Colégio Professora Iara Bergmann - Quadro geral do ensino médio: o que nos dizem os indicadores sociais

Colégio Professora Iara Bergmann
Desafios para o ensino médio
Quadro geral do ensino médio: o que nos dizem os indicadores sociais

Segundo os dados levantados a partir de um questionário socioeconômico e cultural repassado aos alunos do Ensino Médio Noturno e Diurno do Colégio Iara Bergmann, podemos traçar um perfil da realidade e suas vivência e das expectativas e interesses, além da sua condição social e econômica.
Analisando as porcentagens conseguimos identificar algumas diferenças sociais, econômicas e culturais; dentro da mesma comunidade, sendo a nossa escola de periferia, e em sua maioria os alunos moram nos arredores até porque a região não possui uma grande quantidade de linhas de ônibus.
Com relação à renda podemos identificar que: os alunos do diurno se diferenciam dos alunos do noturno principalmente na renda pessoal onde aproximadamente 75% dos alunos do diurno não possuem renda, em contrapartida no noturno em média 50% dos alunos possuem renda pessoal de até um salário mínimo. Além disso, o numero de alunos que trabalham ou já trabalharam também apresentam uma diferença grande entre os turnos; no diurno, 72% dos alunos nunca trabalharam e 82% não estão trabalhando atualmente, já no noturno 89% dos alunos estão trabalhando, destes alunos 70% só trabalham por que acham importante possuir uma independência financeira e o trabalho surgiu na vida deles principalmente entre 14 a 16 anos (para 82%).
Os alunos do noturno avaliaram que o trabalho juntamente com o estudo possibilitou seu crescimento pessoal e não consideram o trabalho como um obstáculo para continuar estudando.
Os alunos em geral consideram a relação de estudo e trabalho estreita; para os alunos o estudo, ou é um meio de arranjar um emprego ou um meio de melhorar profissionalmente. Mas é principalmente no noturno que a preocupação com a qualificação profissional fica mais evidente, pois quando perguntamos, quanto tempo é dedicado ao estudo diariamente, 29% dos alunos do noturno reservam pelo menos uma hora para estudos e 33% nenhuma hora mesmo sendo menor a porcentagem daqueles que se dedicam fora da escola ela fica gigante se compararmos os dados com os alunos da manhã que supostamente teriam mais tempo para dedicar-se aos estudos e leituras, pois 82% do total não reservam se quer uma hora para estudos diários além dos “dedicados” em sala.
Os dados com relação à área socioeconômica familiar sofre um giro de balanças, com pontos semelhantes e não, por exemplo: a quantidades de pessoas que moram na mesma casa (de 4 a 7 pessoas), é a realidade de 51% dos alunos do diurno e 70% dos alunos do noturno, a quantidade de cômodos que possui a residência (de 3 a 4 cômodos somando quartos e salas), é 41% nas casas dos alunos do diurno e 44% dos alunos do noturno que é consideravelmente pequena com relação ao número de pessoas que residem nelas. A renda familiar dos alunos do diurno encontra-se em torno de 1 a 3 salários mínimos para 72% dos alunos e no período noturno a renda familiar sobe um pouco as famílias ganham em torno de 3 a 6 salários mínimos em pelo menos 52% das famílias.
No quadro sobre escolaridade dos responsáveis que supostamente influenciaria nas escolhas dos filhos é bastante divergente entre períodos; no período diurno a escolaridade dos pais é superior à escolaridade das mães, os pais com ensino médio são 27%, assim como 27% também são os que têm até a 8ª série, já as mães dos alunos do diurno que possuem apenas à 4ª série considerada a maior porcentagem é 34%. No noturno o tempo final de escolaridade entre pais e mães é o mesmo, concluíram a 8ª série, o que muda é o percentual; onde pais estão entre 44% e mães são apenas 37%.
O acesso à tecnologia e comunicação de mídia é igual nos dois períodos, pois 96% dos nossos alunos possuem computador em casa. O acesso a livros fora da escola é relativamente baixo se pensarmos que a leitura é uma das principais formas de acesso ou de acumulo de conhecimento, experiência e criatividade e que esse tipo de importância é mostrado incansavelmente pelos professores e pelas grandes mídias. Quando questionamos quantos livros os alunos possuem em casa obtivemos a resposta que: 60% do período noturno possuem de 1 a 10 livros e do período diurno apenas 48% a mesma quantia. A televisão continua sendo o meio de comunicação mais usado como a principal fonte de informação 55% para alunos do diurno e 60% para os alunos do noturno.
O lazer não está relacionado à cultura para os nossos alunos do diurno, pois 31% escolheram o shopping como lazer preferido, no noturno a visão de lazer é outra e fica dividida entre cultura e diversão, 33% dos alunos consideram o cinema como seu lazer preferido e com o mesmo percentual fica a “baladinha”.
