A escola que temos. A escola que queremos.
O texto apresenta uma análise das possibilidades e dificuldades apresentadas pelo Ensino Médio do Colégio Estadual Professora Reneé Carvalho de Amorim -EFM., frente à implantação de uma proposta interdisciplinar, em que pese alguns fatores como a prática docente e interdisciplinaridade, as dimensões e sua abordagem dentro desta construção, as atividades de cunho interdisciplinar que são desenvolvidas pelos docentes. Integram também o texto reflexões realizadas pelos docentes, quanto ao aluno que formamos e aquele que queremos formar partindo da concepção de um currículo interdisciplinar em contradição à opção do currículo disciplinar proposto em nossas DCE's.
Cursistas:
Adriani Felizardo
Andrea Lemanczuk
Amauri Batista Reis
Eliane Feldhaus
Mari Jane Mariano
Silvana Mara Lourenço da Rosa
Oorientadora de estudos: Rodirceia Adriano dos Santos
Áreas do Conhecimento e Integração Curricular – Caderno IV
A escola que temos. A escola que queremos!
Após as leituras e debates realizados sobre o caderno quatro, que trata das dimensões presentes nas Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio, o grupo de professores compreende existir necessidade em relacionar os saberes aprendidos na escola aos sujeitos para os quais ela se destina. Para isso acontecer, julgam importante se repensar a organização curricular hoje presente em nossa escola, aliando a isso conteúdos e práticas que contemplem os interesses, identidades, culturas e demandas de nossa juventude. Buscar a formação do cidadão em sua plenitude passa, obrigatoriamente por uma nova organização curricular.
Percebem, ainda sobre o currículo, um isolamento e hierarquização entre as áreas do conhecimento, de saberes e práticas. Atribuem tal condição ao fato de ainda trabalharmos em uma realidade conteudista, onde são levados em consideração critérios de quantidade, ao invés de qualidade. Apontam a extrema necessidade de mudança na proposta para o Ensino Médio, objetivando a melhoria na qualidade do ensino e aprendizagem. A integração de áreas, a disciplinaridade e a interdisciplinaridade, hoje, não deixam de estar presentes nas salas de aula, mesmo não havendo uma organização dos conteúdos realizada desta maneira. Porém, acreditam que a proposição de construir uma proposta baseada no diálogo entre as disciplinas e naquilo que cada uma possa estar contribuindo com a outra, utilizando-se o viés das dimensões curriculares do trabalho, ciência, cultura e tecnologia, possa dar um novo sentido aos saberes produzidos pelos alunos e passados pelos docentes.
Algumas das dificuldades na organização e aplicação de uma proposta interdisciplinar, construída pela integração das áreas passam diretamente pela organização do tempo e espaços da escola. A mais aparente destas dificuldades é conseguir reunir docentes das diversas disciplinas para dialogarem quando o quadro da escola é formado por grande número de professores que ministram aulas em duas ou mais escolas. Conseguir reuni-los e gestar tempo suficiente a fim de que organizem aulas e conteúdos que possam ser operacionalizados em conjunto é o maior entrave.
Outro fator que dificulta essa organização é a própria fragmentação de conteúdos em disciplinas específicas, que possuem muitos pontos em comum, mas que os apresentam em momentos distintos no correr do ano letivo. Reorganizar essa disposição de conteúdos implica tempo e revisão de paradigmas, como o que é necessário aprender primeiro? Quais são os pré-requisitos para o domínio de determinados conteúdos em uma disciplina que podem ser trabalhados concomitantemente com outra? Quais critérios elencar para orientar essa reorganização? E, claro, como reunir os docentes para levar a cabo tal proposta?
Segundo o parecer nº05/2011 do Conselho Nacional de Educação, o Ensino Médio, como última etapa da educação básica, deveria preparar o aluno para o exercício da cidadania consciente, dotando-o de autonomia intelectual para discernir, através dos conhecimentos historicamente acumulados e daqueles que produz, qual a formação profissional que deseja seguir, bem como prepará-lo para o exercício pleno da cidadania. Entende-se, portanto, que a escola não pode restringir-se somente a formar cidadãos, nem tão somente profissionalizar, mas sim integralizar ambas as perspectivas através de práticas, conteúdos e metodologias que despertem o interesse, a motivação do aprender, o conhecer para mudar, modificar. Dos textos estudados anteriormente e dos que agora se apresentam, compreende-se que, por esse ponto de vista, explanado no parecer, e pelos indicadores demonstrados nas avaliações de larga escala, não estamos conseguindo realizar, a contento, nenhuma das atribuições dadas à escola no que concerne a formação dos alunos do E.M. Com, então, mudar a escola que temos para chegar à escola que queremos?
Uma das primeiras notações de nossos docentes foi perceber que as dimensões, como estão expostas nas DCNEM não estão sendo articuladas de maneira satisfatória em nossas salas de aula. Urgente é que se busque a interação entre as dimensões, lançando um novo olhar no modo como ensinamos e no que queremos que nossos alunos aprendam.
