EDUCAÇÃO E JUVENTUDE: a crise da educação pública brasileira.
Adenilson Freitas Godinho
Secretaria de Estado de Educação do Pará – SEDUC/PA
adenilsonfreitas@hotmail.com
No decorrer de nossa trajetória de estudo no Programa de Formação dos Professores do Ensino Médio do Estado do Pará / SISMédio – Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, observamos que o sistema educacional vigente é permeado de descontentamentos e conflitos entre educadores e educandos. Nesse processo vimos que a escola tem se distanciado de sua missão formadora e de seu papel no desenvolvimento pleno do aluno para o exercício da cidadania. Essa constatação nos leva a refletir sobre o fato de que a educação no Brasil não tem dado respostas aos principais problemas que impendem o país de avançar no seu projeto de desenvolvimento e de consolidação da juventude no protagonismo de seu tempo. As principais explicações para se tentar explicar a crise educacional brasileira tendem a cair numa visão apocalíptica sobre o fracasso da instituição escolar, com professores, alunos e suas famílias culpando-se mutuamente. Para a escola e seus profissionais, o problema situa-se na juventude, no seu pretenso individualismo de caráter hedonista e irresponsável, dentre outros adjetivos, que estaria gerando um desinteresse pela educação escolar. De outro lado, os jovens afirmam que a escola se mostra distante dos seus interesses, reduzida a um cotidiano enfadonho, com professores que pouco acrescentam à sua formação, tornando-se cada vez mais uma “obrigação” necessária, tendo em vista a necessidade dos diplomas. Parece que assistimos realmente a uma crise da escola na sua relação com a juventude, com professores e jovens se perguntando a que ela se propõe.
Diante do exposto, todos nós que fazemos educação nos perguntamos: Como reverter a crise educacional que se instalou na escola pública brasileira e quais devem ser os caminhos e alternativas para restaurar a harmonia entre a escola e a nossa juventude? Sabemos que o desafio é grande e ao contrário do que se espera da escola, ela tem se tornado instrumento de controle social e estratégia de distração que consiste em desviar a atenção da juventude dos problemas importantes da nação em favor dos interesses das elites políticas e econômicas que historicamente controlam e comandam o país. A construção de um país igual e com oportunidades para todos tem se tornado uma bandeira que a educação não tem conseguido empunhar com a força de sua natureza transformadora. Na contramão desse processo a escola tem se deslocado, lamentavelmente, para um cenário de imprevisibilidade, incerteza e de preocupação quanto a seu papel na formação da juventude brasileira.
É bem verdade que a questão da juventude na escola pública sempre foi tratada como um “problema a resolver”, todavia, passaram-se décadas e inúmeras reformas na educação e o “problema” parece nunca ter solução. O caderno II - O Jovem como Sujeito do Ensino Médio e o texto complementar: “Juventude, Trabalho e Educação: questões de diversidade e classes das Juventudes na Amazônia”, dos autores: Ronaldo Araújo e João Paulo Alves nos dão uma certa dimensão do problema que temos como desafio na instrução pública no Brasil e principalmente na Amazônia, cujos contrastes sociais são mais acentuados pela ausência do Estado nas questões sociais e pela dimensão territorial em meio a total falta de recursos tecnológicos e condições dignas de trabalho para o desenvolvimento da educação. Não obstante a essa realidade, observamos que os jovens estão cada vez mais distanciados da escola pública, deflagrando seu descontentamento nas mais variadas formas de violência, indisciplina e rebeldia como resposta a essa falta de atenção, ou melhor, incompreensão. Partindo desse entendimento, a escola passa a se tornar um risco de investimento e tempo para o jovem que por não acreditar na instituição escolar, prefere se aventurar no mundo do trabalho com pouca qualificação.
Tentar compreender essa questão não é uma tarefa demasiadamente simples e exige bastante reflexão para buscar entender suas práticas e símbolos como a manifestação de um novo modo de ser jovem hoje, como expressão das mutações ocorridas nos processos de socialização num mundo de mudanças velozes e que coloca em questão o nosso sistema educativo, bem como a nossa postura pedagógica e principalmente a abordagem que fazemos sobre juventude e educação. Nesse sentido, cabe questionar em que medida a escola “faz” e “entende” a juventude como bem defende Juarez Dayrell (2007), ao nos por a refletir sobre as tensões e ambiguidades vivenciadas pelo jovem, ao se constituir como aluno num cotidiano escolar que não leva em conta a sua condição juvenil, ou seja, nos questionar se a escola leva realmente a juventude e a sério.
