TEXTO REFERENTE AO CADERNO 1 - ELABORAÇÃO: PROFESSORES DO COLÉGIO ESTADUAL SÃO PEDRO APÓSTOLO - ORIENTADORES: ADAIR MARIA ROCHA E ADRIANO SCHEIK - CURITIBA-PR
RELEXÃO E AÇÃO 1
Temos muitos desafios em nossa Educação e um deles é superar as dificuldades que se arrastam desde o Ensino fundamental e, apesar da Educação Básica ser um direito garantido na Constituição Federal, ainda presenciamos alunos fora da escola por falta de vagas ou porque, infelizmente, a escola desenvolve um currículo que, na maioria das vezes, diverge da realidade dos nossos jovens, levando-os a abandonar a escola. Pensar em educação é pensar em transformação do sujeito.
Mesmo diante de todas as tentativas e avanços na oferta de um ensino médio de qualidade voltado para uma formação humana integral, temos muitos desafios e citamos alguns em especial.
1) Necessidade de construção de um currículo integrado, que se preocupe com o aprimoramento dos conhecimentos dos alunos a fim de que lhes possibilites as bases necessárias para galgarem o ensino superior e ganharem o mercado de trabalho, e de terem plena consciência de seu papel de cidadão com direitos e deveres. Um currículo que não tente robotizar os alunos com a utópica visão que todos aprendem da mesma forma sem considerar as influências sociais, culturais, familiares.
2) A universalização da oferta de vagas e a garantia de acesso a esse nível de ensino. Encontramo-nos no século XXI e ainda temos muitos municípios pequenos e rurais onde estudar o ensino médio não passa de um sonho para muitos jovens que, pela não oferta, acabam sendo excluídos e, dessa forma, tendo um futuro de poucas opções.
3) As precárias condições infraestruturais de muitas unidades escolares nos determinam certos limites. Esse aparente discurso parece velho e cansado, mas ainda necessário, pois deixamos de trabalhar conhecimentos básicos na área de informática, química, biologia, e outras, por falta de laboratórios, equipamentos, espaço e verba, além de, muitas vezes, não darmos aula porque tem goteiras, vidros quebrados, carteiras quebradas, etc.
4) Professores, técnicos e diretores devem ter o mesmo discurso e intenções para que haja condições de propiciar uma formação consistente e continuada. Para isso, também há a necessidade de investimento na formação dos mesmos. A participação de todos requer uma única linha de pensamento, onde todos devem contribuir com parcelas mínimas de doação, como: tempo para estudos, práticas diferenciadas no compartilhar conhecimentos, comportamentos acolhedores em todos os sentidos que possamos imaginar, afinal, quem não gosta de ser acolhido? A ação só existirá se cada um fizer a sua parte, o que, portanto, exigirá mudanças dos paradigmas antes verdadeiros e que hoje começam a dar espaço às novas formas de pensar e respeitar a todos num contexto de valores éticos, principalmente no compromisso que devemos ter com as políticas educativas que são teorizadas e poucas atuantes para as reais necessidades dos jovens que chegam ao Ensino médio. O compromisso também deverá ser de professores da educação básica para que não recebamos, por exemplo, alunos que, além de outras dificuldades, não saibam ler ou escrever.
5) Diante de algumas dificuldades financeiras, muitos jovens necessitam trabalhar para sustentar-se ou ajudar nas despesas familiares, o que os faz optar, é claro, pelo sustento e não pelos estudos. Além disso, muitos abandonam os estudos por não gostarem de ir para a escola, de não sentirem prazer pelo estudo porque está distante da realidade em que vivem, ou mesmo porque não são motivados pelos pais, afinal de contas a maioria dos jovens tem ânsia em aprender e interagir no aprendizado, gostam de aprender fazendo, experimentando.
6) Percebemos certa indefinição do papel e do sentido das etapas formativas da escola. Há uma gama de divergências político-ideológicas em torno dos objetivos e das atribuições do Ensino Médio em relação à educação e ao trabalho. Os objetivos do Ensino Médio de consolidar e aprofundar conhecimentos, firmar noções de trabalho e cidadania, permitir maior interação do sujeito com a sociedade, possibilitar formação ética e pensamento crítico e entender os processos produtivos, encontram-se um tanto quanto dispersos, resumidos a uma etapa veloz e ameaçadora de inserção no mercado ou em algum curso superior. Vemos a escola mais preocupada com os seletivos do que com a vida integral do aluno, ou seja, o termo trabalhar "o cotidiano do aluno", ainda está fora do currículo das escolas.
