Vista a camisa da escola, mesmo que ela esteja rasgada

Falar sobre o currículo e sobre a integração entre as disciplinas é falar de um trabalho coletivo, mais precisamente, um trabalho interdisciplinar. Ou seja, o foco deve estar em todas as áreas que atuam na escola, trabalhando coletivamente para que aconteça essa integração. A disciplina de História deve dialogar com Geografia, com Arte e Educação Física; caso contrário não estaremos avançando no diálogo interdisciplinar. E como conseguir isso sem que o individualismo de cada disciplina continue atuando da forma como ‘’sempre foi’’? É preciso diálogo, trabalho e principalmente uma luta diária, para quebrar a mesmice que sempre imperou no colégio.
Atualmente fala-se de uma integração das disciplinas. Alguns apontam o governo como responsável por querer ‘’acabar’’ com algumas disciplinas do ensino médio, outros não enxergam por esse lado. O quadro atual comporta inúmeras disciplinas, que de fato, se fosse para enxugar tudo e trabalhar focando no ensino aprendizagem do aluno, daria para eliminar muita coisa que aí está.
Trabalhar dentro da área de conhecimento, focando disciplina por disciplina, eis o problema, pois muitos torcem para que a sua disciplina não acabe, como está sendo dito; mas, e se ocorrer uma junção das coisas ao invés de acabar? Eu posso trabalhar um assunto ligando com outro tema parecido, e é justamente essa a redução que ocorrerá. A previsão é juntar conteúdos e não eliminar conteúdos. Ou seja, trata-se de trabalhar o mesmo conteúdo com enfoques diferentes, por exemplo, o assunto guerra fria, que pode ser trabalhando pelo ponto de vista da história, assim como pelo ponto de vista da geografia, e não somente isso, mas também com o enfoque de várias outras disciplinas. Mesmo com determinados esclarecimentos, os boatos de que a filosofia e a sociologia irão acabar, continuam. Acabarão de uma vez por todas? Ninguém sabe, assim como não podemos afirmar que isso realmente irá acontecer. Levando em consideração que não podemos falar dessa forma, até porque não aconteceu e tudo que há são especulações, mas sim, o que pode ocorrer, e está mais próximo disso, é o enfoque de diferentes formas dentro dessas disciplinas, sem a imensa quantidade de conteúdo que hoje é posto aos alunos.
Mas, reduzindo os conteúdos estudados não será prejudicial aos alunos? Pois uma coisa é encher as escolas de projetos e tornar o ambiente mais atrativo para o jovem frequentar e estudar, outra coisa é ver que as escolas particulares não estão se importando muito com isso, pois os vestibulares e concursos continuam abordando as matérias tradicionais, que sempre foram postas a prova de quem pretende concorrer a um cargo em qualquer órgão que seja. É sabido que àquilo que é cobrado no vestibular tem como origem as escolas particulares, mas o foco aqui não é esse. Transformar o ambiente agradável, com projetos, ideias, é muito mais atrativo para o jovem, faz parte de sua formação para atuar no mercado de trabalho, e não para o vestibular.
Atualmente a escola pública busca reformar o ensino médio, baseando-se nos números do IDEB e ENEM. A ideia nesse momento é sanar esses problemas, que pode parecer nada aos olhos de alguns, mas que na realidade são gravíssimos. Ninguém tem nada contra a sociologia ou a filosofia, o objetivo não é eliminar, mas sim enxugar o quadro que atualmente é massacrante para aquele que pretende se formar com êxito.
Quando o ministro da educação propôs o PACTO do ENSINO MÉDIO, este curso que agora estamos realizando, o objetivo era conseguir uma mudança futura, focando o mundo do trabalho, a vida, e posteriormente a universidade. Ou seja, o trabalho é em longo prazo, para que o aluno depois de anos de formação alcance o sucesso esperado vivendo numa sociedade muito melhor que àquela que temos agora.
Quanto às ideias do pacto, acreditamos que dificilmente as escolas particulares irão se adequar ao que está sendo proposta. A ideia é outra, e o afrouxamento para essa nova abertura dificilmente acontecerá.
Dentro da ideia das quatro dimensões, atribuímos valores ao sistema de ensino EJA – Educação de Jovens e Adultos. De forma unânime a EJA foi colocada na ‘’guilhotina’’ como um sistema que engana àqueles que a frequentam, pois sua carga horária amplia o tempo de conclusão do aluno. Atualmente o currículo da EJA pode ser chamado de ‘’enganação’’, mas dificilmente será aclamado como tal. E como isso deve ser resolvido? A adaptação do currículo é uma alternativa. Sem mexer no currículo da EJA ficará inviável alcançar algum êxito para os próximos anos.
