JUVENTUDE E ESCOLA: Atitude e desafios
O tema juventude ainda é muito complexo, debatido em todos os âmbitos sociais e objeto de discussão na sociedade em geral. É o período da vida do indivíduo em que as necessidades são mais urgentes e necessárias, na visão do jovem. Essa atitude muitas vezes gera conflitos que são desastrosos para o desenvolvimento humano e o jovem acaba por transferir toda a culpa de seus problemas para o adulto com o qual mantém uma relação mais próxima, seja na família, como foi possível observar no filme, seja na escola.
A escola é considerada um espaço de transformação social, mas “a tradição burocrática da escola é um fardo pesado que limita os ideais de uma escola projetada para a liberdade e autonomia”, Gaddotti 2010. Portanto não vem cumprindo com o seu papel que é de contribuir para a construção de uma sociedade onde o cidadão ao mesmo tempo em que se transforma, contribui para a transformação do seu meio social. Isto acontece porque a escola adota práticas dissociadas dos interesses e realidades dos jovens e adolescentes e não os conduzem a refletir e agir na sociedade com criticidade, criatividade e responsabilidade.
É preciso que, enquanto escola, tenhamos coragem de fazer diferente na vida dos nossos jovens. Ouvi-los em suas opiniões e decisões, torná-los participativos na construção do currículo e orientá-los no que concerne a adoção de atitudes de respeito e responsabilidade, quando se tratar da convivência deste com a comunidade escolar. Xavier 2006 diz que a ”escola, se quiser contribuir para a formação das identidades e subjetividades dos seus educandos, necessita orientar-se no sentido de fortalecer para uma futura atitude de autonomia moral e cooperação intelectual, transitando entre a construção de limites pessoais e limites sociais, tendo sempre em consideração os contextos sócio culturais de seus alunos”. É preciso respeitar o aluno, sua condição de classe, sua cultura, seus valores, sua linguagem, seus conhecimentos e seus problemas. Na leitura do texto complementar sobre a juventude amazônida, observamos que muitos fatores se interpõem para a construção da cidadania plena dos jovens nesta região. E qual tem sido o papel da escola para mudar esta realidade? Ela leva em “consideração os contextos sócio culturais de seus alunos?” Os jovens da Amazônia estão sendo respeitados em seus direitos? As políticas públicas do governo federal contemplam as necessidades dessa população?
Sabemos que pra todos os questionamentos acima, as respostas encontram-se na escola e no poder que ela tem de promover a transformação das pessoas e da sociedade. Apesar de a população jovem amazônica apresentar diferentes realidades e culturas e estas se tornarem um grande desafio para a escola, as mudanças acontecerão desde que as práticas pedagógicas respeitem e valorizem os diversos conhecimentos que os alunos adquirem em seu contexto social, e utilizando-os como ferramenta para uma educação que prime pela formação integral do indivíduo e “por que não estabelecer uma intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles tem como indivíduos”?, Freire 1996.
Nos instrumentos de estudo é retratado um grande problema em nosso país: a falta de investimento na educação dos jovens, adolescentes e crianças em nosso país. Apesar das músicas serem escritas por jovens de outra geração, continuam sendo contemporânea, os problemas ainda continuam os mesmos. O descaso com o futuro dos cidadãos brasileiros em idade escolar ainda é muito grande, tanto na região amazônica, quanto nas demais regiões do país.
As políticas públicas que vem sendo implementadas ao longo da história, ainda são ineficazes, não atendem as necessidades dos cidadãos e não respeita o jovem como ser histórico e social. As ações adotadas no âmbito social do indivíduo, muitas vezes não reconhecem as potencialidades inerentes à juventude e em suas necessidades de se tornar sujeito na construção de sua história, o jovem é mal interpretado, tornando-se alvo de estereótipos em relação ao seu modo de agir e pensar. Esta forma de ver a juventude conduz essa população à insatisfação social.
Nas escolas, nas ruas, muitos jovens querem ser ouvidos, porém não são levados a sério, julgam que eles não têm experiência de vida para saber como a vida funciona, mas tudo o que eles pedem é um futuro melhor. Eles querem mudança no país que eles vivem. Os versos "Eu sempre quis falar / Nunca tive chance / Tudo o que eu queria / Estava fora do meu alcance." Ecoam em nossos ouvidos todos os dias, sons que vem do jovem negro, pobre, rico, cristão, do campo, da cidade de toda parte. O desejo do jovem está em se fazer ouvir e quando a sociedade não reconhece esse direito o jovem se rebela, se fecha, se esconde. Então "A polícia diz que já causei muito distúrbio / O repórter quer saber porque eu me drogo." A resposta está na falta de investimentos em educação que não permite que nossos jovens façam outras escolhas e se percam pelo caminho.
Os jovens se tornam mentalmente frágeis e fisicamente dependentes dos vícios, que para o jovem representam a fuga da realidade em que muitas vezes se encontram, também observados no filme. Aceitam qualquer tipo de ajuda e nem sempre a primeira que chega é aquela que conduz a saída do problema. A escola deve adotar práticas que sejam capazes de enfrentar as problemáticas vivenciadas pela nossa juventude, para que ela não desista de viver.