7) A educação brasileira é marcada por desigualdades sociais existentes na sua organização desde o período da república com a existência de dois sistemas paralelos de educação, um para o povo e outro para a elite, e na qual a consequência se permeia atualmente, pois a baixa qualidade de nossa educação pode ser observada sob diversos aspectos, por exemplo, o grande número de menores em idade escolar envolvidos em situações de violência e criminalidade, e aumento do uso de drogas.
Segundo Kuenzer (1989, p.28), “(...) não é possível superar a ruptura entre trabalho intelectual e instrumental, através da politécnica, dentro da escola, uma vez que a sociedade continua perpassada pela divisão social e técnica do trabalho (...)”. Apesar da escola tentar preparar o jovem de forma que ele possa continuar seus estudos, tanto em nível profissional como superior, deve propiciar competências sociais e cognitivas necessárias para que ele continue aprendendo, convivendo, produzindo e definindo uma identidade própria, além de possibilitar-lhe uma formação humana integral, capacitando-os com fundamentos científicos, tecnológicos, culturais e espirituais, indispensáveis à formação do homem moderno. Como observamos, um dos desafios será a construção de projetos destinados à redefinição dos objetivos e das atribuições do Ensino Médio, de formação humana integral que se proponha a superar a dualidade presente na organização do Ensino Médio, promovendo o encontro sistemático entre cultura e trabalho, proporcionando aos alunos uma educação integrada ou unitária capaz de fortalecer a compreensão da vida social, da evolução técnico-científica, da história e da dinâmica do trabalho.
Exporemos a seguir mais considerações que julgamos serem necessárias aos desafios:
a) Instalação de escolas em tempo integral. Apesar de todos os problemas brasileiros, esse modelo de escola se ajusta à proposta de formação integral, afinal 8 horas de atividades diárias na escola, professores exclusivos e currículo flexível (projetos, oficinas, etc.) possibilitam o desenvolvimento de diversas práticas que, certamente, atenderiam à expectativa de uma formação plena. A estrutura física adequada e uma equipe gestora, técnica e docente afinadas se somariam a esse processo.
b) Administração dos recursos financeiros nas escolas. A organização financeira é frágil na maioria das escolas, sendo necessário um suporte técnico aos conselhos, fiscalização por parte dos órgãos competentes e a responsabilização dos envolvidos.
c) Reestruturação curricular. O comportamento dos adolescentes e jovens mudou, mas a escola não se renovou para acompanhar essa mudança. O jovem tecnológico, com múltiplos interesses e com uma imensa capacidade de dispersão, não se adapta a uma escola tradicional, que ainda insiste em ter modelo antigo com uma didática basicamente teórica, com matérias separadas e sem ligação com a realidade. Essa reestruturação exigirá o máximo de experiências práticas e a construção de projetos interdisciplinares. Também será preciso discutir e definir os conteúdos relevantes para o processo de aprendizagem do aluno e sua consequente aprovação nos vestibulares (aliás, nem deveria mais haver vestibular uma vez que se busca uma educação integral!).
d) Participação da família na escola. Nos últimos anos os jovens brasileiros mais carentes seguiram para um caminho perigoso, pautado na liberdade além da responsabilidade e fruto de uma estrutura familiar moderna e liberal, o que estimula o jovem a ser independente e tomar decisões, principalmente quando se torna um jovem trabalhador. Isso não é um problema, muito pelo contrário, é bom ver um jovem protagonista de sua vida, mas o problema é que os pais abrem mão de serem pais. Essa juventude, no ambiente escolar, tem dificuldade em aceitar normas de convivência e de assimilar conteúdos que não fazem muito sentido à sua vida. As famílias não veem a educação como perspectiva de futuro, a procura por matrícula está relacionada à garantia de benefícios sociais como o Bolsa Família, então a tarefa torna-se mais difícil. Antes de mostrar ao jovem que a educação é um bem precioso é preciso convencer os pais.
e) Formação e trabalho dos professores. Uma situação bastante comum dentro das escolas é o comentário de que “os alunos não querem nada”. Essa onda de insatisfação e pessimismo que toma conta dos professores é crescente e preocupante. Mais importante que falar em questão salarial e condições de trabalho é a apatia e o desencanto de certos professores com a educação e a inércia no sentido de buscar alternativas de melhoria. A tarefa de resgatar a autoestima e a alegria pela docência é maior e mais espinhosa que a tarefa de educar os jovens, por isso precisa reciclar-se, buscar formas novas de ensinar, insistir em uma educação voltada para a o desenvolvimento do aluno de forma integral.
REFLEXÃO E AÇÃO 2
Além da ficha de matrícula, consideramos que um questionário complementar deveria ser criado para fazer o levantamento e termos uma noção maior sobre nossa realidade. Ficamos impressionados com os resultados (respostas) do questionário. Talvez porque a verdade sempre se apresenta de forma muito diferente daquela que gostaríamos. Faremos, então, uma explanação dos resultados mais relevantes para o nosso curso e o cotidiano da nossa escola, ou seja, os dados menos importantes serão omitidos.
