Mestre em educação estuda o sentido da educação para os adolescentes em conflito com a lei

 

     Um momento singular é quando um professor aponta uma luz para a educação significativa aos adolescentes quando ele conta uma percepção dele quanto à violência que existe dentro da internação sobre os “chuchos” ou as “pregadas” que são pedaços de ferro que os adolescentes utilizam como armas para se defender ou atacar, ele diz: “engraçado os adolescentes fazem crochê confeccionando bonés para eles, seus familiares ou amigos, e a agulha não vira arma na mão deles, ninguém faz vistoria para tirar a agulha que grande parte deles tem, mas que não é considerada uma arma.” Percebo que a educação no sistema sócio-educativo não se trabalha na perspectiva de educação significativa, pois quando algo para estes adolescentes tem um sentido especial é como se a instituição escolar não visse; pois para o sistema os adolescentes terem a liberdade de fazer um crochê é o momento que estes tem apenas de um “passa tempo”. Desta forma o processo educativo é apenas formal onde se trabalha a questão cognitiva e os conteúdos apenas durante o período das aulas, não percebendo que todo o tempo que eles estão ali é um processo educativo que poderia ser utilizado no processo de ressocialização.

   Diante destes relatos ouso dizer que não estava preparada para ouvi-los, mas que foi a partir deles que consegui visualizar o fenômeno que estava diante de mim e compreender a complexidade das relações existentes no sistema, a percepção que os adolescentes têm de si mesmos e a fragmentação que o processo educativo tem dentro do sistema de internação.

   Após dois anos de estudos, de conhecer mais profundamente a realidade vivenciada dos adolescentes, dos professores, pude perceber que Foucault desenvolveu uma teoria que é aplicada e atualíssima até os dias atuais, mesmo com tantas mudanças políticas, históricas e sociais.
   Que os adolescentes que estão em conflito com a lei são “filhos” de um sistema que os gerou, tirou-lhe os seus direitos quer pelas condições sociais, culturais, econômicas que lhe geraram e de uma maneira ou outra procura “abortar” ou escondê-los para que a sociedade não veja o que ela mesma está produzindo e repense o que está fazendo com nse o que está fazendo com estes adolescentes que são sujeitos de direitos.

   Direitos estes que estão sendo tolhidos, pois o Estatuto da Criança e do Adolescente é considerado um documento que é modelo de direitos humanos, mas que na prática não se efetiva, a proteção integral que ele veio para fortalecer e defender, para a preocupação deixar de ser com o menor delinquente, para existir em relação a toda infância e adolescência, que deveriam ser garantidos de forma prioritária, os direitos básicos, visto que é um ser humano em desenvolvimento.

 

* Texto retirado da Dissertação de Mestrado em Movimentos Sociais (UFMT), cujo o título denominado é "O SENTIDO DA EDUCAÇÃO PARA ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI", defendida em 2012 pela Ms.Josiane Tomaz da Silva.

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