A EDUCAÇÃO E SEUS FRACASSOS:QUEM É CULPADO?

A EDUCAÇÃO E SEUS FRACASSOS: QUEM É CULPADO?

Há muito vêm se discutindo melhoramentos para nossa educação. Problemas como evasão escolar, incompatibilidade etária e analfabetismo funcional são assuntos recorrentes em reuniões escolares, fóruns e seminários que tratam do tema. Implantar novos modelos, tais como escola ciclada e escola do campo, e o uso de novas tecnologias, não tem sido suficiente para que se obtenha da educação o resultado que se espera.
Há um “jogo de empurra” quanto à responsabilidade pelo problema. A escola é acusada de não ser atraente e de não possuir instalações compatíveis com a nova realidade social. Professores são vistos como culpados e tidos como despreparados para desempenharem suas funções. Alunos são tidos como irresponsáveis e desinteressados à aquisição de conhecimentos e à família cabe a culpa de se omitir na formação escolar dos seus. No entanto, não nos cabe culpar, mas sim observar e descobrirmos até que ponto vai a responsabilidade de cada seguimento na formação do ser humano.
A escola, como instalação, ou seja, prédio tem melhorado muito nas últimas décadas. Estes melhoramentos caminham com a sociedade, isto é, são feitos segundo a exigência das mudanças no meio externo. Laboratórios de informática e bibliotecas estão disponíveis, também seguindo uma tendência dos novos tempos, que é o acesso à internet e às bibliotecas físicas e virtuais. Portanto, a escola como ser físico está cumprindo seu papel segundo as exigências da sociedade.
Os professores são, em sua grande maioria, formados em suas áreas de atuação. Foram aprovados em concursos com provas de alto grau de dificuldade ou, contratados mediante a apresentação de diplomas e outros documentos que provam suas capacidades. Em sala de aula estes profissionais se esforçam para dar o melhor de si. Fazem cursos para acompanhar novas descobertas em suas áreas de formação e se aprimoram com relação ao uso de novas tecnologias. Quanto ao trabalho e sua conduta, tais profissionais, ainda são avaliados periodicamente, ficando assim a mercê do julgamento de seus superiores que têm o poder de decisão quanto à sua permanência ou não no desempenho de suas funções. Tudo isso seguindo uma exigência social, sempre se cobra o melhor desempenho possível dos profissionais de qualquer área.
Quanto aos jovens, a estes não cabe julgamento, são inimputáveis. Segundo as leis brasileiras crianças e jovens não podem ser responsabilizados por seus atos. Devem receber instruções que os preparem para uma vida adulta na qual vão se tornar parte de um grupo e, deverão assim, como profissionais, obedecer às normas, afinal, é isso que fazem os adultos. Crianças e jovens são, independentemente da idade, parte da sociedade e, não podem ser imunes às suas influências, tanto no presente quanto no futuro.
A família é outra peça chave nessa discussão. As mudanças econômicas e sociais têm afastado os pais do convívio com os filhos, isso sem falar em tantos outros problemas gerados pelas condições sociais. Não há maneira de reverter este quadro, sendo que é impossível se viver em grupo sem seguir suas regras e tendências. Às famílias não resta outra opção a não ser deixar a maior parte da responsabilidade quanto à educação de seus filhos a cargo da escola. Desta forma a família não pode ser responsabilizada, pois está seguindo uma regra imposta mais uma vez pela sociedade.
Conclui-se então, que escola, professores, estudantes e família estão fazendo seu papel seguindo um caminho imposto por algo incontrolável. Sociedade não se controla, ela evolui segundo imposições que vão desde as feitas pelo meio ambiente até às apresentadas pela própria combinação de fatores históricos dentro da própria sociedade.