Temos, além do Ensino Fundamental, Ensino Médio Regular e EJA, turnos da manhã e da noite. A pesquisa foi feita com alunos do EM regular e PROEJA (Técnico e Auxiliar de enfermagem).
A faixa etária - 15 aos 45 anos.
Estado Civil – 86% solteiros, 14% casados.
Trabalho – 46% trabalham, 54% não trabalham (35% dizem estar desempregados).
Renda Familiar – 01 a 03 salários mínimos.
Mantenedor da família: Pais - 58%, Próprio aluno - 34%, Outros - 8%.
Motivo para estar na escola: Realização Pessoal - 32%, Futuro Melhor - 34%, Melhor qualificação - 8%, Vestibular - 22%, Precisam - 4%.
Quanto à aprendizagem: 58% aprendem, 26% não aprendem, 16% não se interessam.
Por que não aprendem ou não se interessam: Aulas são cansativas – 28%, Aulas são repetitivas – 22%, Aulas pouco interessantes - 16%, Trabalham e ficam cansados – 26%, simplesmente não se interessam – 8%.
É claro que os dados precisaram ser compilados de forma a mostrar nossa realidade no geral, pois temos Ensino Médio no período da manhã com alunos mais novos, que na maioria não trabalham, diferente dos alunos do Ensino Médio do turno da noite, principalmente do PROEJA.
Enfim, as duas últimas perguntas ficaram bem próximas nos dois turnos, o que nos mostrou que realmente deve haver interesse de todos nós para hajam as modificações e interesses que o pacto tão bem expõe.
REFLEXÃO E AÇÃO 3
Um grande desafio será o de desenvolver as potencialidades que os jovens possuem, possibilitando os conhecimentos das leis que regem uma Educação de qualidade, para que possam contribuir na construção das normas que por eles serão vivenciadas. A educação precisa discutir a interatividade e a integração, dos conhecimentos curriculares, colocando o desafio da pesquisa como incentivo do aprender, e de acordo sua realidade. Isso seria uma contribuição ao jovem para ter acesso, permanência e condições de compreender a sua presença na sociedade.
O protagonismo juvenil se constitui em um grande aliado na busca por uma prática didática e pedagógica inovadora, porém também pensamos que nosso desafio vai além do espaço da escola, e em conjunto com as inovações pedagógicas, devemos convencer os legisladores de que existe urgência em se reavaliar as politicas voltadas para os jovens. Somado a isso tudo temos diferentes realidades dentro desse país imenso que é o Brasil, como criar uma proposta pedagógica integrada que dê conta de ofertar ao jovem a possibilidade de desenvolver suas potencialidades mais humanas, e preparando-o para o mercado de trabalho dentro das diferenças culturais e econômicas.
“Educar integralmente” sugere uma tomada de posição e de consciência de todos, pois se faz necessário que a escola esteja também preparada para receber estudantes com diversidade de opiniões, de carências, dificuldades e anseios. Não há mais como nos fecharmos dentro da escola e não querermos tomar conhecimento sobre o que os alunos pensam, o que estão fazendo dentro e fora dos muros da escola, afinal trabalharemos com o jovem privado de liberdade, com a gravidez na adolescência, com a violência doméstica, com o jovem trabalhador, com aquele que está desempregado, ou que já formou família, com o estudante que é surdo ou cego. Enfim, precisamos estar preparados para trabalhar com o jovem e com toda a complexidade que esta sociedade exige. O que nos cabe como professores é buscar garanti-lo de fato, integrando a educação com as dimensões do trabalho, tecnologia, ciência e cultura, defendendo um sistema de educação que viabilize, através de parcerias com outras instâncias, a qualidade e equidade na educação, buscando a formação do ser humano em seus aspectos humanísticos, éticos e sociopolíticos.
