Reflexão e Ação: Caderno 1. Pág 31.

Nos últimos 10 anos a proporção de jovens que apenas estudam ou os que estudam e trabalham apresentou um decréscimo. Porém, a evasão escolar teve um acréscimo, justamente pelo fato destes mesmos jovens, que não concluíram o EM, optarem pelo ingresso no mercado de trabalho. Segundo as estatísticas do IBGE de 2009, 37,9% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos de idade possuem escolaridade média, 15% só estudam, 15,5% estudam e trabalham e quase metade da população só trabalham.
Condições essas que levam ao abandono precoce, devido à condição socioeconômica dos alunos, que influencia diretamente na sua visão de mundo em relação à educação. Uma vez que, a maioria dos alunos matriculados estão no ensino público e uma pequena parcela elitizada está no ensino privado. Isso é consequência de um sistema complexo, que contribui para que as estruturas mais fortes se organizem a fim de privilegiar pequenos grupos e pessoas. E infelizmente isso é aceito pela grande massa, através do senso comum, que acredita que essa distinção seja normal e que não questiona. Talvez por não acreditarem na importância da educação para se tornarem sujeitos críticos.
A escola por si só não transforma a sociedade, mas uma educação libertadora, que valoriza a criticidade, a reflexão e a inclusão, por exemplo, e que faça do seu aluno o ser protagonista nessa construção do saber, requer a ação de profissionais que muito além de transmitir informação e conhecimento, busquem resgatar e incentivar em seus alunos a questão humana, menos individualista e consumista, que acabam sendo excluídas perante esse sistema capitalista que nos é imposto.
Diversos são os jovens que iniciam o EM sem ter a responsabilidade e o comprometimento necessário, principalmente no que se refere a hábitos de estudo e leitura, interesse e seriedade para com as disciplinas ministradas. Acredito que isso seja fruto de uma cultura que se estabeleceu entre os jovens da comunidade escolar que atuo, e que de certa forma estes não conseguem realmente ver sentido algum na educação, para que a sua realidade seja transformada.
Na escola que leciono o perfil dos alunos matriculados no EM é de classe econômica baixa, com acesso cultural limitado, baixo rendimento salarial no âmbito familiar, famílias desestruturadas emocionalmente, com falta de diálogo entre pais e filhos, gerando dificuldade de impor limites, acesso fácil a drogas e álcool, etc. Esses e outros são os motivos que os levam ao abandono escolar, para ingressarem no mercado de trabalho, infelizmente como mãos de obra baratas, e poderem consumir tudo aquilo que lhes é ditado pelas mídias.

Comments

imagem de Marieli Mendes de Oliveira

Problemas no EM

É assustador, para nós educadores, olharmos essas estatísticas e nos reconhecermos também como parte dessa estrutura excludente.Gostei muito do seu relato. Está enumerado nele todos os problemas que  levam os jovens a não terminarem o EM , e que há muito queremos expor.Assim, considero muito importante esse diálogo, estra troca. O momento está pedindo mudanças. Temos que discutir muito sobre isso, e eu achei seu parecer completo e crítico.Também acredito numa educação transformadora e libertadora. Mas é preciso mais do que profissionais incentivadores e conhecedores dos valores humanos. Precisa-se de uma transformação  estrutural, social e também cultural.

 

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