Será que os alunos estão realmente aprendendo?

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      Uma e quarenta da tarde. O professor entra em sala, os alunos se acomodam em sua cadeiras e assim dá inicio a mais uma aula sobre ambiente web. O professor passa os slides, explica conceitos e dá exemplos. Olha-se em volta e muitos olhinhos se direcionam a frente. Rostinhos sérios e bocas fechadas. Em nenhum momento uma mão levanta interrompendo a voz do professor. Todos muito calados ou cochichando baixo de mais para se ouvir. Será que nada lhes causou dúvida? Será que estão compreendendo a linguagem do professor? Ou nem se quer estão prestando atenção? Mas seus rostos estão fixos a frente. Posso deduzir pelo menos que estão ouvindo? Não sei... enquanto seus corpos não podem se libertar das duas horas de aula, suas mentes são livres e podem estar em qualquer lugar. Não necessariamente na aula.

     Então, como ter certeza de que estão aprendendo se não tenho nem se quer certeza de que estão me ouvindo? Já sei! Passarei um trabalho sobre o assunto estudado. Se não estão prestando atenção enquanto explico pelo menos estaram quando forem pesquisar o trabalho.

     — Pessoal! Trabalho para próxima semana. Pode ser apresentação aqui na frente ou escrito. Agora vamos lá para o laboratório para vocês pesquisarem o trabalho.

      Os alunos sentam-se em duplas, distribuidos em duas fileras que se fecham em circulo. Começa o ligar de luzes dos computadores. Senhas de uso a internet são digitadas e páginas do google são abertas. O professor ainda não entrou no laborátório. Um ajudante dele recolhe os cartões da chamada. A wikipédia é aberta e as palavras pulam da tela para os cadernos em letras apressadas e enganchadas. Em menos de cinco minutos o “trabalho” de muita gente já está pronto.      O professor entra no laboratório e é ofuscado pelo azul do facebook. Por que não estão pesquisando? O professor pergunta a si mesmo.

      — Professor! — uma das alunas o chama.      — Oi. — ele responde ao se aproximar da garota.      — Pra que estamos pesquisando isso?      — É para apresentar na próxima semana. Você vai fazer o trabalho escrito ou vai apresentar?      — Vou apresentar.      — Muito bem. Então vai pesquisando ai, e montando seu slide.      — Professor! Mas o que você quer? Como você quer que seja apresentado o trabalho?     — Bem... eu vou ver se o aluno pesquisou o trabalho direitinho. Se apenas copiou e colou ou se realmente se interessou em fazer algo legal sem o azul dos links.     — Hm...     — Mas não se preocupe eu não irei avaliar como você vai falar lá na frente.  E todas essas coisas só o conteudo mesmo.

      Parece que alguém desanimou com a facilidade do trabalho. Sem avaliação do orador, só um trabalho, sem aqueles links que direcionam direto para um site. Só uma forma de atribuir nota.

      O professor saiu do laboratório novamente. Sem supervisão, sem o trabalho levado a serio o facebook reinava 95% dos computadores. Os alunos ao invés de planejarem e organizarem seus trabalhos, estavam compartilhando fotos, curtindo páginas e teclando com os amigos. O horário reservado para a atividade se transformou em acesso gratuito a intenet.

       Faltando meia hora para o termino da aula a liberação para o acesso livre a internet tornou-se oficial.

       — Podem acessar avontade agora. — disse o professor em alto e bom som. Como se os alunos não tivessem tomado a liberdade de fazer isso.

