A RESIGNIFICAÇÃO DO ENSINO MÉDIO A PARTIR DO (RE)CONHECIMENTO DA JUVENTUDE BRASILEIRA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO – PÓLO MARABÁ
O jovem como sujeito do Ensino Médio – Etapa I, Caderno II.

A leitura do caderno II nos leva a refletir sobre a juventude e sua identidade e, com isso desconstruir, coletivamente, o perfil de juventude que possuímos em nossas concepções pessoais, para então construir uma visão de juventude que deve servir de base para todas as nossas discussões a respeito da resignificação do Ensino Médio. Tal perfil servirá de base também, para que entendamos não somente as dificuldades de nossa prática pedagógica diária, como para nos levar ao redirecionamento de nossas ações a fim de côngruí-las com os novos objetivos de formação desses jovens.
Discutir a juventude na contemporaneidade leva-nos a tomar duas precauções importantes: entender que a noção de juventude é uma construção social e cultural e, além disso, bastante diversificada; e compreender que a noção de juventude não pode ser definida isoladamente, mas a partir de suas múltiplas relações e contextos sociais. Nesse sentido, pensar a ideia de juventude é pensar sobre condições de gênero, raça, classe social, moradia e pertencimento religioso. E, o principal, contextualizá-la historicamente, como integrante de uma geração específica que se relaciona com outras gerações. Por isso, como já tem sido bastante reiterado pelos especialistas, não é possível falar no jovem atual, mas nos diferentes modos de vivenciar a juventude na contemporaneidade.
Assim, somos convidados a refletir sobre a importância de se construir uma visão de juventude que ultrapasse a noção etária e os variados estereótipos impregnados nos discursos superficiais, que reduzem esta fase da vida as inconstâncias hormonais e a transitoriedade da adolescência. A nova reflexão deve girar em torno do protagonismo juvenil, entendendo os jovens em sua diversidade e possibilitando a sua participação nas tomada de decisões que lhe atingem diretamente no dia a dia do contexto escolar.
Para tanto, é importante que entendamos as peculiaridades das representações construídas pela juventude no mundo atual, representações estas que demonstram a visão de mundo que nossa juventude possui, e conferem identidade a ela. Com base nessa análise podemos traçar estratégias para uma prática pedagógica que se aproxime cada vez mais da realidade desses jovens e, consequentemente, alcance uma formação pautada no desenvolvimento de suas habilidades e competências para o desenvolvimento de cidadãos participativos e conscientes de seu papel social em nosso país.
Vale ressaltar que a juventude, ao mesmo tempo em que é vista como categoria social, com características próprias desta fase, também se depara com alguns paradigmas que merecem nossa reflexão. Um deles é a juventude e a modernidade, e a relação que se estabelece entre ambos. Relacionar juventude e modernidade significa aproximar dois mitos que atualmente desfrutam enorme expansão. O primeiro refere-se ao jovem dotado de espontaneidade sempre renovada pelas vidas jovens, acompanhada das inúmeras oportunidades presentes. O segundo relaciona-se ao “modernismo”, ou seja, a atualidade acompanhada pela rapidez com que a nossa história avança e, ao mesmo tempo, pela necessidade constante de renovação. Nesse cenário, as tecnologias passam a compor a cultura juvenil de forma que não podemos observar as representações jovens sem perceber a importância que a modernidade tem sobre ela. Dessa maneira, a construção de nossas práticas pedagógicas deve acompanhar também, a evolução dos meios tecnológicos, para que estes a resignifiquem positivamente, contribuindo para que possamos alcançar a atenção e identificação de nossa juventude.
Na discussão a respeito da identidade dos jovens e do próprio ensino médio não podemos perder de vista a importância que este possui na qualificação dos jovens para o mercado de trabalho, entendendo esta importância não apenas no sentido de formação técnica para o trabalho, mas no sentido da construção de um perfil de indivíduo social que se pretende formar para atuar no mercado de trabalho. Aqui se ressalta que no contexto atual, a escola brasileira recebe um contingente significativo de jovens que já trabalham e tentam conciliar sua formação com sua jornada de trabalho, e que esta também é uma das identidades de jovens que deve ser levada em consideração nas reflexões acerca da (re) construção do Ensino Médio em nosso país. É importante para estes jovens que a escola represente um local de identificação para que assim ele se permita continuar sua formação e qualificação enxergando na educação a possibilidade de um futuro melhor.
