Governador promete solução para internação de adolescentes no Pará

Depois de ouvir os relatos da equipe do programa Justiça ao Jovem, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de que o sistema socioeducativo do Pará está desestruturado e inadequado à reeducação dos adolescentes em conflito com a lei, o governador Simão Jatene assegurou, nesta terça-feira (14), que os problemas serão resolvidos até o final deste ano. “Vocês não vão voltar aqui e ver essa situação”, disse ele, em reunião com as juízas auxiliares da Presidência do CNJ, Cristiana Cordeiro e Joelci Diniz, e com a juíza da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Belém, Odete da Silva Carvalho.

Antes da reunião, as três juízas visitaram o Centro de Internação Masculino de Sideral, na região metropolitana de Belém, onde se depararam com diversos casos de abusos. Uma das situações encontradas foi a de um pedófilo que integra a equipe de administração do centro. Há algum tempo a direção do centro desconfiava que o funcionário abusava sexualmente dos internados, mas só recentemente ele foi denunciado por um dos adolescentes. Os responsáveis pela unidade pediram o afastamento do suspeito, mas nada havia sido feito até o momento.

A queixa de maus tratos por parte dos monitores é geral: os adolescentes mostraram marcas no corpo, e um deles, com a perna e a cabeça enfaixadas, contou que escondeu o problema por vários dias com medo de represália do monitor que o agrediu. “Não posso admitir que o Estado seja o reprodutor da violência”, indignou-se o governador Simão Jatene, alegando que estava sendo enganado pelos responsáveis pelo sistema, que sempre relatavam que a situação “estava melhorando”. Ele foi enfático também em relação à suspeita de abusos sexuais: “Não posso admitir que alguém que saiba que tem um pedófilo dentro da unidade não tenha tomado nenhuma providência, nem que a informação não tenha chegado a mim”, disse o governador.

Comprometimento – Simão Jatene contou que se empenhou na aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e que colocou na Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará (Fasepa) uma pessoa comprometida com a causa da criança e do adolescente. “Quero dizer de forma muito clara: essa conversa me deu a primeira pista do que fazer. A primeira coisa é acabar com a mentira”, afirmou.

O governador prometeu um choque de gestão no sistema socioeducativo do estado, e disse que suas determinações não estão sendo cumpridas. Na avaliação do governador, é possível que os profissionais que estão trabalhando na área estejam “cegos de tanto ver”. Ou seja, não acreditam na reeducação dos adolescentes em conflito com a lei. Além disso, ele lembrou que nenhuma iniciativa terá sucesso se não houver envolvimento dos profissionais. “Vou pra cima... vocês não vão encontrar mais isso aqui”, prometeu.

Choque – “Ficamos chocadas com a situação”, relatou a juíza Cristiana Cordeiro. “Vimos uma situação muito preocupante. Casos de agressão, violência física... é uma afronta aos direitos humanos”, completou a juíza Joelci Diniz. Os adolescentes internados passam o dia todo trancafiados em celas, sem qualquer atividade ou curso de formação que lhes assegure a reinserção social. “É dinheiro mal gasto, não tem resultado”, alertou Cristiana Cordeiro, lembrando ao governador que é preciso evitar que o Pará seja denunciado à Organização dos Estados Americanos (OEA), como aconteceu com o Espírito Santo, que ainda responde a processo movido pela organização. Segundo a juíza Cristiana Cordeira, situações como esta atingem negativamente a imagem do Brasil.

A juíza Joelci Diniz ressaltou, entretanto, que o Pará deu um importante passo ao criar uma unidade para adolescentes com doenças mentais. “É uma questão que ainda não mereceu a devida atenção em outros estados”, disse. Jatene questionou se a solução não seria entregar a administração das unidades a entidades religiosas. Integrante da magistratura do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), Joelci Diniz explicou que em Brasília há duas experiências de reeducação de adolescentes sob o comando de instituições religiosas: na internação provisória, segundo ela, o modelo apresentou excelentes resultados. Já na internação definitiva, a solução não deu certo e o Estado teve que reassumir a administração da unidade.

Na manhã desta quarta-feira, a equipe volta a visitar unidades de internação em Belém. No início da tarde, a equipe segue para Macapá, onde verificará a situação do sistema socioeducativo do Amapá.

Gilson Luiz Euzébio
Agência CNJ de Notícias

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