Museu da Vida conta a história da saúde pública no Brasil

Estudantes do CTUR sentem de perto o funcionamento do corpo humanoE.M Diálogo acompanhou a visita de alunos da 2ª série do Colégio Técnico da Rural ao Castelo Mourisco e ao Parque da Ciência na Fiocruz (RJ)

 O castelo é imponente. Para quem passa na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, é difícil não percebê-lo do alto dos seus 50 metros de altura. A construção é do início do século 20, inspirada no estilo oriental. O arquiteto que construiu o castelo ou Pavilhão Mourisco era português. Inspirou-se na cultura moura, já que esse povo estendeu seu domínio também para os lados de Portugal. As louças vieram de Portugal e da Inglaterra, as dobradiças dos Estados Unidos, a madeira e o granito são brasileiros.

"Estou me sentindo na época do romantismo", comenta uma das alunas do Colégio Técnico da Universidade Rural do Rio de Janeiro (CTUR), enquanto subia as escadas alemãs do Castelo. O Pavilhão Mourisco faz parte do Museu da Vida da Fiocruz, que a turma da 2ª série do CTUR foi conhecer no dia 26 de março.

"Aqui pesquisava-se o quê?", instiga o tecnologista Bruno Cury, responsável por acompanhar os estudantes. "Febre amarela!", responde outra aluna. "Sim, entre as doenças pesquisadas estava a febre amarela, mas também a varíola e a peste bubônica". O instrutor explica que por pesquisar doenças o castelo foi construído naquela região distante, onde, na época, só se chegava de trem ou de barco.

A imponência da construção se deve ao fato de Oswaldo Cruz, criador do então Instituto Soroterápico Federal, hoje Fiocruz, querer que o prédio da Instituição fosse aquele definitivamente e afirmasse a área das pesquisas em saúde no Brasil, até então, pouco valorizada. A vista das varandas do castelo dá para a Baía de Guanabara, a região hoje é densamente habitada e há várias linhas de ônibus que passam pelo local.

"Como se combate a peste bubônica?"

 Enquanto Bruno explicava, Lucas Varella, aluno do CTUR filmava quase tudo com o MP4. "Como se combate a peste bubônica?". "Matando rato", responde uma aluna à pergunta do instrutor. "Ela tá certa, fizeram o soro, mas também tinha que combater o foco da doença, que, no caso, é transmitida pelo rato". O tecnologista explica que foi aí que Oswaldo Cruz colocou em prática uma de suas medidas mais polêmicas: resolveu comprar ratos da população para exterminar o bichinho. Mas não deu certo porque as pessoas começaram a criar ratos para ganhar um dinheiro extra com a venda dos animais. Obviamente Oswaldo Cruz voltou atrás e, então, a nova medida adotada foi enviar agentes sanitários para espalhar raticidas pela cidade.

Essa não foi a única medida polêmica de Oswaldo Cruz, que na época também era diretor geral de Saúde Pública do Brasil. Pouco depois ele instituiu a vacina obrigatória, o que ocasionou uma revolta popular, a Revolta da Vacina.

"Se hoje já vemos como a população é tratada com truculência, imaginem naquela época, os agentes forçavam as pessoas a vacinarem e a vacina não era como é hoje, com seringa e agulha", conta Bruno. Ele explica para os alunos que a vacina era feita com uma espécie de corte com gilete geralmente no braço. Isso aumentava ainda mais a resistência das pessoas. As moças, por exemplo, não queriam ficar com aquela cicatriz feia e que geralmente inflamava e doía. Podia-se tomar a vacina na coxa, mas aí, na mentalidade predominante da época, as mulheres mal poderiam mostrar a canela, quem diria a cocha! E então, os esposos e pais ficavam revoltados.

Os estudantes também puderam ver no pavilhão Mourisco um museu com peças do início da Fiocruz, fotos dos cientistas e também a biblioteca de obras raras, onde Oswaldo Cruz e outros cientistas como Carlos Chagas se reuniam. A segunda parte da visita foi no Parque da Ciência, uma grande área verde na qual o visitante pode ter experiências como andar por uma célula animal e saber o caminho percorrido pelas ondas sonoras.

De estudantes para estudantes

Carina Mendes, José Paulino, e Amanda Correia também são estudantes do Ensino Médio. Roni dos Santos concluiu no final de 2008.Carina, José e Amanda também são estudantes de Ensino Médio e trabalham no Museu Amanda é monitora da recepção do Museu da Vida e Carina, José e Roni do Parque da Ciência. Ambos estudam na parte da noite em escolas públicas localizadas nos bairros próximos à Fiocruz e no caso de Roni, num pré-vestibular comunitário.

Para ser monitor do Museu da Vida há um processo seletivo, os candidatos escrevem uma redação e depois passam por uma entrevista. O programa de estágio estabelece que os aprovados permaneçam por dois anos na Instituição, sendo que no primeiro ano, assistem a um curso de seis meses e depois já começam a ter contato com o público visitante.

No noturno onde os três jovens estudam e um deles já estudou não há passeios desse tipo, como o que fizeram os alunos do CTUR. "Aqui aprendemos com uma educação não formal, a gente aprende fazendo porque mexendo nas coisas é diferente, tanto que passei a gostar de biologia. Por exemplo, na bancada de Pasteur, dá para fazer experimentos. Na escola, a professora fala e a gente fica só imaginando", comenta Roni.

Os jovens gostam do trabalho no Museu da Vida, mas dizem que o chato é quando falam e os alunos que vão visitar não prestam atenção. "Alguns pensam que porque a gente é de escola pública, a gente não sabe explicar", comenta Carina.

Ela diz também que é difícil estudar a noite porque os professores já estão cansados e o ensino é muito fraco. José, entretanto, faz uma observação: "os alunos também não estão aí para nada, se o aluno faz o que quer, o professor também não tem o que fazer", acrescenta.

Carina tem 18 anos, está no 3º ano em uma escola de Manguinhos, e tem uma filha de dois anos. José está no 2º ano, a escola onde estuda fica em Bonsucesso. Roni tem 17 anos e já concluiu o 3º ano e agora cursa um pré-vestibular comunitário na favela da Maré. Amanda estuda a 2ª série em um colégio na Vila da Penha e está grávida de seis meses. Os quatro jovens querem ingressar na universidade.

 Como visitar o Museu da Vida

 O Museu da Vida recebe estudantes e grupos mediante agendamento prévio das visitas durante a semana. Aos sábados, qualquer pessoa pode visitar mesmo sem ter agendado. De terça a sexta-feira o Museu funciona de 9:00 às 16:30h, e aos sábados, de 10 às 16 h. As visitas são agendadas pelo telefone (21) 2590-6747.

O Museu da Vida fica na Avenida Brasil 4365, em Manguinhos, zona Norte da cidade do Rio de Janeiro.

O estudante Lucas Varella filmou a visitaAssista ao vídeo da visita dos alunos da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Técnico da Rural feito pelo estudante Lucas Varella.

 

 

 

 

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