Partindo do pressuposto de que é no período da juventude que as forças formativas estão começando a existir, podemos dizer que é necessário adotar ações, nos meios onde os jovens se relacionam, que o conduzam a aproveitar o conhecimento já adquirido pelos seus antecessores, sem deixar de considerar que o jovem é capaz de produzir novas idéias que podem ser melhores que as anteriores, entendendo que o jovem é o fator de introdução de mudanças na sociedade. Portanto torna-se relevante a adoção de iniciativas no âmbito de políticas públicas que conduzam ao reconhecimento do jovem enquanto sujeito de sua historia.
No trecho da música teatro dos vampiros “a riqueza que nós temos ninguém consegue perceber” denuncia que o jovem precisa ser entendido em seus desejos e necessidades, respeitando os seus saberes. As linguagens, as manifestações culturais, a sua relação com o meio e as suas inquietações, tudo isso deveria ser usado como instrumento para fortalecer a juventude e abrir caminho para adoção de práticas sociais que garantissem os direitos dessa parcela da população.
Na sociedade contemporânea costuma-se dizer que ser jovem é sinônimo de irresponsabilidade e para ser considerado capaz, pela sociedade, é preciso assumir compromissos impostos pelos adultos que em nenhum momento toma como referência os conhecimentos adquiridos no convívio com o seu meio social.
“Sempre precisei de um pouco de atenção, acho que não sei quem sou. Só sei do que não gosto”
Para a escola, essa é a imagem do jovem. Faz tudo errado. Gosta de chamar atenção. Essa percepção cria estereótipos e condena o jovem a chegar a lugar nenhum a não se encontrar. Muitas vezes o jovem é percebido como uma pessoa destituída de idéias e iniciativas próprias e que necessita das determinações dos adultos para construir sua vida presente e futura. Para nós, o caminho que o jovem deve percorrer, deve partir do princípio de que o melhor, é seguir os bons exemplos da sociedade e tomar pra si, tudo o que representa um futuro de sucesso. Muitas vezes até na hora da escolha de uma profissão os jovens sofrem influência da família.
No filme são identificados muitos pontos de conflitos, e que são vivenciados pelos jovens nas suas relações. Por isso é cada vez mais urgente o advento de novas estratégias na escola que possibilite a construção da cidadania do indivíduo. Culpa-se o jovem pelas atitudes erradas, mas nega-se a eles o direito de se expressar, de se impor e de contribuir para a formação de uma sociedade que além de justa reconheça os valores que vem do jovem, quando a ele é oferecido oportunidades que lhe permita mostrar todo o seu potencial como produtor cultural de conhecimentos adquiridos historicamente e transformados socialmente.
Em junho de 2013, muitos jovens foram às ruas pedindo atenção pra saúde, segurança, educação, entre outras reinvidicações. Suplicando por um futuro melhor, e que mudassem a constituição. Maior parte da mídia viu tudo como rebarba, destruição, vandalismo, mas a massa jovem só clamava por mudanças. Para a história, esses atos se tornaram exemplo do exercício da cidadania.
Se a escola falasse a língua “joviês”, se todos tivessem uma educação digna, não somente português, matemática e Ciências, mas sim educação para a vida. Se fossem ensinados a respeitar ao próximo desde a infância não haveria políticos corruptos, bandidos nas ruas, maridos batendo em esposas, jovens espancando idosos. A família seria unida, e os valores seriam levados de pais para filhos. É preciso criar oportunidades para os jovens, para que eles cresçam na vida. Não adianta somente abrir vagas em universidades para os jovens, se ao sair delas, não existir oportunidades para aplicar o que aprenderam.
Muitos hoje dizem: façam mais presídios para os que estão presos. Onde o certo é façam mais escolas, construam mais espaços de lazer para as crianças que estão nas ruas próximas do crime, para que deles, elas possam se afastar e fazer o que realmente importa para elas: brincar, serem crianças.
Para Xavier 2006 “deve a educação promover o desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo e moral do aluno, ampliando suas experiências e conhecimentos, através do domínio progressivo da leitura, da escrita do cálculo, bem como das leis que regem a natureza e as relações sociais e dos fundamentos científicos tecnológicos que norteiam os processos produtivos na sociedade contemporânea”.
Desta forma sejamos construtores de uma escola onde o indivíduo se aproprie do saber organizado e valorizado socialmente, que tenha a oportunidade de expressar o seu saber e vê-lo reconhecido. Só assim a educação vai valer a pena, o jovem será levado a sério e não vai cansar de “tentar de novo” e no “teatro” da vida ele será o protagonista da sua história.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo, Paz e terra. 1996.
GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. São Paulo, Cortez. 2010.
XAVIER, Maria Luisa Merino (org). Disciplina na escola: enfrentamentos e reflexões. Porto Alegre, Mediação. 2002.
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