A diversidade de perfis dos jovens brasileiros nos leva a considerar que a proposta de nossa prática pedagógica, bem como o perfil de nossas escolas deve ser reconsiderada a partir da abertura do diálogo entre jovens e professores dentro do contexto escolar. Devemos refletir sobre o jovem que temos (que ajudamos a construir) e o jovem que queremos, para que possamos direcionar nossas ações em sala de aula. Para isso é necessário que ouçamos aquilo que os jovens têm para dizer, agindo como orientadores levando em consideração as idiossincrasias que se apresentam ricamente neste tipo de diálogo.
Dentro dessa análise, acentuamos que não basta garantir voz aos jovens é necessário que saibamos ouvir atentamente aquilo que eles têm a dizer. O filme Bicho de Sete cabeças e a música “Não é sério” nos fazem refletir sobre a posição de hierarquia que assumimos frente aos jovens, e que tal contexto nos leva a reprimir sua expressividade, a tolir suas manifestações e a tentar resignificar sua identidade, levando-nos ao conflito, e no contexto escolar, a desistência. Garantir a expressividade dos jovens é fundamental para que tenhamos os instrumentos necessários para nossa prática pedagógica e, com tais instrumentos, possamos oferecer uma educação mais concreta e um ensino mais motivador.
É importante ressaltar que um dos problemas mais perceptíveis no Ensino Médio é a disparidade que existe entre aquilo que deve ser ensinado e aquilo que os jovens esperam aprender. A grande maioria dos jovens não vê outra utilidade para os conhecimentos apreendidos senão o de preparação para os vestibulares anuais do Brasil, mostrando que a prática o discurso da formação humana integral continua no mundo das ideias, chegando minimamente à prática cotidiana de sala de aula.
O objetivo nobre de se voltar o Ensino Médio para a formação humana integral deve levar em consideração que os jovens do Brasil são seres socialmente construídos e que a análise de sua identidade precisa ser debatida para que as escolas possam pensar em uma nova abordagem pedagógica de trabalho. A mudança deve não somente alcançar as salas de aula, como também todos os demais espaços pedagógicos da escola, fazendo com que o jovem se sinta familiarizado com este contexto e, que ao se sentir assim, entenda a importância de sua formação escolar, aumentando a quantidade de cidadãos conscientes em nosso país e diminuindo, consequentemente, os índices de evasão escolar.
Como espaço democrático, a escola deve possibilitar, de maneira articulada, os espaços de diálogo e de expressão dos jovens com os professores, pais e comunidade escolar, de tal forma que estes sintam liberdade ao se expressar garantindo a eles diversidade nas formas de expressão entendendo que estas também fazem parte de sua identidade a qual deve ser repeitada e valorizada dentro de sua escola. Reconhecer estas identidades é o ponto principal para que se estruture uma proposta de formação humana integral nas escolas de nosso país.
Para isso, é necessário que a equipe pedagógica da escola, formada não somente pelos professores como também pelo seu corpo técnico pedagógico de gestores, coordenadores, supervisores e orientadores, tomem para si esta responsabilidade e trabalhem ativamente para esta mudança de paradigma, fortalecendo e unificando sua proposta pedagógica e atuando para o desenvolvimento do protagonismo juvenil em nossas escolas.
Este é o ponto de partida e condição também necessária e imprescindível para responder às questões discutidas nesse texto, mas não é o suficiente. É preciso também um projeto pedagógico que parta dos sujeitos reais, concretos, com sua cultura, saberes, e potencialidades. Um projeto que receba os jovens antes como seres humanos, sujeitos de direitos coletivos e subjetivos. E esta postura depende da consciência ético-política do professor e, da responsabilidade e cobrança coletiva de cada escola.
Organizar e socializar o conhecimento, afirmar valores e atitudes para jovens com rosto, experiências, cultura e saberes, são considerados pontos de partida de um processo de construção de conhecimento que os afirma como sujeitos e protagonistas de uma sociedade não só mais justa, mas, sobretudo, de efetiva igualdade de condições de produção da existência.

 

  • Aida T. dos Santos de Souza

Licenciada Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará, Licenciada Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará, graduanda do curso de Bacharelado em Direito pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, pós-graduanda em Educação e Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará, servidora efetiva estadual atuando como Coordenadora de RH da 4ª Unidade Regional de Educação da SEDUC e como formadora regional do Pacto pelo fortalecimento do Ensino Médio em Marabá.