2012 não foi o ano do fim do mundo – muito pelo contrário. Pelo menos pra mim, 2012 foi um ano memorável, daqueles para se pregar na parede. Casei com a Karin – uma companheira bonita e inteligente – ganhei prêmios profissionais , viajei na lua-de-mel e fiz shows com a minha banda. Não plantei uma árvore, mas lancei um livro. Apesar de tudo isso, ou melhor, por causa de tudo isso – eu e a Karin estávamos questionando como nunca a vida que levávamos no tempo regulamentar da vida. Sim, porque grande parte das coisas mais legais que citei (viagem, casamento, banda e livro) foram criados na “hora do intervalo” . Aquele momento em que – depois de trabalhar mais de 8 horas sem ver a luz do sol, empenhando-se em atividades que parecem sem sentido e estressando-se no trânsito de uma grande metrópole – você chega em casa e “começa a viver”. É esquisito escrever isso, mas mais de um amigo usou a expressão “minha vida começa quando eu chego do trabalho” para descrever os parcos momentos de felicidade que a gente experimenta entre jornadas de 8 horas preenchendo formulários, apertando botões e participando de reuniões.
Simplicidade traz felicidade?
Quando cheguei em São Paulo, eu era uma pessoa mais simples. Queria um emprego legal, uma pessoa legal, dinheiro pra cerveja e para os livros. Meus pais eram professores de ensino médio e eu tinha crescido num bairro simples do interior. De repente, um monte de outras coisas começaram a aparecer como necessidades urgentes para que minha vida fosse plena: “você precisa comprar um carro pra ser feliz”, “você precisa comprar um pacote de viagem anual pra ser feliz”, “você precisa comprar aquele ingresso caríssimo de festival cheio de bandas (que você nunca ouviu na vida) pra ser feliz” e, finalmente, “você precisa comprar uma máquina de Nespresso pra ser feliz”.
Toda essa cartilha da felicidade exige que você trabalhe cada vez mais para comprar coisas que seriam muito úteis, se você tivesse tempo para desfrutar delas. Passei a me questionar sobre as coisas que havia comprado no último ano e enumerar quantas haviam sido realmente úteis para me deixar mais feliz. E passei a não querer mais deixar a vida no piloto automático. Sim, uma coisa besta, mas uma coisa besta fundamental: decidir se queremos tomar as decisões e responsabilidades da nossa vida ou se vamos seguir o lema zeca-pagodiniano de “deixa a vida me levar, vida leva eu”, guiados pelas oportunidades e regras prontas do cotidiano. Depois é fácil colocar a culpa pela infelicidade no trabalho, nos pais ou no “sistema”. Para deixar isso mais claro, uma dica útil: liste as coisas que “você gostaria de fazer antes de morrer”. Sonhe alto e enumere seus 20 maiores desejos. Compare a lista com uma outra que reúna as atividades com as quais que você gasta seu tempo hoje. Se o que você faz no seu dia a dia não tem relação alguma com os seus sonhos é hora de repensar sua vida.