Um dado interessante constatado sobre assuntos polêmicos é que; 89% dos nossos alunos tanto do período diurno quanto do noturno não participam de nenhum programa social do governo (federal, estadual ou municipal) sendo assim nossos alunos do Ensino Médio não são beneficiados com o dito “paternalismo do governo brasileiro” com suas diversas bolsa e auxílios à classe baixa brasileira, mesmo sendo a comunidade formada por cidadãos da classe baixa. As discussões sobre o direito ou o dever; a existência ou não desses programas sociais inflamam multidões, provocam manifestações até mesmo vexaminosa em nossa sociedade.
  Vexaminoso é descaso com a educação e com a escolaridade é o que vem acontecendo nas escolas com o Ensino Médio (não só com o Ensino Médio), esse descaso é com os alunos que frequentam e com os professores que lecionam, e para ser sanado não é necessário apenas uma nova Matriz Curricular mesmo sabendo que a atual é ultrapassada ou incapaz de suprir os desejos e ansiedades dos jovens que buscam uma formação humana e integral. Os diversos discursos pré-fabricados onde se diz que a escola possui métodos obsoletos e arcaicos é verdadeiro. Há filósofos, estudiosos, graduados, pós-graduados, mestrados e doutorados que afirmam que os professores deveriam trazer para suas aulas o mundo da tecnologia, o mundo virtual, eles estão todos certos. Até mesmo aquele discurso em que se afirma que geração “Y” acha (pois só podem ficar no “achismo”) que a escola é chata também é verdadeiro, e se eles tivessem acesso a todos os avanços das tecnologias e das mídias na escola isso a tornaria um ambiente mais legal. Mas todos esses e outros discursos se perdem na realidade e na má infraestrutura das escolas públicas espalhadas pelo Brasil.
A realidade da nossa escola é que temos mais de 550 alunos só do Ensino Médio divididos em dois períodos em 16 turmas, fora os alunos das séries do Ensino Fundamental divididos em três períodos, 37 turmas com 1.199 alunos. Para entender melhor o descaso, a nossa escola hoje tem um total de 1.770 alunos divididos em 54 turmas, por três períodos. Para um professor oferecer uma aula a alunos que precisam de uma formação humana e integral, que necessite utilizar as mídias e tecnologias atuais ele e mais 35, 40 alunos teram a sua disposição  apenas dois computadores funcionando, num laboratório que já foi montado com máquinas ultrapassadas, e que hoje não recebe manutenção, ou seja, a aula afundará com poucas chances de sobreviventes tal qual o Titanic.
As salas de aula nunca estão com o numero mínimo proposto, sempre trabalhamos com o numero máximo, turmas que desafiam a lei da física onde se afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. As televisões já não nos permitem trabalhar com todas as imagens e vídeos, além de também estarem precisando de manutenção, o que não ocorre. Se consultarmos a escola no portal dia-a-dia educação saberemos que a última reforma autorizada com verbas do fundo rotativo aconteceu em 2009 e já estamos em 2014. O nosso laboratório de ciências ainda é o ambiente diferente da sala de aula mais utilizado juntamente com a biblioteca e mesmo assim nosso laboratório de ciências possui mais recipientes do que objetos científicos e sem deixar de falar é claro no ambiente destinado a arte que comprovadamente é essencial para o desenvolvimento integral e humano de qualquer ser humano, ambiente esse que não existe em nossa escola, pois não temos onde e nem como o fazer. As brigas burocráticas entre secretarias e núcleos de educação, medindo forças para ver quem manda mais ou menos, trava os processos e pedidos de reparos, reformas, revisões de verbas, turmas, turnos e alunos, por dias, meses e até mesmo anos.
O investimento em infraestrutura tem que ser já e igual para todas as escolas, mesmo aquelas que possuem baixos índices nos inúmeros testes, provas e estatísticas inventadas e reinventadas pelos governos, pois a escola está inserida numa sociedade que é composta por indivíduos distintos com realidades, rendas e estruturas familiares diferentes, por que não dizer diferentíssimas. A estrutura precisa melhorar muito, até mais que qualquer mudança curricular. É necessário pensar e entender que pra se ter uma escola que possa formar cidadãos, críticos, trabalhadores ou não é necessário especialmente que se tenha um e ambiente que seja melhor que a “lan-house” ali da esquina.
E acima de qualquer matéria, disciplina ou conteúdo, dias letivos, reavaliações e mudanças curriculares precisamos investir na leitura, na leitura por prazer ou na leitura técnica, na leitura como chave fundamental para termos acesso e garantir o conhecimento, na leitura formal, de imagens, de dados estatísticos, na leitura racional e emocional; para garantir aos jovens uma formação humana e integral.

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imagem de JUAN UBALDO ORTIZ ZARACHO

Mudanças na educação

Parabéns professora pelo levantamentos dos dados e comentários. Se quisermos uma ação efetiva visando a mudança na educação devemos conhecer a realidade de nossos alunos. 

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