristalizada pelos índices alarmantes de homicídios, consumo de álcool, drogas e a gravidez precoce, presentes neste momento da vida humana.
Araujo (et al., 2007) em pesquisa concluída no ano de 2007, sob o tema “Diagnóstico dos Direitos Humanos no estado do Pará” revela que o quadro se agrava quando se examinam as mortes por causas violentas.
Esta realidade reitera uma tendência nacional, que têm apontado para o fato de que a violência e suas consequências fatais afetam mais os jovens, como afirma Fernandes (2004) ao estudar os dados no Rio de Janeiro.
O dilema que surge desta situação, é que o estereótipo pressupõem situações de preconceito, o que origina algumas vezes, dificuldades para a relação professor x aluno.
Neste caso, às vezes é negado ao jovem aluno o direito a fala. Ouvir os jovens de nossas escolas, fazer da escola um espaço de ampliação das experiências dos estudantes do ensino médio é uma necessidade.
Tem-se que compreender as experiências e expectativas que o jovem que frequenta a escola possui. Permitindo assim, entender seu próprio modo de ser, de agir e de pensar.
Dessa forma, será a problematização da condição juvenil atual, sua cultura, suas demandas e necessidades próprias. Trata-se de compreender suas práticas e símbolos como a manifestação de um novo modo de ser jovem, expressão das mutações ocorridas nos processos de socialização. (DAYRELL,2006).
É preciso compreender que a juventude é um momento rico em socialização. Não é por acaso, o fato de que as manifestações artísticas, como a dança, a música, o teatro e as artes em geral ocupam grande parte do interesse dos jovens. 
Se a escola reconhecer-se como uma instituição social, construída por sujeitos sócio-culturais, ou seja, são adultos e jovens que pertencem e frequentam diferentes grupos sociais e levam, para o espaço educativo, a sua visão de mundo, seus valores morais, religiosos, as suas tradições e preconceitos, então, será capaz de transformar a sua ação educativa.
Mas é preciso oferecer em seus currículos diversas experiências culturais no campo da sociabilidade juvenil.
Ao se falar dos jovens, é necessário ressaltar que muitos deles vivenciam suas primeiras experiências com o mundo do trabalho nesta fase da vida.
Esta inserção no mundo do trabalho pode ser por questão de sobrevivência e geração de renda, ou pode ser as primeiras experiências por meio de estágios ou cursos profissionalizantes.
Para a escola cabe identificar as diferentes experiências de trabalhos de seu alunado e qual a repercussão desta experiência para a vida estudantil. Além de, refletir o seu papel diante do jovem e do mundo do trabalho.
Nas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio, o trabalho é entendido como um dos princípios educativos básicos.
Por esta razão, cabe refletir sobre qual o diálogo da escola com as experiências do aluno, já que as práticas que ocorrem fora da escola devem chamar a atenção dos educadores.
Assim, o desafio é incorporar estes múltiplos olhares das “juventudes” brasileira, na prática diária das escolas. Não deixando de observar atentamente às práticas que ocorrem fora da instituição educativa.
Se incorporarmos esses novos múltiplos olhares na prática cotidiana da sala de aula, com certeza as experiências para professores e alunos serão mais ricas e prazerosas.
Para tratar da questão da relação jovem x escola, as respostas não virão todas de uma vez, pois é um processo histórico a ser construído, e não, um jogo para se achar os culpados. Pelo contrário, o que aspiramos é o diálogo entre escola e seu jovem alunado.
Entretanto podemos enxergar alguns caminhos. Um deles, a formação de professores, acreditando ser importante o professor discutir, compreender e pesquisar sobre a sua prática, para possibilitar um olhar mais aguçado sobre a instituição escolar e a adoção de novas práticas pedagógicas.
Fora do espaço escolar, o Estado também precisa oferecer políticas públicas, especialmente voltadas para os jovens. Na maioria das vezes, as relações sociais mais significativas são vivenciadas fora da escola e da família.
É preciso também, que a escola ofereça experiências culturais significativas no âmbito da sociabilidade juvenil.
Diante da realidade apresentada, tem-se que aprofundar as análises que possam compreender a escola e os seus jovens estudantes. Porém, é necessário unir forças em busca de uma educação participativa, de convivência democrática com as diferenças entre as idades e capaz de oferecer novos caminhos para a prática educativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima, ALVES, João Paulo da Conceição, Juventude trabalho e educação: questões de diversidade e classe das juventudes na Amazônia. Universidade Federal do Pará.
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno II: o jovem como sujeito do ensino médio / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica; organizadores : Paulo Carrano, Juarez Dayrell. – Curitiba : UFPR/Setor de Educação, 2013.
CUNHA CAMPOS, Rogério. A luta dos trabalhadores pela escola. São Paulo: Loyola, 1989.
DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil. Texto apresentado no Simpósio Internacional “Ciutat.edu: nuevos retos, nuevos compromissos”, realizado em Barcelona, em outubro de 2006.
GOMES, Nilma Lino. Escola e diversidade étnico-cultural: Um diálogo possível. In DAYRELL, Juarez. Múltiplos olhares sobre educação e cultura, organizador. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996.