Levando adiante a discussão nos deparamos com o fato de que a educação é comprovadamente o melhor caminho, não para dominar, mudando totalmente o rumo, mas para tornar-mos justas as condições sociais. Assumamos então tal responsabilidade e vamos discutir o que pode melhorar dentro dos muros da escola e de uma sala de aula, que é onde a educação efetivamente acontece. Dentro da escola se professores e funcionários estão fazendo seus papéis e estão sujeitos ao julgamento de seus superiores quanto sua permanência, como citado acima, então o que estaria fazendo com que a educação não cumpra o papel de dar à sociedade o cidadão que ela exige? Com certeza isso se deve ao fato de que está faltando alguém no jogo dos culpados. Quem avalia doutores e mestres que estão acima dos professores criando modelos de educação e políticas públicas díspares daquelas que a sociedade cobra não deve estar satisfeito, pois nada do que foi criado e implantado nos últimos anos tem surtido efeito relevante na educação.
Observando o mundo lá fora é fácil saber para onde caminhamos e não é tratando aluno como cliente que a educação terá chance de amenizar este caminho. A escola trabalha com alunos, e isso não é uma afirmação de um ou de outro, mas sim outro sinal de obediência às regras sociais, portanto aluno está lá para receber conhecimento e ser transformado em ser humano capaz de transformar, assim aluno é matéria prima, enquanto freqüentador e, produto final quanto cidadão. É com a mentalidade de cliente que este mesmo aluno compra seu diploma de curso superior. É com a mentalidade de clientes que os pais esperam tudo da escola. E é com a mentalidade, de donos de empresa, que grandes pensadores da educação brasileira estão cobrando dos professores a satisfação do aluno e seus pais, bem como a permanência do aluno na escola, sem se importarem com quanto conhecimento útil este aluno está sendo apresentado ao mundo adulto. Mantendo tal mentalidade devemos então criar um serviço de atendimento ao cliente e cuidar-mos do pós-venda, teremos linhas congestionadas com vários tipos de reclamações vindas de pais, patrões e, principalmente de ex “clientes”, ou, quem sabe ainda precisamos criar um cadastro de clientes e excluir os que não nos convém. É melhor ter um número menor de clientes, do que correr o risco de falência, afinal, bons clientes não devem pagar pelos ruins.
Muito se fala em humanização da educação, mas o que é “humanizar”? Seria fazer com que a criança brincasse o maior tempo possível sem se preocupar com regras que virão? Seria esconder do jovem as responsabilidades que o espera? Enquanto a resposta não vem, pois isso só o tempo pode responder, é melhor seguir as imposições que se apresentam. Precisamos apresentar às crianças e jovens o máximo de exemplos contendo situações-problema para que o mesmo esteja preparado para o vestibular, ENEM e outros testes que a vida apresenta e que não são muito humanos, apesar de criados por eles, podemos dizer.
  Os professores precisam ter de volta o direito de dizer ao aluno que ele não está pronto, este não é nem um direito, e sim uma obrigação. Assim como o médico tem o direito e o dever de dizer a seu paciente qual é o tamanho do inimigo que ele irá enfrentar, assim também o professor deve dizer ao educando que ele está com problemas e dar-lhe a chance de resolvê-los o quanto antes. Devemos lembrar que a sociedade reprova, e ela não espera 3 anos para isso. A escola é negligente quando aprova aquele que não tem capacidade quando deveria dar-lhe a chance de se recuperar e isso não se faz três anos após o problema ser detectado ou, apenas no 2º grau.
Responsabilidades existem e cada seguimento precisa assumir as suas e não se dedicar a criar mecanismos que as escondam ou as direcionem para outros. Vale ressaltar que o bom professor é capaz de identificar seus pontos fracos com relação ao conteúdo a ser trabalhado e, assim, buscar leituras que podem orientá-lo.  Não é apenas criando cursos para professores, profissionais que já estão bastante ocupados em suas escolas, e implantando novos modelos de educação que vamos conseguir melhores resultados, mas sim precisamos fazer com que as crianças percebam, o quanto antes, suas responsabilidades quanto seres humanos sujeitos às regras. Assim não estaremos julgando ou dando, precocemente, responsabilidades a elas, mas sim sendo verdadeiros quanto a real condição humana dentro do mecanismo no qual nos encontramos.

 

NEUZELI ALVES DE LIRA PROFESSORA DE GEOGRAFIA NA ESCOLA ESTADUAL "7" DE SETEMBRO,RONDONÓPOLIS.