O drama do Bullying

bullying.jpgMarcas podem ser permanentes. Não basta cessarem as agressões para as vítimas se livrarem dos males causados pelo bullying. A frequência e a intensidade com que são praticadas as humilhações podem gerar danos psicológicos capazes de acompanhar o aluno agredido para o resto da vida. Essa é a sina enfrentada pela funcionária administrativa C., 28 anos.

Há 15 anos, ela foi vítima de apelidos e chacotas em um colégio de Bento Gonçalves, na Serra. Na época, embora o problema já fosse comum, não tinha denominação específica e despertava pouca atenção. Entre a 7ª série e o 1º ano do Ensino Médio, foi chamada de “testuda”, “espinhenta” e ridicularizada diariamente. Quando tentou reagir, foi surrada. Ia para a escola chorando, trêmula, e voltava com os nervos em pane. Os pais, sem entender a dimensão do problema, insistiam para que a filha não se importasse e seguisse os estudos.

– Eu sofri muito e até hoje sinto os efeitos. Não consigo ter contato com outras pessoas. Fico isolada e tenho vergonha do meu rosto – lamenta a ex-aluna, que pede para não ser identificada.

C. acabou abandonando a escola. Especialistas dizem que menosprezar o problema ainda é um dos principais erros de pais e educadores.

– O aluno precisa acreditar que, se denunciar a violência, os adultos vão tomar uma providência. Muitas escolas ainda lavam as mãos – avalia a psicóloga e psicanalista Mari Gleide Maccari Soares, autora do livro Violência? Privação de Amor.

Muitas famílias recorrem a estabelecimentos que são referência no combate ao bullying, como o colégio estadual porto-alegrense Padre Reus. Desde 2006, o professor Aloizio Pedersen desenvolve um projeto de conscientização baseado em produções artísticas e palestras. Este ano, 250 vagas para ingresso no Ensino Médio tiveram 1,6 mil pretendentes – quase o dobro do que costumava ser registrado.

– Não temos vaga nem em lista de espera – espanta-se Pedersen.

Segundo a pedagoga Denise Francisco, todo caso de bullying intenso e repetido pode deixar marcas. Algumas podem ser passageiras, outras, permanentes. No Padre Reus, um aluno conseguiu se recuperar de uma gagueira graças ao trabalho de combate à violência.

– É possível sofrer alterações na personalidade, como desconfiança, introspecção. Por isso, sempre é importante detectar o problema precocemente.

O drama se repete em escolas públicas e particulares. Uma aluna de um estabelecimento privado de Porto Alegre, por exemplo, sofria deboches diários no recreio porque tinha um sobrenome comum. Suas algozes, representantes de famílias abastadas, a perseguiam chamando-a de “ninguém” e fazendo provocações. Chegou a tomar um tapa. Ironicamente, sua mãe é uma psicóloga que estuda o bullying. Como o estabelecimento não coibiu o abuso, tirou a filha de lá.

– Era uma coisa muito incômoda. Pedi para não estudar mais lá – conta a menina de 15 anos.

Quando o assédio se prolonga, pode ser necessário procurar auxílio psicológico. A estudante de Bento Gonçalves, por exemplo, pretende começar seu tratamento nas próximas semanas – com 15 anos de atraso.

Entenda o problema
O QUE É BULLYING
- É a perseguição continuada a um aluno, por um ou mais colegas, por meio de intimidação psicológica ou agressão física sem motivo. Não é uma briga ou discussão ocasional, mas uma violência sistemática.
OS TIPOS
Confira algumas das formas de violência física ou psicológica mais comuns:
- Agressão física
- Ameaça de agressão
- Xingamento
- Ironia sobre características físicas ou maneira de vestir
- Exclusão do grupo e das brincadeiras
- Disseminação de mentiras
- Exigência de dinheiro, peça de roupa etc.
- Cyberbullying: utilização de sites e blogs, mensagens de celular ou outras ferramentas para humilhar ou intimidar
HISTÓRICO
- O bullying é um fenômeno muito antigo, sem data precisa de início. Apenas a partir dos anos 70, porém, recebeu essa denominação e passou a ser compreendido como uma ameaça à saúde física e psicológica dos estudantes. Nos últimos anos, vem recebendo atenção crescente de especialistas e governos.
- A origem das pesquisas sobre o bullying se encontra em países como a Noruega, onde foi percebida uma correlação entre suicídios de jovens e o ambiente hostil na escola.
OS MITOS
Alguns pensamentos fantasiosos estão entre as principais razões da continuidade da violência escolar. Conheça os mais comuns:
“É coisa de criança e adolescente”
- Não é: todos têm direito a um ambiente sadio e ao respeito mútuo.
“Basta não dar bola”
- A opressão continuada precisa ser interrompida de maneira ativa.
“É um rito de passagem” ou uma “experiência inevitável”
- Embora não seja raro, pode e deve ser evitado por trazer consequências terríveis para as vítimas.
“Ajuda a fortalecer o caráter” e “prepara as vítimas para a vida”
- Na verdade, pode gerar uma série de transtornos psicológicos e ameaçar a vida da vítima.
“Com o tempo, passa”
- Outro equívoco: os efeitos do bullying podem se manifestar pelo resto da vida.
“A vítima é sensível demais”
- Um engano comum é culpar a vítima e, assim, legitimar a violência.
“Nossa escola está imune ao bullying”
- Nenhuma escola pode garantir que não abriga algum caso de bullying. É preciso manter-se sempre alerta.
SITES ÚTEIS
- Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes: www.bullying.com.br
- Observatório da Infância: www.observatoriodainfancia.com.br
- No More Bullying: nomorebullying.blig.ig.com.br
Fonte: Fontes: Abrapia, Observatório da Infância, Denise Arina Francisco, Mari Gleide Soares e www.bullyfree.com

