Temática 01 - Caderno 01 - Questões: Reflexão e ação

Colégio Estadual Bartolomeu Mitre - Foz do Iguaçu

Após a construção histórica do Ensino médio no Brasil percebemos que, atualmente, defende-se pelo governo que a educação brasileira seja uma só universalizando o ensino básico, nesse sentido os níveis de conhecimento devem ser os mesmos. Mas os projetos pedagógicos do Estado, enquanto instituição, não percebem as particularidades de cada localidade, de cada escola, de cada período (matutino, vespertino e noturno), de cada estudante.
O ensino médio é fragmentado, pois historicamente foi construído dentro de dois universos, formando elites para as universidades, ou formando trabalhadores para o mercado. Estamos lutando para que todos os estudantes recebam realmente uma educação mais humana, crítica e de qualidade, acreditamos que essa é a meta, não só das políticas de governo, mas de todos os professores que estão na rotina da sala de aula. Acreditamos que as principais metas e objetivos para que o Ensino médio chegue à qualidade que tanto queremos devem iniciar por dois pontos fundamentais:
A qualidade do Ensino nos diferentes períodos de estudo: ampliando a oferta pública do Ensino médio de qualidade, gratuito e pedagogicamente integrado ao caráter formativo, garantindo ao público do ensino noturno a mesma qualidade oferecida ao diurno, para tanto a escola pública terá que promover políticas de melhorias de trabalho e de valorização dos professores e do ambiente escolar; o ponto de partida para que tudo se concretize é um projeto político pedagógico determinando objetivos e estratégias para alcançar e avaliar a aprendizagem através de um trabalho coletivo e democrático.
Evasão Escolar: umas das suas explicações para este fenômeno é o ingresso ao mercado de trabalho, alguns por necessidade de contribuir com a família, e outros motivos. A evasão escolar está associada ao fato da estrutura escolar não possibilitar aos alunos e professores a experiência do acontecer das ideias, na sua produção em consonância aos desafios concretos da vida em sociedade.
A fim de estabelecer um perfil socioeconômico e cultural dos estudantes do Ensino médio do Colégio Estadual Bartolomeu Mitre, 285 (duzentos e oitenta e cinco) jovens responderam a um questionário, elaborado pelos professores, que incluiu questões sobre a vida escolar e familiar, lazer, cultura, entre outras indagações importantes. Os alunos que responderam são:  101 (35,4%) alunos da primeira série, 66 (23,1%)  alunos da segunda série e 118 (41,4%) cursando a terceira série. Nossos estudantes têm idades entre 14 e 24 anos, predominando jovens entre 16 e 17 anos, pouco mais da metade deles (52%) são meninos. Com relação ao perfil étnico relatamos 47,7% dos alunos se autodeclararam brancos, 34% pardos e somente 4,9% pretos. Destaca-se aqui que anteriormente, durante as aulas de Sociologia os estudantes foram esclarecidos sobre a auto declaração de etnia e a questão da cor nos questionários socioeducativos e pesquisas em geral.
Em sua vida escolar 28,7% repetiram alguma série do Ensino médio.
Dentre nossos alunos 76,8% vivem com os pais biológicos e 70,8% em moradia própria. A renda familiar é para 41,7% de três ou mais salários mínimos, enquanto menos de 3,5% declaram que sobrevivem com uma renda familiar inferior a um salário mínimo. Quem geralmente trabalha na residência são o pai e a mãe (em 44,5% das famílias), destes 77,1% são trabalhadores formais.
A participação juvenil em atividades culturais é de 23%, em cursos 32,6% e em atividades esportivas é de 49%.
A maioria de nossos alunos tem acesso à internet e computador em casa (88%), destes mais da metade gasta mais de quatro horas diárias acessando a rede. Em contrapartida o tempo dedicado aos estudos fora da escola é bem pequeno, 27% dizem não dedicar tempo algum para estudos além ao âmbito escolar e 48% declaram estudar cerca de uma hora diária.  Perguntamos quais deles costumam ler e 61% deles confirmou que costuma ler materiais diversos, entre eles livros, revistas e jornais.
Entre nossos alunos 91,9% pretendem ingressar em um curso superior. Gostam de estudar 77% e da escola que frequentam 78%, porém apenas 57% afirmam estar satisfeitos com o ensino na sua escola e 52% satisfeitos com sua aprendizagem. Analisamos aqui que muitos dos alunos insatisfeitos com o ensino dentro da escola são os mesmos que nos responderam não gostar de estudar e são também aqueles que dedicam menos ou tempo nenhum para os estudos fora da sala de aula.
Perguntamos sobre alguns tipos de violência e preconceito, 5,2% dizem já ter sofrido algum tipo de preconceito em relação à condição sexual; 5,6% pela condição econômica vivida e 9,8% sofreram alguma forma de preconceito em relação à cor da pele. Entre as vítimas de violência, tanto familiar, quanto social 13,6% admitiram sofrer algum tipo.
Em se tratando da proposta de formação humana integral para o Ensino médio brasileiro, vemos como princípio norteador a formação integral dos estudantes, ou seja, em todos os âmbitos do conhecimento – científico, tecnológico, humano e cultural dentro da vida em sociedade; a base deve ser igualitária à todos (pública, gratuita e laica); tomando o devido cuidado com as particularidades de cada realidade.
A formação humana integral implica em competência técnica e compromisso ético transformando a sociedade através de indivíduos autônomos colocando em risco a própria estrutura social contemporânea.
Nossa análise passa a ser crítica a partir do momento em que pensamos que essa proposta prega a igualdade em uma sociedade desigual social e culturalmente. Já discutimos essa questão anteriormente e vemos que dentro da própria escola temos enfrentado essa dificuldade, como tratar o estudante como um sujeito único? A maioria de nós é professor em dois ou até três períodos diferentes e tentamos adaptar o que acontece no período matutino para o noturno, por exemplo. Essas adaptações já são pensadas pelas próprias particularidades existentes de um para outro período dentro da escola, no dia a dia de cada professor. Mas essa realidade, essas adaptações não devem ser adotadas por um ou outro profissional, elas devem ser regras, devem ser seguidas à risca para que todos os estudantes recebam o ensino de qualidade, independente de sua realidade além o âmbito escolar, para que todos tenham acesso à pesquisa, à cultura e à tecnologia, integrando a educação e as dimensões do trabalho, desenvolvendo, assim um currículo de qualidade a todos.
Seria viável realizar uma pesquisa com países que já conseguiram reverter o quadro de abandono e déficit escolar no nível médio e assim montar propostas baseadas em exemplos que já atingiram resultados positivos, onde a universalização foi bem sucedida e os indicadores de qualidade revelam sucesso dos programas implantados, levando em conta a realidade regional e a possível aplicabilidade dessas politicas que possam promover o acesso, a permanência e o sucesso deste nível de ensino. Pois é aqui que se apresenta um dos desafios para as políticas educacionais e para os educadores, construir perspectivas para a superação do modelo de educação pautado em uma visão construída historicamente e unilateral de ensino.