Os critérios de avaliação da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são alvo constante de dúvidas e reclamações dos candidatos que participam da prova. Isso porque, no ano passado, textos com trechos de receita de macarrão instantâneo e hinos de time de futebol receberam notas consideradas razoáveis, o que tornou a correção da prova um pouco duvidosa. Pensando nisso, o Ministério da Educação (MEC) divulgou um novo edital, prometendo uma prova mais rigorosa neste ano.
A partir de agora, os mais de 8 mil corretores, contra 5 mil do ano passado, não poderão mais tolerar textos com trechos deliberadamente desconectados com o tema proposto e reincidências de erros gramaticais e ortográficos. Além disso, discrepâncias maiores de 100 pontos na nota final implicarão em uma terceira correção - em 2012, a terceira correção dependia de uma diferença de correção igual ou maior que 200. Também não serão aceitos textos com nota máxima que não demonstrarem total domínio da norma culta da língua.
Na opinião de professores, no entanto, o problema não está somente na metodologia de correção, mas também no processo de treinamento dos profissionais, que, muitas vezes, acabam corrigindo centenas de redações diariamente. Professora de língua portuguesa e redação em escolas e cursos pré-vestibulares há quase 10 anos, Maria Aparecida Custódio acredita que a criação de um novo método de capacitação dos corretores é essencial para o resgate da credibilidade da prova. "É preciso haver um sistema de capacitação mais eficaz, como o treinamento ao longo do ano e a implantação de um concurso para selecionar os professores mais aptos ao trabalho", afirma a professora.
Para o professor avaliador da banca de redação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ex-corretor do Enem, Osvaldo Arthur Menezes Vieira, a correção do Enem é tratada com muita informalidade, o que pode incentivar o avaliador a tratar o trabalho com descaso. "Apesar de minha coordenadora na época ter sido muito presente, as correções são feitas da casa do avaliador, que tem acesso aos pacotes de provas pela internet. Não há como comprovar se é mesmo o professor cadastrado que está corrigindo as provas", conta.
O avaliador ainda afirma que sofria pressão para corrigir mais provas em menos tempo e críticas sobre o rigor que utilizava na correção. "Minha coordenadora me pedia para ser menos rigoroso na hora da correção. Mas na grande maioria das provas que recebi, além de erros de ortografia, encontrei erros gravíssimos na organização sintática das frases, algumas nem pareciam português", desabafa.
Hoje, os corretores da redação do Enem são instruídos através de um curso online, que monitora e avalia os professores em 33 requisitos diferentes. Para serem selecionados para o exame, os professores devem alcançar desempenho maior do que 7, em uma escala de 0 a 10 - diferentemente do ano passado, quando a eliminação ocorria somente com notas abaixo de 5. Os avaliadores ainda passarão a receber R$ 3 por prova corrigida – um aumento de R$ 0,65 em relação às edições anteriores.
Mais de cem redações por dia
Maria Aparecida ressalta que deveria ser restrito o número de redações corrigidos por cada professor, já que "é humanamente impossível corrigir mais de cem redações por dia", fato recorrente na prova do Enem segundo ela. "Muitos avaliadores corrigem mais textos do que são capazes para melhorar a renda no fim do mês. Porém, mesmo se capacitados, acabam perdendo o foco e comprometendo a qualidade da correção", diz.
O Inep informou que existe um limite de correções por dia e que os corretores recebem diariamente, pela internet, um pacote com 50 redações. Caso o corretor consiga corrigir todo o pacote, mantendo a qualidade, ele pode receber outro lote.
Segundo o Inep, a capacitação dos avaliadores em 2013 contará com 28 horas a mais que em 2012. Também foram criadas, neste ano, coordenações regionais pedagógicas para auxiliar no processo de correção, aumentando em 23 o número de coordenadores. Também foram selecionados mais profissionais, aumentando de 5,6 mil corretores em 2012 para 8,4 mil em 2013, e de 230 supervisores para 280 em 2013. O Inep também instituiu uma Comissão de Especialistas para a redação do Enem, formada por nove professores doutores. A comissão realiza estudos e pesquisas sobre avaliação textual, que visam a contribuir no aperfeiçoamento do processo de capacitação dos corretores.
Ainda na segunda quinzena de agosto, será publicado o Guia do Participante 2013, contendo análises de redações que obtiveram a nota máxima. O guia também aprofundará as orientações gerais de realização da prova que estão publicadas no edital. Dominar a escrita formal da língua portuguesa em um texto dissertativo-argumentativo e relacionar conceitos de várias áreas do conhecimento com o tema proposto contam pontos na correção da prova. O aluno também deve defender um ponto de vista por meio da argumentação e elaborar uma solução para o problema abordado, que respeite os direitos humanos.
Já pensou nos temas que podem cair no ENEM neste ano? Fala ai...
Comments
Enem e Vestibulares
Fantática iniciativa!!