Assim como o currículo da EJA deve ser mexido, o currículo do ensino regular não deve permanecer intacto. Por exemplo, vejamos como o assunto Europa é ensinado nos diferentes anos do ensino fundamental. Os alunos estudam Europa em História e Geografia, com uma pequena diferença. Eles entram em contato com esse assunto pela primeira vez na disciplina de História, no sexto ano; passados dois anos, ou seja, no nono ano, eles veem o mesmo assunto na disciplina de Geografia. Por esse ponto a discrepância é muito grande. Por quê? A linguagem é muito diferente quando eles chegam ao sexto ano. Da primeira a quarta série eles tem contato com um tipo de professora que os trata como crianças, com uma linguagem totalmente diferente daquela que irão encontrar no sexto ano, ou seja, na quinta série. A linguagem simples dá espaço a outro ambiente. Antes estes mesmos alunos ocupavam o espaço de uma escola municipal, agora ocupam o espaço de uma escola estadual. Até a comida que lhes será servida muda. História e Geografia são irmãs, mas infelizmente elas não conversam. O problema existe e toda essa situação deve ser mudada.
Mas então, por qual motivo chegamos até esse ponto? Pense que a educação é uma grande bexiga cheia de água, nesse momento, a bexiga está furada, vazando. Vazando muito. Essa proposta de reforma para o ensino médio vem trazer o remendo para a bexiga, e não uma bexiga nova. Se essa reforma chega para remendar e não para mudar completamente o que já conhecemos, a grande pergunta que fica é: como será a atividade do professor no futuro?
O diálogo entre as disciplinas é horrível e muito difícil. O que acontece de vez em quando é tentar elaborar propostas para ambos os lados, o que sempre termina com a visão das pedagogas. Essa questão até agora não foi tocada, mas fica o questionamento: se a reforma do ensino médio pretende juntar áreas de conhecimento, como um professor que não entende nada de química vai ministrar química? A ideia surge justamente no momento em que se pensa que o professor deve ter conhecimento geral de todas as disciplinas. Impossível, pelo menos até o momento. Como um professor que não entende de química vai ter capacidade e conhecimentos suficiente para ministrar aula de química?
Muitos professores pecam, pois não conhecem a lei, muito menos o currículo do colégio, mais especificamente o PPP. No ambiente onde atuamos nenhum professor conhece o PPP, então, o que dizer. Além dessa falta de conhecimento existe um problema maior, muito professores são PSS. Desta forma a rotatividade dos professores prejudica não somente o profissional da educação, que pode perder suas aulas a qualquer momento, ou ser enviado para outro colégio, mas também os alunos que veem o currículo escolar ser mutilado a todo o instante.
A proteção a alguns ‘’profissionais’’ incomoda àqueles que fazem um bom trabalho na escola, e isso sobrecarrega esses profissionais. Seres humanos sob pressão explodem. O trabalho deve ser feito em cima do diálogo. E quem mais conversa no ambiente escolar, são os professores, os alunos ou os pedagogos. Avaliando de forma direta, diante a questão da indisciplina são os pedagogos. Há uma visão que se uma confusão acontece, e um pedagogo não está envolvido, parece que nada foi feito.
Aparentemente a bomba sempre cai no colo das pedagogas, que atuam em inúmeras áreas no colégio, menos na sua própria função. Assim como já citamos, que quando dois professores dialogam sobre determinado assunto, o documento final sobre aquela conversa contém a visão da pedagoga. Até aí elas entram numa função que nos lhes foi conferida. Mas, onde tudo isso começou?
Tudo aconteceu lá atrás quando ocorreu o primeiro concurso de pedagogos do Estado do Paraná. O primeiro concurso de pedagogos ocorreu em 2004, os aprovados entraram em 2005. Essa foi a primeira vez que pedagogos entraram no Estado por concurso. Num primeiro momento os diretores ficaram aliviados por saberem que agora tinham alguém para cuidar da indisciplina no colégio. A expressão ‘’cuidar da indisciplina’’ nunca foi tão usada em toda a história. Ou seja, agora os diretores tinham cuidadores de indisciplina. Com o passar dos anos a direção parou de cuidar disso e a função mudou. 2005, o primeiro ano dos pedagogos concursados, foi considerado um dos piores anos para os pedagogos. O trabalho pedagógico foi deixado de lado e esses profissionais se transformaram em cuidadores de alunos, gestores da indisciplina e porta vozes de pais de alunos, ou seja, faziam tudo na escola, menos cuidar da parte pedagógica que lhes cabia.
A visão pedagógica pode contribuir na montagem do currículo juntamente com o professor. A realidade em sala de aula para o professor é uma, fora da sala de aula, a visão do pedagogo é importante construir esses dois pontos de vista. Os pedagogos têm funções especificas, e essas funções existem, mas elas pouco são conhecidas por alguns, e para outros elas nem existem. Criou-se a ideia de que o pedagogo é quem cuida dos alunos que estão andando no pátio e são eles que fazem as atas. Atualmente o que existe é uma proposta do Estado, e é essa que é seguida. Muitos pedagogos desconhecem quais são as suas funções. Criou-se no estado uma tradição do perguntar e não consultar.