Num entendimento de que a escola pública está longe de compreender a respeito do significado de ser jovem e estudante nos dias atuais, nos indagamos: como podemos trabalhar melhor a questão da juventude na escola? E sobre quais bases precisamos construir nossos relacionamentos com os jovens estudantes? Como educadores sabemos que estas parecem ser as chaves para tecer bons relacionamentos que superem os fenômenos que alimentam crise entre o Ensino Médio e a juventude, mas sabemos que o caminho a ser traçado não é nada fácil, principalmente porque para compreender a juventude requer que nos coloquemos no lugar do outro (empatia) e, mais ainda, uma mudança que exige resignificar a nossa postura e prática de ensino ancorada na emoção, no respeito e, principalmente, no amor pelo oficio de educar.
A realidade dos problemas vividos por escolas do nosso Estado reforça que está na hora de se repensar a escola pública. Precisamos flexibilizar o currículo escolar de forma que ele dialogue com as principais dimensões que dão forma e estão presentes nos sujeitos que constituem as diversas juventudes que se ambientam no plano da escola. A opinião do jovem e sua interferência nas questões que lhe dizem respeito podem e deve está mais presentes no trabalho educativo. É preciso mudar o olhar e superar as representações negativas sobre os jovens. Muitos problemas que atingem os jovens são expressões de necessidades e demandas não atendidas no âmbito mais amplo. A escola precisa compreender os jovens para além do fator idade, pois existe uma complexidade de elementos que interferem na realidade do jovem e que forjam o seu jeito próprio de interagir e se comportar na sociedade. O ambiente familiar, personalidade, influências culturais, sociais, políticas e econômicas são as principais dimensões que atuam no comportamento da juventude. Um desafio pela busca da compreensão a respeito do que significa ser jovem e estudante em nossos dias é que parece que esquecemos que um dia fomos jovens. Para grande parte dos jovens, a escola e os professores parece se mostrar distante dos seus interesses e de suas necessidades. O cotidiano escolar é relatado como um tempo de desencontros entre gerações onde não há diálogo e nem compreensão, numa relação que parece ser marcada pela obrigação de um aturar o outro até o soar da campainha.
Tentar resolver essa questão exige muito mais que uma mudança no currículo escolar, exige uma mudança que vai além de repensar a educação. Buscar compreender essa realidade requer dedicação e estudo, um primeiro passo é constatar que a relação da juventude com a escola não se explica em si mesma: o “problema” não se reduz nem apenas aos jovens nem apenas à escola e aos seus professores. Fala-se muito em universalização da educação e formação integral, mas ainda nos comportamos como muitos Wilson do filme “Bicho de Sete Cabeças” e ainda permitimos que nossas escolas atuem como “manicômios”, pois ainda é mais fácil ignorar e tirar de nosso convívio aqueles que dão trabalho e não se comportam como deveriam ou, pelo menos, como a maioria deveria se comportar. Seria ilusório acreditar que assim estaríamos enfrentando a complexidade dos desafios cotidianos e da crise instalada entre ensino médio e a juventude. Não podemos esquecer que a instituição escolar e os atores que lhe dão vida - professores, alunos, gestores, funcionários, familiares, entre outros - são parte integrante da sociedade e expressam de alguma forma os problemas e desafios sociais mais amplos. Compreendendo que tarefa do docente deve em essência diminuir a distância entre professor e aluno, a educação tem de se aliar do mesmo modo à emoção artística. Acreditar que é possível educar com emoção é reinventar a educação para a possibilidade. Neste contexto a escola deve ultrapassar os limites de seus muros e acolher uma infinidade de outras formas de interação e comunicação com o aluno. Poucos professores vão à internet ler o que seus alunos escrevem e poucos se aventuram a tentar interpretar o sentimento que há por traz de seus textos e posicionamentos. As redes sociais, através do Facebook, Whatsapp e do Tweeter estão cheios de pistas sobre o que mais interessam aos nossos jovens. Hoje o aprendizado formal é consequência dessa interação já que as mídias virtuais tem forçado a juventude a escrever com mais frequência, mesmo que com pouca fluência.
Talvez esses pontos, sejam os mais acentuados para a escola, que é o de derrubar os muros que a distanciam da realidade comunicacional do aluno (o que e com quem eles falam?), ou seja, derrubar os muros é se preparar para atender essas novas demandas sociais em um mundo de intensas mudanças e inovações. Nesse sentido a escola precisa instar-se nesse tempo e nesse espaço para poder se compreender enquanto instituição mobilizadora de conhecimento, assim como seus sujeitos, sujeitos ativos dando conta da dinâmica de seu entorno. Claro que nos leva a refletir: para que serve a educação? A que encerro acreditando que a educação, enquanto movimento social, deve compreende uma lógica e um tempo que requer visão mais caleidoscópica em função dos múltiplos sujeitos e da agitação dos novos tempos, exigindo da Instituição Escolar uma postura mais dinâmica/dialógica com um currículo muito mais flexível porque tudo muda o tempo todo e exige atualização constante para que a escola, alunos e professores de forma que não percam o bonde do progresso porque como dizia Cazuza em uma de suas belas canções “O tempo não para”.
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