Publicado originalmente no jornal Zero Hora

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Existe a prática do Bullyng em sua escola?

Comments

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É impressionante como as

É impressionante como as pessoas que não sofreram com o bullying menosprezam o problema. Sofri bullying dos meus 11 anos de idade até os 15. Hoje tenho 25 e isso ainda me marca. São as crianças mais frágeis que são escolhidas como vítimas e o abuso acontece na fase de formação dos sujeitos. Muitas vítimas desenvolvem pouco as habilidades sociais porque sofreram esse tipo de abuso.

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Car@, seu depoimento é muito

Car@,

seu depoimento é muito importante para todos nós interessados em fazer da escola pública um bom lugar para ser e estar. Uma das coisas que percebemos como uma mudança significativa é que, hoje, há uma consciência maior de que o problema é também da instituição e não apenas uma "brincadeira" entre alunos. Sigamos conversando para que mais pessoas nas escolas se liguem para a questão e contribuam mediando os conflitos, esclarecendo ou punindo democraticamente os autores e protegendo quem precisa ser protegido/a.

Abraços

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Fim do Bullying

Gente, eu ainda realmente não sei como que essas "criaturas"  conseguem sentirem prazer em ver o sofrimento dos outros. como que esses individuos conseguem ficar quietos para esta sutuação, se rebaixam a tal nível. Não pensão que o pior sentimento é a maldade, ainda mais quando não necessitas de um outro sentimento tão rude e fanatico.

Tem ainda pessoas que se dogmatizam em relação a esse barbaro acontecimento que vêm se agravando aqui nas escolas da capital (Porto Alegre-RS). Isso é frequente com a união de BONDES/GANGS . 

Mas esse pessoal que já sofreu algum tipo de Bullyin, não devem se alienar a isso, e sim nos minutos depois falarem quando muito gravem ou, pelo menos, não deixarem acontecer, ignorando total e realmente não se reabaicando como já havia dito.

 

Pesoal vamos ter consciência do que estamos fazendo, e não faça pros outros o que não queira que façam a você. Se existe um mais feinho, ou um mais gordinho, isso não é de sua conta. Nós humandos não somos perfeitos, e se nos achamos perfeitos é porque realmente você ainda não têm noção de vida, e não sabe pra que está vivendo, nem como. Realmente a vida não é um morango, mas porquê dificultá-la?

Isso talvez seja um problema que venha já de casa, junto com familiares e amigos próximos. vamos pensar pessoal.

 

Wellington Marques Porto Alegre-RS

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Resposta à Wellington Marques

Olá Wellington Marques,

Você tem toda razão. O bullying é algo horrível, mas infelizmente está presente na nossa escola. Vemos que o bullying reproduz preconceito e é reflexo de padrões culturais da nossa sociedade e muitas vezes o preconceito é construído dentro na nossa casa, como por exemplo, a questão racial. Já que, muitos dos alunos que cometem bullying contra um colega que é negro, provavelmente têm um ambiente familiar que incentiva o racismo.
A escola tem a função de construir um ambiente que favoreça e respeite a diversidade, porque no final, ninguém é igual a ninguém.

Obrigada pela sua participação!!!

Abraços,
Lili Palhares e Marcos Silva
 

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imagem de Renata Oliveira- Aluna do EH-SG

Comentários

É interessante a página de vocês, estão de parabéns! Acho que todos, não só devem pensar em entrar no orkut e sim aqui também e ver o que a gente passa! Gostei muito mesmo,parabéns! Ah,até usei para meu trabalho da escola e tirei 10,0! Obrigada. Beijos

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imagem de Liliane Oliveira Palhares da Silva

Resposta à Renata Oliveira

Olá Renata Oliveira,

Ficamos felizes em poder ajudar os alunos do Ensino Médio. Será que podemos ver o seu trabalho? Envie-o para nós: emdialogo@gmail.com

Obrigado,

Lili Palhares e Marcos Antônio

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Sobre o Bullying

Você acha pertinente um debate com os alunos sobre o bullying ?

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