É muito mais cômodo você perguntar para um pedagogo que está há mais tempo na função, do que consultar as atribuições e ver o que realmente deve ser feito. Como o vício já foi concretizado fica difícil acabar de uma hora para outra com essa lenda que impera por anos e anos nos colégios. Lendas vêm e vão o tempo todo. Atualmente lidamos com a lenda de que as disciplinas de sociologia e filosofia vão acabar, quando será, não sabemos. Talvez ocorra no dia que as pedagogas começarem a cuidar somente da parte pedagógica que lhes cabe como função específica do cargo que ocupam.
A questão do currículo implica uma visão de mundo, e a pergunta que fica é, para que formamos pessoas? O currículo é a ponte entre a sociedade e a escola e por fim, é ele que acaba centrando a visão pedagógica no dia a dia, onde não se ouve os professores, pelo menos na nossa escola, e não sabemos como aquilo funciona. Para isso é preciso ouvir todos os lados, assim como é preciso lidar com várias situações. No ambiente onde trabalhamos gestão democrática não existe, é ilusão pensar assim. Inúmeras coisas devem ser reformuladas, pois o tempo passou, a realidade é outra, e tudo mudou menos alguns pensamentos que ainda circulam por lá. Não é uma mudança de um, é uma mudança do grupo. A escola como um todo deve se envolver para que a mudança ocorra. Se for preciso acontecer uma conversa entre as disciplinas não haverá espaço para o pessoal. A resistência existirá, e quando a bolha explodir, daí será tarde demais.

 

Artigo produzido pelos professores e coordenadores pedagógicos co Col. Est. Prof.ª Isabel Lopes Santos Souza.

Comments

imagem de ANGELA DA SILVA

Vestindo a camisa da escola...

         Realmente deve haver um diálogo entre as disciplinas para interagir  entre sí com relação aos conteúdos  fazendo um trabalho interdisciplinar e contínuo. Com já foi descrito acima, trabalhar o mesmo conteúdo com enfoques diferentes dentro das várias disciplinas interligando as. Para isso, um currículo bem organizado é muito importante. 

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