A proposta do DCNEM é necessariamente é muito importante aos jovens do Ensino Médio, pois ''uma formação em que os aspectos científicos, tecnológicos, humanísticos e culturais estejam incorporados e integrados'', são esperados bons resultados, por isso alcança os princípios em todas as suas potencialidades, facilitando a emancipação enquanto ser na sociedade. A educação é um instrumento motivador de transformações e de formação do ser humano, uma vez que o processo oferece ao indivíduo habilidades para que ele desenvolva a capacidade de agir sobre o mundo e para o mundo, pois uma formação integral desenvolverá um ser questionador, construtor de saber, crítico e ético.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, é preciso garantir o Ensino Médio como um direito social de cada pessoa e um dever do Estado a sua oferta pública e gratuita a todos (Art. 3º), sendo que em todas as suas formas de oferta e organização deve buscar uma formação humana integral (Art. 5º, Inciso I). Então, torna-se imprescindível garantir uma base igualitária para todos e, as especificidades de cada grupo que possa existir devem ser contempladas no projeto pedagógico e na organização curricular, garantindo a base comum e a formação humana integral, primando sempre pela omnilateralidade, pois o ser humano necessita de uma formação que possibilite a compreensão da relação existente entre sujeitos e saberes, competência técnica e compromisso ético, capacitando os sujeitos para a leitura do mundo e para uma atuação profissional fundamentada, como já citamos, nas transformações sociais, políticas e culturais, essenciais à construção de uma sociedade igualitária. Para que essa mudança ocorra torna-se necessário o envolvimento de todos os profissionais da educação, família e educandos no processo de efetivação de uma formação humana integral.
REFLEXÃO E AÇÃO 4
Iniciativas de reforma curricular do ensino médio foram criadas e empreendidas, visando melhoria de sua qualidade, porém são poucas as informações acerca dos resultados que possam avaliar o alcance dessas iniciativas e que tipo de integração está sendo efetivamente privilegiado. Disseminou-se a nova forma de protagonismo juvenil e estudantil como componente da gestão escolar compartilhada, o que, de um lado, pode estar corroborando com a despolitização dos estudantes e, de outro, abrindo espaços para surgimento e/ou fortalecimento de movimentos estudantis. Tal fenômeno indica a necessidade de olhar com atenção para esse novo movimento estudantil secundarista que emerge no Brasil para entender outras dimensões e potencialidades.
A universalização do acesso dependerá de vários fatores, dentre eles a própria universalização do ensino fundamental, onde ocorreram significativos avanços, porém ainda não foi concluído como se esperava. Será preciso, então, políticas públicas educacionais que promovam a universalização do acesso, reformas estruturais para superar a desigualdade e para, além disso, financiamento de qualidade, com garantia do acesso, e acesso com permanência e qualidade, para que se possa oferecer também qualidade no ensino, bem como condições de trabalho e valorização profissional para os trabalhadores da educação, além do compromisso desses profissionais. É notório que é fundamental lastro orçamentário para subsidiar as políticas públicas educacionais, mas com o recurso financeiro necessário, pode-se construir uma política pública redistributiva e emancipatória, que permita aos jovens brasileiros a conclusão de seus estudos na Educação Básica e sua inserção no mercado de trabalho.
Ao despertar no aluno as inquietações do mundo, de emoções de várias carências sociais e essenciais para a vida, é indispensável que orientações aconteçam, por isso, as aulas precisam seguir as tendências das multidisciplinas, temas transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários.
Apesar de já terem se passado dezoito anos da promulgação da Lei nº 9.394/96, que atribuiu ao Ensino Médio estatuto de última etapa da Educação Básica, é nítida a ausência de políticas públicas voltadas especificamente a garantir o direito à educação básica, que só se completa com a conclusão do Ensino Médio. Universalizar o Ensino Médio é afirmar que todas as pessoas em idade escolar ou não, devem frequentar a escola ou, pelo menos, ter para si uma vaga ofertada pelo Estado. Além disso, é necessário que todos permaneçam e o concluam com domínio teórico-metodológico dos conhecimentos historicamente produzidos, pois o Ensino Médio é a etapa crucial da educação e funciona como canal de ascensão gerando um espaço de competição que altera, de certa forma, hierarquias sociais previamente existentes, por isso a necessidade de que todos tenham o mesmo direito.
Enfim, para haver a Universalização do Ensino Médio, são necessárias políticas que permitam mudanças ou reformas estruturais e promovam a superação da estrutura social geradora da desigualdade. Para isso, será imprescindível chamar o jovem para a escola, deixa-lo se sentir escola. Em contrapartida, a escola precisa acolher este jovem, sem que sinta o desejo de afastar-se dela, pois é preciso que as escolas propiciem a aprendizagem de conteúdos dos seus diversos campos.
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Comments
Universalização do Ensino Médio
Para que o ensino médio seja realmente abrangente, faz-se necessário politicas publicas de inclusão e também que os jovens e adultos tenham noção de que realmente o ensino médio é algo necessário para formação pessoal e não apenas para enfrentar o vestibular, o cidadão tem necessidades de conhecer o local, que vive o espaço que faz parte e para poder emitir qualquer opinião sobre o assunto tratado.
Já é tempo do povo parar de reclamar e por seu direito de conhecer o que é de seu direito e dever.
Universalização do Ensino Médio
Muito pertinente a reflexão dos professores do Colégio São Pedro Apóstolo. Achei muito precisa a pesquisa elaborada. Parabéns!