       ***

       Na semana seguinte, no mesmo horário, no mesmo local. Inicia-se mais uma aula. O professor entra em sala. Liga o progetor. Olha para os alunos e dá “boa tarde!”. O mesmo discurso pré-apresentação de sempre. As mesmas perguntas e as mesmas respostas. Ele convida alguém a começar e senta-se com um bloco de anotações na mão. A garota do diálogo acima inicia a apresentação. Pelo que parece  ela fara a apresentação solo. Ela põem o pen drive e abre o power point.       Ela passa slides com figuras e letras em negrito. Ele observa, anota, se surpreende com a organização dos assuntos. Parece que deu certo a iniciativa do professor de passar um trabalho. Parece. A garota senta-se dando espaço para o outro grupo composto por dois alunos. O garoto de óculos começa. Ele ler o que tem nos slides, sua voz timida era tão baixa que fez-se silêncio para tentar ouvi-lo. A garota de cabelos amarrados continuo a fala do menino de óculos. Ela apontou com os dedos as palavras sublinhas e encerrou assim a apresentação. “Mais alguém vai apresentar?” O professor perguntou passando os olhos em todos naquela sala. Um garoto moreno parecia decidir se iria ou não iria. Ele se levantou, parou, pensou e caminhou até outro garoto mais a frente. Os dois cochicharam por uns minutos e logo em seguida se direcionaram a frente. O garoto branquinho virou-se de frente ao slide espelhado na losa digital. E começou a ler de costas para todos na sala. Ele lia baixinho. Só dava para saber o que ele estava dizendor se o acompanhassemos pelo slide. O garoto moreno passava os slides pelo teclado do computador. Ambos pareciam muito atrapalhados para tocar na losa digital.       De uma sala de vinte e cinco alunos apenas cinco pessoas apresentaram o trabalho. Umas dez pessoas entregaram ao professor a frente de uma folha de caderno com a definição em duas linhas de cada assunto pesquisado.  As demais não fizeram. Alegaram falta de tempo, acidentes com a folha do trabalho ou mesmo terem faltado semana passada.       Novamente o professor mandou os alunos ao laboratório.  Desta vez pesquisarem o assunto da próxima apresentação. E para quem não fez o trabalho, veja só, nova oportunidade para entregarem semana que vem. E como na semana passada. Em menos de cinco minutos facebooks abertos e trabalho deixado de lado. Pesquisar por pesquisar não dá, né?

      ***

       Visto isto. O professor decidiu mudar de tática. Como a empresa orientava os professores a darem opções para que os alunos possam passar ele teria que trabalhar com duas possibilidade e com duas avaliações. Primeira: o seminário em grupo. Ele seria avaliado da seguinte forma. O professor iria distribuir assuntos diferentes para cada grupo que fosse apresentar e considerar alguns critérios de avaliação do orador (ver tabela).    Segunda: O trabalho escrito. O professor eliminaria a forma convencional e chata do copiar e colar. E iria propor algo novo aos alunos. Um jeito de definir e aprender de uma forma mais criativa e interessante. Cada pessoa escolheria o assunto e escreveria sobre ele em forma de música, ou de poema, ou de crônica, ou de conto, ou de notícia ou em forma de dissertação. Poderia ser de qualquer gênero textual portanto que não fuja do tema e o defina/explique bem.

Escrito por Daiana de Holanda

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imagem de Jaquelinne Alcantara Soares

Pensando sobre o modelo de escola que temos!

É triste ler tal texto e constata que muitas vezes é isso o quê acontece.

Escolas, professores e alunos desmotivados, desatualizados, desleixados, entre outros "des" que possam existir.

A pergunta é: Qual modelo de escola queremos? Qual método de ensino devemos usar, os tradicionais, os modernos, os inovadores, entre outros? Precisamos realmente escolher ou podemos mesclá-los, no sentido de pegar o quê eles oferecem de melhor?

O texto relata uma sala padronizada, onde todos devem estar sentados, com olhos fixos fixos no professor e sempre com a  boca fechada (A não ser que saibam falar sem ser percebidos ou que sejam solicitados pelo professor), esses que conseguem são robôs? Acabam limitados e travados em sua expressão e criatividade?

Conteúdos, pesquisas e trabalhos são lançados de qualquer jeito, de forma desinteressante e sem o menor sentido. Muitos não conseguem enxergar a utilidade de aprender tantas coisas, não uma aproximação destes com a realidade que estamos inseridos.

Então, o quê fazer? Que atitude e postura tomar?

Espero grandes sugestões! Até logo. 

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imagem de Daiana de Holanda

Exatamente

Jaqueline, vc entendeu exatamente a mensagem que eu queria transmitir com essa crônica. Inspirada nas minhas aulas. E que de fato não é um caso isolado. Acredito que o educador é a peça fundamental para despertar o interesse do aluno. Quando percebemos o amor e a dedicação que um professor tem com o seu trabalho nos contagiamos. E somente com a participação ativa e a valorisação dessa participação que os jovens percebem que aprender também pode ser divertido e passam assim a compreender a importância de se tornarem pessoas criticas livrando-se da passividade e da ignorância.

A educação é a chave para um mundo melhor. 

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