Levá-los a entender as transformações pelas quais passa nossa sociedade, com o crescimento econômico, o volume de informações às quais têm contato constantemente, e como trabalhar essa informatividade a seu favor, sem perder o foco ao que realmente é necessário; à construção do conhecimento através da pesquisa, experienciação e da síntese, deixando de dar receitas prontas, estimulando o gosto pela observação, análise e produção de novos sentidos; ao conhecimento do mundo do trabalho e suas perspectivas, reais habilidades e potencialidades, esquecendo o que este aluno pode vir a ser, partindo daquilo que ele é e pode desenvolver, são algumas das constatações relacionadas como possibilidades na mudança de postura dos educadores, enquanto mediadores do conhecimento e seus destinatários. Principalmente, estímulo à pesquisa e ao saber construído.
A partir das conclusões inferidas, também compreende-se que muitas das práticas hoje presentes em nossas escolas servem muito mais à reprodução, deixando pouco espaço para a realização autônoma de nossos educandos. Até mesmo na organização dos espaços estas práticas se revelam. Quando de discussões anteriores observou-se, por exemplo, o combate ostensivo que nossas instituições realizam a certas atitudes e hábitos do alunado, especificamente, o uso do celular em sala. Diante do quadro deficitário de recursos que muitas escolas possuem, restringir seu uso, se não arbitrário, poderíamos dimensionar o não aproveitamento de algo que pode sim ser extremamente útil quando determinado seu uso. Professores reportam o uso do celular em pesquisas nas áreas de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Química e Matemática. Para aquém do entendimento do aparelho como entrave, este pode ser um recurso acessível e plenamente condizente com o desenvolvimento de trabalhos em classe, orientados pelo professor.
Disciplinas como História, Química e Matemática demonstraram trabalhos práticos onde o conteúdo interdisciplinar se fez presente. Há, porém, ainda a falta de comunicação entre os docentes, buscando o auxílio do colega para que esta interdisciplinaridade se efetive. Todos os docentes dão a entender que já a realizam em suas aulas, porém sem o auxílio do outro e seu um planejamento prévio juntamente com outras disciplinas. Fato é que, não raras vezes, o aluno acaba por ver um mesmo conceito de formas diferentes, conforme a área do conhecimento que o trate. Obviamente que todas as disciplinas possuem suas especificidades, porém, após organizarmos um mapa conceitual com o tema "Água", todos puderam visualizar como suas disciplinas se interligam e possuem características e conteúdos em comum. Fatores estes que podem ser trabalhados conjuntamente, aumentando o aproveitamento do tempo disponibilizado às aulas.
Acerca disso, uma das discussões que mais chama a atenção, além dos conteúdos em comum, é exatamente a carga horária de aulas que cada disciplina possui na grade do E.M. Analisando dados das avaliações de larga escala e as escolas que possuem bom desempenho nelas, observa-se que várias possuem carga diferenciada, havendo, quando não dentro do horário do aluno, em contra turno, atividades extracurriculares que desenvolvem projetos paralelos nas várias áreas do conhecimento. Sai destes dados a constatação de que o estímulo à pesquisa passa obrigatoriamente, por uma revisão das horas destinadas ao trabalho desenvolvido em classe e extras que auxiliam no desenvolvimento de boas práticas para além do espaço escolar: projetos desenvolvidos junto à comunidade desenvolvem o protagonismo juvenil e abrem novas possibilidades de aprender e empreender. Atividades pautadas no desenvolvimento pelo esporte, pela participação política, em grupos comunitários de preservação da cultura do município, ou ainda aqueles desenvolvidos junto às associações de bairro, entidades filantrópicas ou religiosas, onde o educando pode praticar sua cidadania, contribuem para aumentar o interesse pela continuidade e melhoria da educação escolarizada. Contribuem também para a formação da cidadania colocada em prática e para o respeito à diversidade.
Por fim, atrelada a todos esses indicadores e conclusões está a disponibilidade: seja a da escola, em abrir seus espaços (quando os possuir), seja dos alunos em participar, seja do professor em ir além da prática em sala, da equipe diretiva da escola em apoiar iniciativas que claramente contribuam para a permanência e sucesso escolar, seja dos órgãos e entidades vinculadas à comunidade escolar, secretarias de educação, núcleos regionais, ONG´S, entidades públicas e privadas. É responsabilidade de toda a sociedade suscitar, em nossos alunos, o gosto pelo estar na escola, pelo intervir positivamente na realidade a fim de modificá-la, expressando a utilidade do conhecimento apreendido em prol da comunidade, pela realização, enquanto sujeito ativo dos processos históricos de sua época, pelo criar, e não simplesmente reproduzir, como sujeito dotado de possibilidades que é. É dever de toda a sociedade garantir o direito que cada aluno e aluna de nossas escolas têm em ter acesso ao saber acumulado historicamente e aos meios de se desenvolver, enquanto cidadão inserido social e culturalmente no seu tempo e espaço.
Referências bibliográficas:
BRASIL. INEP: Instituo Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Estatísticas IDEB 2011. Brasília, 2011. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb/planilhas-para-download> Acesso em 25/10/2014.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer 05/2011. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, D.F: D.O.U em 24/01/2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República: Reestruturação e expansão do ensino médio no Brasil. GT Interministerial instituído pela Portaria nº. 1189 de 05 de dezembro de 2007 e a Portaria nº. 386 de 25 de março de 2008. Brasília, DF: julho, 2008. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/2009/gt_interministerialresumo... Acesso em: 03/11/2014
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de Professores do ensino médio, etapa I, caderno IV. Curitiba: UFPR, Setor de Educação, 2013.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares Estaduais para a disciplina de Filosofia. Curitiba, 2008.
- Logue-se para poder enviar comentários